Por Fernando Castilho O jornalista Ivan Mauricio tem uma teoria sobre a credibilidade das pessoas que é muito conhecida nos meios jornalísticos.
Segundo ela, a melhor forma de saber se um político tem credibilidade de pronto é pegar uma foto de boa qualidade e apresenta-la (dentro de um conjunto de outras), a alguém de outro país e perguntar qual dentre as fotos é o Chefe do Executivo, do Poder Legislativo, etc.
O interlocutor pode errar, mas sua avaliação vai revelar quem tem a “cara de poder”.
Credibilidade a partir do visual.
Ou relembrando aquela avaliação da sabedoria popular: a primeira impressão é a que fica.
Avaliar uma pessoa pela foto, adverte o jornalista, não é critério definitivo para definir seu perfil e muito menos sua honestidade.
Mas em relação aos políticos envolvidos na Operação Lava Jato qualquer foto vai nos levar a suspeitas terríveis. É aí que entra um segundo critério: o conjunto da obra.
E é isso que, para o cidadão comum e até mesmo para quem tem mais informação de qualidade, o “conjunto da obra” dos envolvidos será determinante para condenar ou absolver os suspeitos.
Pelo menos perante a consciência do cidadão comum. É importante lembrar que o que o procurador Rodrigo Janot fez foi pedir a continuidade das investigações, mas sejamos sensatos: alguém está interessado na defesa de algum deles?
Alguém vai ouvir o que eles têm a dizer depois da inclusão na lista de suspeitos?
Pela foto e pelo conjunto já estão todos condenados.
Peguemos o caso dos presidentes da Câmara e do Senado.
Alguém está interessado que Eduardo Cunha esbraveje, em nome de Jesus, dizendo que a Procuradoria agiu motivada por “politização e aparelhamento”?
Alguém deu algum crédito a Renan Calheiros quando ele disse que Janot está em campanha para reeleição para o cargo cujo mandato termina em agosto?
Certo, Cunha tem motivos para reagir ou, como disse na sua conta no Twitter, que “não dá para ficar calado sem denunciar”.
Não dá mesmo, mas é aí que ele se complica mais.
Porque, diferentemente do Mensalão, agora a denúncia vem dos corruptores.
E aí é preciso recorrer à psicologia para tentar entender como age o corruptor.
Primeiro, porque o corruptor detém o poder financeiro, possibilidades.
Naturalmente, ele se sente empoeirado e capaz de “comprar” quem tem o poder de direito.
Para o corruptor, o corrupto é apenas um elemento de custos a ser repassado ao cliente final.
Portanto, quando o corrupto aceita conversar sobre o assunto, o valor da propina é só uma questão de preço.
Ele virou parte do crime. É isso que norteia a conversa das empresas envolvidas no processo da Lava Jato.
Se quem tem o poder “de fato” agora tentar tirar o corpo fora.
No mínimo morrem os dois abraçados.
Mas tem uma coisa mais séria.
Há uma ilusão do corrupto de que corruptor não contabiliza propina.
Contabiliza.
Fica tudo registrado em algum lugar.
O crime, é bom lembrar, é um negócio.
A polícia é o risco.
Bom, agora, a Justiça é o desfecho do que deu errado.
Por isso quem teve seu nome relacionado já sabe que “a casa caiu, mô vei”.
Importa pouco ser inocentado no futuro.
Acabouuuuuuu! como diz o Galvão Bueno.
Daqui para frente vai ser o sofrimento da indicação como suspeito.
Dos depoimentos, das contra razões sob a desconfiança dos antigos aliados.
Pergunte a qualquer um dos denunciados e condenados no Mensalão.
Pergunta quantos deles tiveram de visitas na Ceia de Natal?
Qual a presença de antigos correligionários dos tempos de brilho?
Quanto ligaram no do aniversário e quantos se atreveram a fazer uma visita?
A solidão da condenação, no máximo, é dividida com a família num jantar em silêncio gritante. É isso que espera os listados.
O resto do país não se comporta como Alagoas, que devolveu mandatos a Fernando Collor e Renan Calheiros, agora reincidentes e elegeu seus dependentes.
O Rio de Janeiro não vai perdoar Eduardo Cunha assim como vai condenar Lindemberg antes do primeiro mandato.
Vão sentir isso quando pegarem a partir de hoje um avião de carreira.
O jornalista Ronildo Maia Leite, pai de uma geração de repórteres espalhados pelo Brasil, costumava dizer que a pior coisa na vida de uma pessoa é um porém.
Fulano é um sujeito extraordinário, porém… Aquela senhora tem uma competência extraordinária, porém… Aquele jovem tem um potencial enorme, porém… Talvez por isso seja interessante neste momento observar o que vai acontecer a partir de agora.
Será interessante ver como as pessoas acusadas vão se comportar em público.
E como vão encaminhar suas defesas.
A chance de Cunha de manter com o mesmo poder na Câmara é zero.
Será confrontado na próxima semana.
Vai passar pelo constrangimento de ouvir de um deputado novato lhe dizer na cara que não tem idoneidade moral para cobrar nada.
Renan, que já levou dedo na cara até de deputado em sessão do Congresso, vai sofrer isso de novo.
Os demais vão ter que se acostumar a embarcar sozinhos e pedir para ficar na cadeira da frente dos aviões com um jornal aberto.
E a partir de agora quando for publicada uma nova foto no jornal, alguém vai dizer: olha para ele!
Você tem alguma dúvida que ele não estava nessa safadeza da Lava Jato?
E quando o interlocutor manifestar uma leve discordância o sujeito vai concluir o julgamento: Que nada, olha o que ele já fez?
Veja como chegou a esse cargo?
Ele está envolvido sim!
Veja a história dele!
Na vida real moderna, uma foto para divulgação pode ser bem produzida e publicada pode até estar disponível em todas as plataformas nas redes sociais, seja no Twitter, no Facebook, Linked-In ou Google+ ou no Tumblr.
Mas o Google e os demais sites de buscas agora dizem (com apenas um click), tudo de ruim que foi escrito conta o acusado.
Basta digitar a palavra “Lava jato”.