Foto: reprodução do Facebook Artigo publicado pela senadora Marta Suplicy (PT), na Folha de S.
Paulo É um privilégio neste momento crítico da política brasileira voltar a este espaço que ocupei em 2011 e 2012.
Já colaborei na Folha, em cadernos e anos diversos, exercendo atividade diferente da que tenho hoje.
Tenho consciência da importância que foi chegar a milhares de pessoas quebrando tabus, defendendo os direitos do povo, das mulheres e minorias, avançando em temas de difícil aceitação.
Senadora, e com uma visão muito crítica da situação política brasileira, sinto-me no dever de exercer neste espaço a audácia e transparência que caracterizaram minha vida.
Em política existem duas coisas que levam a vaca para o atoleiro: a negação da realidade e trabalhar com a estratégia errada.
O governo recém-empossado conseguiu unir as duas condições.
A primeira, a negação das responsabilidades quando a realidade se evidencia.
A segunda, consequência da mentira, desemboca na estratégia equivocada.
Estas condições traduzem o que está acontecendo com o governo e o PT.
O começo foi bem antes da campanha eleitoral deslanchar.
Percebiam-se os desacertos da política econômica.
Lula bradava por correções.
Do Palácio, ouvidos moucos.
Era visto como um movimento de fortalecimento para a candidatura do ex-presidente já em 2014.
E Lula se afasta.
Ou é afastado.
A história um dia explicará as razões.
O ex-presidente só retorna quando a eleição passa a correr risco.
Afunda-se o país e a reeleição navega num mar de inverdades, propaganda enganosa cobrindo uma realidade econômica tenebrosa, desconhecida pela maioria da população.
Posse.
Espera-se uma transparência que, enquanto constrangedora e vergonhosa, poderia pavimentar o caminho da necessária credibilidade.
Ao contrário, em vez de um discurso de autocrítica, a nação é brindada com mais um discurso de campanha.
Parece brincadeira.
Mas não é.
E tem início a estratégia que corrobora a tese de que quando se pensa errado não importa o esforço, porque o resultado dá com os “burros n’água”.
Os brasileiros passam a ter conhecimento dos desmandos na condução da Petrobras.
O noticiário televisivo é seguido pelo povo como uma novela, sem ser possível a digestão de tanta roubalheira.
Sistêmica!
Por anos.
A estratégia de culpar FHC (não tenho ideia se começou no seu governo) não faz sentido, pois o tamanho do rombo atual faz com que tudo pareça manobra diversionista.
Recupera-se o discurso de que as elites se organizam propagando mentiras porque querem privatizar a Petrobras.
Valha-me!
O povo, e aí refiro-me a todas as classes sociais, está ficando muito irritado com o desrespeito à sua inteligência.
Daqui a pouco o lamentável episódio ocorrido com Guido Mantega poderá se alastrar.
Que triste.