Por Fernando Castilho, da coluna JC Nengócios, especial parta o Blog de Jamildo Guilherme Uchoa se elegeu “na tora” dando um “chega pra lá” nos candidatos a presidente da Assembleia Legislativa que foram pedir a benção ao novato governador de Pernambuco.

Paulo Câmara, antes de tomar posse, já sabia que teria de conviver com um presidente do Legislativo que não lhe daria satisfações.

Mas fazer o que?

Manda a sabedoria popular que não se briga, em privado, com quem pode lhe pegar “às traição” na rua.

Paulo Câmara percebeu isso e ficou na dele.

Sabia que a sua base aliada respeita muito o velho presidente, fiel escudeiro do líder Eduardo Campos em vida.

Uchoa se elegeu (ou melhor: ré, ré, ré, reelegeu-se) parecendo uma espécie de Eduardo Cunha pernambucano.

Até que a OAB cumpriu o prometido e entrou na Justiça contestando sua eleição 5.0.

Juiz de carteirinha, com currículo de sucesso em diversas varas do TJPE, Uchoa sabe melhor do que toda sua assessoria jurídica que poderia ser apeado do cargo.

Mas e daí?

Se ninguém apresentasse uma boa petição e sem que um juiz novato não contestasse poderia tirar mais um mandato.

O que Uchoa não contava era com a decisão de uma juíza novata em cima de uma petição mais ou menos da OAB.

E foi o que deu.

A juíza Mariza Borges, da 3ª Vara Civil da capital mandou Uchoa sair do cargo destruindo, numa canetada, seu prestígio como presidente de um poder.

Começou então a derrapada do motoqueiro de final de semana.

O problema de Uchoa não é contestar da juíza.

O problema é resolver logo esse problema pois se optar pelo o caminho normal, viraria mais um desses parlamentares “meia boca” sub judice que quando dizem alguma coisa mais forte todo mundo lembra que está “pendurado” na Justiça.

Isso é demais para o velho magistrado.

Imagina um deputado mal criado num debate mais acalorado dizer: conversa, presidente, quem sabe de sua vida é a juíza Mariza Borges!

Foi por isso que Uchoa foi pedir socorro ao Procurador Geral do Estado, Antônio César Caula Reis que, como se sabe deve obediência constitucional ao governador Paulo Câmara. É o servidor público encarregado de defender os interesses do Estado de Pernambuco.

Tecnicamente, diz a lei, a PGE defende em juízo os três poderes e assim o procurador pode interpor um recurso ao presidente do TJPE de modo que a análise do pleito sobe direto para ele que decide se cassa ou não a liminar de um juiz singular.

Era tudo que Paulo Câmara queria.

Esse é o tipo de favor que todo governador quer fazer a um presidente de Assembleia Legislativa.

Se o TJPE, presidido por Frederico Neves, mantiver Guilherme Uchoa no cargo, Paulo vai ficar no crédito.

Tipo: olha você só continua lá, porque eu pedi.

Se dependesse de sua Assessoria Jurídica você teria que se afastar até que o processo fosse apreciado pela juíza Mariza Borges.

Dito de outra forma: você me deve essa, amigo velho.

Só que do outro lado também tem uma questão de interesse o TJPE.

A oportunidade de fazer uma gentileza ao governador.

Exatamente no momento em que o Tribunal briga com o governo do Estado para lhe devolver os R$ 100 milhões que a secretaria de Planejamento lhe cortou do orçamento de 2015.

Como se sabe, o presidente do TJPE, Frederico Neves, queria esse dinheiro para reforçar seu caixa e ainda para manter suas obras e entregar o prédio da Escola da Magistratura e mais dois ou três prédios sedes de comarcas importantes.

Frederico Neves chegou a trocar notas duras com o governador se queixando publicamente.

Saiu mal na foto pois Paulo Câmara estava dizendo que não podia dar R$ 100 milhões ao Judiciário porque não estava dando nada aos professores em greve.

O presidente do TJPE aguentou calado as críticas que recebeu nas redes sociais até que lhe caiu no colo a petição do procurador Caula Reis pedindo sua atenção para Guilherme Uchoa.

Era tudo que ele queria.

Tipo: olha, governador, o senhor me cortou o orçamento, mas eu lhe atenderei mantendo seu correligionário na frente da Assembleia Legislativa.

Apesar de tudo que estou sofrendo aqui na casa, eu vou lhe atender.

Tudo isso é claro que vai depender do texto da Procuradoria e se o arrazoado se sustentar.

Nem o procurador nem o desembargador querem ter um mínimo de risco de que o STJ conteste os dois e decida que a juíza Mariza Borges tem razão.

Se Guilherme Uchoa for mantido no cargo cada um vai ficar devendo uma homenagem aos dois: Paulo Câmara e Frederico Neves.

Mas neste caso indiscutivelmente quem mais perdeu foi Guilherme Uchoa que derrapou na curva da OAB e teve que pedir ajuda a Paulo Câmara e ainda depender a caneta do desembargador.

Para quem achou que tinha mais força na Assembleia Legislativa de Pernambuco que Eduardo Cunha na Câmara Federal ficou mal para o motoqueiro fantasma.