Foto: Zeca Ribeiro/Agência Câmara A construção da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), no Complexo Portuário de Suape, em Pernambuco, foi o primeiro exemplo de um cartel entre várias empreiteiras para elevar os custos de projetos da Petrobras, segundo defendeu o ex-gerente de serviços da estatal Pedro Barusco em depoimento à CPI que apura os desvios na Câmara Federal, concedido no final da manhã desta terça-feira (10). “Foi a primeira ação que eu pude perceber”, afirmou Barusco.
Ele diz que o cartel se repetiu, sem seguida, nas obras de construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). “Nesses dois blocos, a gente sentiu uma ação muito grande do cartel”, disse.
Foto: Zeca Ribeiro/Agência Câmara Barusco explicou como funcionava o esquema de desvio de dinheiro na Diretoria de Serviços da companhia.
Ele confirmou que começou a receber propina em 1997 (1º mandato de Fernando Henrique Cardoso), de forma isolada, e que a partir de 2004 (1º mandato de Lula) os pagamentos foram institucionalizados na Petrobras.
O ex-gerente disse que as empreiteiras pagavam 2% do valor dos contratos com a estatal em propina.
Metade desse dinheiro iria para a Diretoria de Abastecimento, sob o comando de Paulo Roberto Costa, e a outra metade era dividida - 0,5% para Barusco e o então diretor de Serviços, Renato Duque, e 0,5% para o PT, que era operado pelo ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto.
Ele confirmou ainda a previsão de que o PT teria recebido entre US$ 150 milhões a US$ 200 milhões, considerando que o partido recebeu o dobro que ele.
Barusco afirmou que não poderia indicar, porém, quem recebeu esse dinheiro.
O ex-gerente recebia o dinheiro dele e Duque através de contas na Suíça e tem trabalhado para repatriar os valores, em parceria com a Justiça brasileira. “Eu recebia somente para mim e para Renato Duque.
Só.
Recebia para mais ninguém”, garante.
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Ele também disse, várias vezes, que não sabia se o alto comando da Petrobras tinha conhecimento dos desvios.
Foto: Zeca Ribeirto/Agência Câmara Ele também disse se sentir aliviado por devolver o dinheiro desviado. “Esse é um caminho que não tem volta.
De um momento para o outro, isso vira uma espada na nossa cabeça.
Porque não tem saída para isso”, lamentou.
TAPA NA CARA E CÂNCER - Durante o depoimento de Barusco, dois momentos causaram certo acirramento.
Uma deles, quando o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), líder da Minoria da Câmara, teve que pedir o silêncio dos colegas enquanto criticava o governo do PT e disse que o partido dava um “tapa na cara” da sociedade.
Outro rebuliço ocorreu quando o deputado Altineu Cortês (PR-RJ) citou o câncer do ex-gerente.
Antes de iniciar o depoimento, Barusco fez um acordo para não ser questionado sobre questões pessoais, como pré-requisito para cooperar com a CPI.