Muito além da luta do bem contra o mal Por Luciano Morais, advogado e militante do PT O debate político, no Brasil, cada vez mais assume a aparência de um confronto entre pessoas, e não entre ideias, com a radicalização amplificada de modo muitas vezes oportunista de grande parte da mídia corporativa, ideológica e politicamente associada à direita.
E esse debate quase sempre está polarizado, num jogo falso entre o suposto bem e o suposto mal em busca de conquistar os corações e mentes dos brasileiros.
A radicalização à direita da atual oposição trouxe uma oportunidade ímpar de posicionar no campo da luta social e popular um governo que vinha sempre se colocando à disposição para conciliar, pois a própria direita havia trazido para a seara eleitoral elementos da luta de classe, denunciando o PT pelo ódio de classe despertado no Brasil com a mobilidade social e o acesso ao consumo pelas classes menos favorecidas durante seu governo.
Tal mudança inquietou a elite reacionária, com base histórica e social na mentalidade escravocrata, a qual tem verdadeira ojeriza aos pobres em aeroportos, nos cursos de Direito e de Medicina, aos beneficiários do Programa Bolsa Família, ao PROUNI, além do financiamento da casa própria no Programa Minha Casa Minha Vida.
Políticas que reduziram sobremaneira a dependência dos empregos e salários precários.
Mas a sanha elitista encontrou na resistência popular uma barreira intransponível, capaz de derrotar a aliança dos meios de comunicação e das alas conservadoras da economia e do capital financeiro, os quais fizeram por meio das candidaturas de Aécio Neves e Eduardo/Marina um terrorismo eleitoral jamais visto no Brasil.
Mas, vitoriosa a campanha petista, algo já havia avançado, mas não foi percebido pela esquerda militante.
O povo queria de fato uma mudança, mas uma mudança à esquerda.
Uma radicalização democrática para fazer avançar conquistas sociais.
No entanto, contraditoriamente, haviam constituído juntamente com o novo mandato conferido à presidente Dilma Rousseff um Congresso Nacional bastante conservador e fisiológico.
E por que não dizer chantagista?
Não conformada com a derrota nas urnas, a direita, em parceria com os principais meios de comunicação, vem promovendo uma cobertura sensacionalista das investigações contra a corrupção, num combate seletivo, haja vista a tendenciosa manipulação de informações direcionada invariavelmente ao PT e ao governo Dilma, buscando até instigar o indefensável impeachment da presidente.
Certamente sabem ser inviável a retirada da presidente pela via legal.
E nem deve ser exatamente esta a intenção.
O que ficou bem claro com as votações polêmicas colocadas na pauta a toque de caixa referentes a dois projetos de Leis apreciados pelo Congresso Nacional: a famigerada PL 4.330/04, que abandona os limites da terceirização, autorizando a contratação de empresa interposta na atividade fim e em qualquer área da produção, aumentando sobremaneira a precarização das relações de trabalho, e a insensata redução da Maioridade Penal, através da PEC 171/93, numa clara afronta ao artigo 228 da Constituição Federal, até então considerada cláusula pétrea.
A ação meticulosa da direita, mancomunada com setores da mídia, enfraqueceu o governo, superdimensionado a crise econômica e acentuando uma crise política para, a partir daí, promover um tenebroso pacote de mudanças nocivas ao Estado brasileiro e à população, e, principalmente, à dignidade da pessoa humana dos trabalhadores e das demais classes menos favorecidas.
A forma tendenciosa como a mídia agiu depois da confirmação dos fatos que vinham sendo especulados com as denúncias de corrupção na PETROBRÁS estarreceu a todos.
Foram confirmados números astronômicos que dificultaram o reconhecimento das cifras, mas a confirmação dos principais envolvidos parece que frustrou aqueles que pretendiam fazer uso político desse escândalo contra o recém-renovado governo do PT, e provocar, ao velho estilo golpista, um terceiro turno das eleições, a ser conquistado através da superexposição dos fatos da Operação Lava-Jato nos noticiários e demais espaços televisivos, especialmente na Rede Globo.
Neste sentido, mais de dois terços dos políticos envolvidos e o principal delator são ligados ao PP - Partido Progressista, inclusive o Deputado Federal Eduardo da Fonte, denunciado como operador do esquema na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e em nome do próprio partido.
Mas a condição de líder de um esquema de corrupção dessa magnitude não tem repercutido na mídia, nem mesmo depois da explosão de outro escândalo de corrupção, o da Receita Federal, que envolvera Francisco Maurício Rebelo de Albuquerque Silva, pai de Eduardo da Fonte, num esquema de sonegação bilionário, onde os crimes já denunciados envolvem o desvio de aproximadamente R$ 2,1 bilhões, enquanto os prejuízos podem chegar a cerca de R$ 5 bilhões, nem mesmo isso foi capaz de romper o silêncio dos principais meios de comunicação.
Como se não bastasse o envolvimento nesses esquemas de corrupção, a família “da Fonte”, nome sugestivo para quem saqueia os cofres públicos, parece ter encontrado uma fórmula eficaz para evitar as garras da “impiedosa imprensa” local e nacional, que faz um jornalismo investigativo de forma seletiva e com inclinação classista e partidária.
Sobre esses corruptos, o que temos na imprensa é o silêncio e uma tendenciosa cautela, supostamente baseada na presunção de inocência conferida apenas aos comparsas da mesma laia.
A ofensiva golpista tem matado inicialmente a razão, ressuscitando o irracionalismo fascista do passado, atribuindo ao período das denuncias, investigações e punições dos corruptos e corruptores, o peso de um tempo arbitrário, caracterizado pelo desmando.
O prejuízo do PT ter abandonado a formação de representantes políticos com histórico de luta oriundos de uma base social, traz um grande desfalque no surgimento de uma consciência política, em bandeiras históricas de luta, e, principalmente, numa demanda concreta.
Não há como seguir adiante e recuar nas conquistas sociais.
A sociedade deve resistir.
O momento exige uma reinvenção nas formas de luta, mas somente aqueles que optam pela luta como ferramenta de conquista poderão superar a desconfiança com a classe política.
Caberá ao PT apenas resistir e defender as aspirações de sua base social e o que resta no imaginário popular, ou capitular diante da possibilidade de ser apenas um partido da ordem burguesa que renunciou as bandeiras históricas.