Livro em tempos de cólera Por Roberto Vieira, especial para o Blog de Jamildo Eu e Carlos Henrique autografávamos o livro 2001, A ODISSEIA DOS AFLITOS.
Morteiros explodiam detrás de nós.
Gritos de guerra.
Vietnã?
Mais autógrafos e o aviso de que a Avenida Rosa e Silva estava paralisada.
Palco de guerra.
Mais morteiros.
Gritos de guerra.
Cânticos da torcida organizada.
Imaginei-me entre as tribos dos Balcãs.
Sérvios, montenegrinos, bósnios.
Alguém deu o primeiro murro no vidro atrás de nós.
Um morteiro explodiu do outro lado da parede.
Alvirrubros atacando alvirrubros que escreviam um livro sobre o clube.
Alvirrubros procurando um culpado para o rosário de derrotas dos últimos anos.
Alguns seguranças da TIMBUSHOP buscavam conversar com a turba enraivecida.
Eu me perguntava já com certa ironia: cadê a Polícia Militar de Pernambuco?
Começaram os ataques definitivos contra os vidros da loja.
Caso os vidros não resistissem, vidros e turba passariam por cima de nós.
Carlos continuou dando autógrafos e eu também.
Parecia uma comédia macabra conosco e com os convidados.
Uma noite de autógrafos prestes a se transformar em tragédia sob registro de algumas câmeras de televisão e nenhum policial.
Avançam sobre a porta.
Mulheres presentes se refugiam perto do depósito da loja.
Estamos literalmente cercados.
Nenhum sinal de resistência por parte do Clube Náutico Capibaribe.
A centenária instituição virou terra de ninguém.
Sarajevo.
Acabam-se os autógrafos.
Todos se unem na espera do desfecho inevitável da invasão.
Mas os vândalos são violentos mas não são tão tolos assim.
O resultado de um passo adiante seria fatal.
Como ninguém esboçou uma expressão de medo dentro da loja criou-se o impasse.
Pedem Kuki na ausência de qualquer dirigente.
E Kuki sai com Rubinho para dialogar com a massa de adolescentes e pós-adolescentes de fascio na mão.
Vou até junto da conversa.
Quero ouvir o diálogo na fronteira de Roma sitiada.
Imaginem um Papa versus Átila, o Huno?
Chegou um carro da polícia.
Quatro câmeras de televisão filmam o encontro.
No final, todos cantam PARABÉNS PRA VOCÊ!
Improvisa-se um N-Á-U-T-I-C-O que dá certo.
Um monte de selfies é tirada com Kuki.
Acabou-se a noite de autógrafos.
Felizmente não levei meus filhos.
Aliás, não levarei nenhum filho a nenhum jogo em nosso estado amado e imortal.
Porque imortal… apenas nosso estado.
Nosso corpo é bem humano e mortal.
A sensação que fica é aquela do dia a dia de nossa sociedade.
Marginais soltos e pessoas de bem encarceradas.
Não adianta imaginar que um banho de sangue possa mudar para melhor um universo de absurdos do submundo de um país que esqueceu que respeito pelo próximo é o principio de tudo.
Resta agradecer ao carinho e coragem de Mestre Osvaldo e de sua esposa, proprietários da TIMBUSHOP.
Agradecer a tantos e tantos amigos que foram nos honrar com sua presença.
Nosso muito obrigado de coração.
Livro escrito e lançado sob ferro e fogo.
Missão cumprida como apaixonado por meu clube.
Estou mais certo que nunca de que o futebol morreu em Pernambuco.
Dirigentes, torcidas organizadas e autoridades podem se cumprimentar pelo extermínio praticado.
Como meu negócio sempre foi paz e amor… eles que se entendam!