Por Paulo Veras, repórter do Blog, no JC deste domingo (22) O surgimento de novos movimentos sociais articulados no ambiente virtual impõe o desafio para a classe política tradicional de interpretar esse novo cenário e dialogar com seus atores.
Na última semana, um documento da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República que vazou à imprensa apontou a fragilidade do governo em reagir ao novo cenário político e afirmou que os eleitores do PT estão “brigando com o celular na mão”.
Para o professor Silvio Meira, fundador do Porto Digital, o governo tem demonstrado incapacidade em entender as redes sociais. “Não há como sintetizar as insatisfações. É muito difícil capitalizar um movimento nativo na rede, a coisa é muito ampla”, alerta.
Segundo o professor, a dificuldade é ainda maior porque nesse novo ambiente as lideranças são difusas e todos têm acesso a um canal de discussão.
Para ele, os protestos ocorridos em 2013 foram apenas o sinal da insatisfação da população que agora surge mais potente. “O País é tratado de forma autista.
Negaram a crise durante anos, debochando de quem estava na crise”, critica.
O consultor Cláudio Marinho, ex-secretário de Tecnologia de Pernambuco, defende que esses movimentos têm a especificidade de só existirem a partir da interação das redes sociais e, por isso, não podem ser comparados com grupos tradicionais, como sindicatos. “Cada um vai para a rua com o seu cartaz defender a sua bandeira”, explica.
Ele acredita que o governo ainda não foi capaz de interpretar o fenômeno que tem acontecido nas ruas e o que querem os participantes.
Já o professor Fábio Malini, coordenador do Laboratório de pesquisa sobre Internet e Cultura da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), argumenta que o Planalto não consegue entender os atos do último domingo porque os movimentos com pautas bem definidas, como os grupos raciais, pela igualdade de gênero e em defesa do passe livre, não participaram dos protestos. “O governo só consegue decodificar o discurso genérico da corrupção, que, no contexto de crise institucional com o parlamento, fica confuso”, afirma.
Ele também enxerga um fenômeno novo, que é o surgimento de lideranças vinda do próprio movimento, atuando ao lado dos partidos e entidades que aderiram às manifestações. “Essa é uma diferença qualitativa importante: o retorno dos líderes, cuja principal evidência, nas ruas, é o carro de som, o microfone e as pessoas bradando para as massas”, argumenta.
Para Cláudio Marinho, não é só a prática política que está passando por transformações nesse processo. “O uso da rede para fins políticos, desde a última eleição, mudou a forma como nós nos relacionamos na própria rede”, defende.
Levantamento realizado pelo Twitter mostra que entre a noite da quinta-feira (12) e o meio-dia da segunda (16), pelo menos 1,7 milhão de mensagens foram publicadas com referências aos termos “Dilma”, “protesto”, “manifestação” e “povo”. “As redes sociais são um campo forte do ativismo e vão acelerar a mobilização e a ocupação das ruas.
Resta saber se serão capazes de qualificar a democracia, porque chama a atenção o discurso de ódio dos dois lados e de retorno do militarismo no poder”, questiona Malini.