Fotos/Blog Imagem Por Jamildo Melo, editor do Blog O presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Marcos Leôncio, criticou duramente o procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, em visita ao Recife, nesta sexta-feira, onde veio divulgar a campanha da entidade por mais autonomia para o combate ao crime organizado e a corrupção. “Em Curitiba (na operação Lava Jato), tudo funciona às mil maravilhas, cada um respeita o papel do outro.
Mas, em Brasília, nós temos um problema particular no STF.
Janot colocou na cabeça que a Polícia Federal é dele, que vai fazer o que ele manda, o que ele quer.
Janot colocou uma estrela no peito e agora pensa que é o delegado da PGR”, afirmou o presidente da ADPF.
Na avaliação dos policiais, Janot quer ter o controle total da operação no âmbito do STF, que julga os políticos com foro privilegiado, e isto acabaria atrapalhando o avanço das investigações. “A PF é obrigada a cumprir as orientações do MPF sim, mas a forma e o melhor momento quem sabe é o investigador.
Além das sugestões (dadas pelo MPF), podem haver outras.
O Janot não aceita.
Tem que ter o controle total.
Se a gente trabalha por mais autonomia, se não quer ser subordinado a um partido, vai querer do MPF?
Isto não existe.
Uma instituição não controla a outra.
O que é mais grave é que esta postura parte de uma pessoa, a maioria dos procuradores pelo Brasil não aceita isto”, diz.
Entre os delegados, causou muito mal estar a divulgação na internet, pelo MPF, de como deveriam proceder na apuração do caso, no âmbito federal. “Antes de nos mandar, ele publicou na internet.
Deu publicidade à investigação.
Os advogados (de defesa) agradeceram”.
Em entrevista logo cedo no Recife, a prisão do ex-deputado André Vargas também foi usada para criticar o procurador geral, em meio à crise entre as duas instituições. “Janot levou mais de um ano e o que fez foi oferecer uma lista ao STF.
Olha que o Congresso é lento, mas o André Vargas teve tempo de perder o mandato, deixar a Câmara, para ser preso.
Na cabeça do Janot, a PF deveria ficar só vendo fitas de vídeo e ouvindo depoimentos. É esse homem que quer dizer o que a PF deve fazer?
Nesta hora, já apagaram os vídeos (de prédios, escritórios, hotéis)”. “Vou dizer uma coisa a você.
A briga do Janot com a PF ocorre porque a PF apresentou ao STF (ministro Teori Zavascki) uma série de informações que ele não pediu.
Ele está chateado porque a PF não ficou fazendo apenas as diligências inócuas que ele orientou.
O melhor era ele pegar o inquérito e fazer a investigação, colhendo os frutos bons ou não disto”, afirmou.
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Na altura que vai, Janot ainda vai acabar sentando na cadeira de delegado geral da PF.
Se chamaram a gente para trabalhar, deixem a gente trabalhar.
Nós sabemos o nosso trabalho.
No mensalão foi assim.
Ele faz o que tem que fazer, cuidando do processo.
Nós cuidamos da investigação.
O que acontece é que ele botou uma estrela no peito e acha que é o delegado do MPF”, ironizou o dirigente classista.
Operação Colonos Marcos Leôncio lembrou uma operação de investigação da PF sobre as fraudes no Pronaf em Santa Cruz do Sul (RS), batizada como Colonos, como exemplo da atuação de Janot. “Nós perdemos a operação Colonos por causa do Janot.
Ele dizia que operações em períodos eleitorais podem causar prejuízo.
A operação vazou e foi tudo perdido”, afirmou.
Em outubro de 2014, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal) para determinar à Polícia Federal que devolva todos os mandados de busca e apreensão já emitidos pelo STF a pedido da própria PGR e até agora não cumpridos referentes à Operação Colono, uma investigação da PF sobre as fraudes no Pronaf em Santa Cruz do Sul (RS).
A PGR alegou ao STF que as medidas não se justificam mais, pois informações sobre a operação foram parar na imprensa no início de outubro.
Com essa decisão, casas e escritórios de investigados no inquérito não serão mais vasculhados pela PF, que também não fez apreensão de documentos, computadores e equipamentos usados para guardar arquivos digitais.
Na prática, o inquérito continua em tramitação no STF, mas não haverá as apreensões pedidas pela PF.
Outra área de atrito pode ser a PEC, que na avaliação da PF não tira poder do MPF. “Não queremos controle exclusivo, queremos vários controles”, ironizou mais uma vez”. “Na lógica de Janot, nós não podemos ter autonomia se ele pretende mandar na PF.
Simples assim.
Ficamos tristes pois poderia ser um aliado importante nas discussões com o Congresso.
Por isto, nós decidimos fazer esta campanha nacional explicando a busca por mais autonomia”, explicou.