Foto: Geraldo Magela/Agência Senado Por Fernando Bezerra Coelho Na tarde desta quarta-feira, faremos a instalação da nova composição da Comissão Mista de Mudanças Climáticas (CMMC), que tornará perene a discussão de temas vitais, como a questão da água.
Na condição de presidente desta importante Comissão, quero realizar uma série de audiências públicas para debater o assunto com a sociedade, o setor produtivo e o meio acadêmico, que muito poderão contribuir na busca de soluções para o enfrentamento da chamada “crise hídrica” pela qual passa o nosso país.
Como senador da República eleito pelo estado de Pernambuco, darei prioridade, no meu mandato, à questão da água, que, no meu entendimento, deve ser analisada de forma integrada, em um tripé: Água, Energia e Alimentos.
Estes três recursos globais não podem ser tratados de forma isolada porque têm relações interligadas, o que muitas vezes não se reflete no planejamento e nas políticas públicas aplicadas a estes setores.
No último domingo comemoramos o Dia Mundial da Água, data que foi criada pela ONU, em 1992, para lembrar às pessoas da importância em preservar um bem tão precioso.
Como alerta, a Organização das Nações Unidas divulgou relatório com dados alarmantes, que precisam receber a atenção dos gestores brasileiros; afinal, três das dez maiores bacias hidrográficas do planeta estão aqui.
O estudo mostra que nas últimas décadas o consumo cresceu duas vezes mais que a população e a expectativa é que a demanda ainda aumente 55% nos próximos 30 anos.
Quase 800 milhões de pessoas não têm acesso a água potável e mais de 2 bilhões não contam com rede de esgoto no planeta.
Aqui no Brasil, 103 milhões de seres humanos não têm esgotamento sanitário em casa e 34 milhões não sabem o que é água encanada.
Nós, nordestinos conhecemos bem o problema, pois convivemos com a escassez de água há bastante tempo, enfrentando longos períodos de rodízios e racionamentos.
O consumo médio de água em Pernambuco, por exemplo, está na casa dos 96 litros por habitante.
A média nacional é de 159 litros/dia.
No Rio de Janeiro, estado de maior consumo, este índice é superior a 189 litros/dia. É uma obrigação nossa planejar o manejo consciente da água para que as próximas gerações não enfrentem problemas ainda mais graves que nós.
Em 2014 foi publicado que o país deveria construir um Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH).
Este Plano deveria compreender toda a complexidade do tema, abordando a preservação dos mananciais, lençóis freáticos, captação, armazenamento e distribuição da água no Brasil.
Pouco avançamos de lá para cá.
E continuamos convivendo com situações estarrecedoras, que causam estranheza e vergonha ao país.
A região amazônica, onde está a maior oferta de água doce do mundo, tem um déficit de 31% em relação ao acesso à água potável.
Já a rede de esgoto só atinge 13,5% das casas, segundo os dados do IBGE.
Estes números mostram que temos a necessidade de intensificar os trabalhos e elaborar um documento capaz de servir como marco regulatório para municípios, estados e união.
Um Plano Nacional de Segurança Hídrica que aponte caminhos e preveja uma carteira de projetos de obras hídricas estratégicas, contemplando a construção de barragens, sistemas adutores, canais e eixos de integração.
Temos de garantir para os brasileiros acesso à água encanada, ao esgoto coletado e à energia.
A Organização Mundial de Saúde afirma que para cada 1 dólar investido em tratamento de água, outros 4 são economizados na rede de saúde. ?Não tenho dúvidas de que crescer de maneira sustentável e racional é, sem dúvida, o grande desafio das próximas gerações.
Planejar os passos, avaliar impactos e preservar um bem tão importante como a água é essencial para nós.
Esta é uma agenda que já está atrasada e não pode mais ser relegada ao segundo plano.
O Brasil tem uma tarefa a cumprir, que precisa ser iniciada agora, porque sem água não há futuro possível.
Fernando Bezerra Coelho é senador pelo PSB-PE.