Por Roberto Numeriano Escrevo esta crônica na condição de político, não necessariamente militante.

Nos últimos dias, a virulência do ódio e ressentimento políticos tomou conta de tudo.

No centro da arena de luta, o velho conflito PT x PSDB.

E ambos se digladiando em torno do tema corrupção.

O que me espanta, sempre, é que muita gente, de qualquer dos lados, vive a maldizer o outro como se estivesse acima do bem e do mal.

Todos estão com os olhos cheios de argueiros, mas só enxergam o argueiro nos olhos alheios.

O fato é que o nosso sistema político está podre em si mesmo, sendo a corrupção dos agentes políticos um efeito básico.

Sua podridão está no fato de que ele se sustenta pelo e por causa do dinheiro, sendo a luta pelo poder político uma questão secundária (e condição necessária para se chegar ao dinheiro).

PT, PSB, PMDB e PSDB são os principais operadores políticos de algo que, cedo ou tarde, vai provocar crises institucionais gravíssimas (inclusive porque vai deslegitimar o exercício do poder, em qualquer instância), com a instituição da desconfiança entre tudo e todos.

A presidenta Dilma nem pode sair em público (o que já é grave), e logo é atacada moralmente.

Atacam-na no Congresso, um ambiente dominado por uma grande maioria que ali chegou com a compra de votos, direta e indiretamente.

Gente em geral vil e venal.

Os mandatários não se respeitam.

Ministros do STF se arvoram em políticos (e da pior espécie).

Senadores e deputados federais, com cinismo e arrogância, se agridem via tribuna, em cadeia nacional.

Está tudo podre e apodrecendo.

Se o Congresso, essa montanha que fede, parir um rato como reforma política, em breve o país viverá o caos, com forte possibilidade de conflitos com muitos mortos e feridos, pelas ruas, cada qual achando que a sua “ideologia” é melhor do que a outra.

Roberto Numeriano é jornalista, professor e pós-doutor em Ciência Política.