Por Fernando Castilho, especial para o Blog de Jamildo Diz a sabedoria popular que só existe uma coisa pior do que o fim de um relacionamento litigioso: Quando inclui um CNPJ.
Normalmente, a firma quebra, os dois tem uma baixa no padrão de vida, mas a parte traída rumina uma vingança ainda que tenha que comer carne moída, carne de lata e omelete de sardinha em conserva regado a suco frutas em pó.
O PMDB está se sentindo assim: traído com CNPJ e tudo.
Ou uma espécie de Maria Marta de Mendonça e Albuquerque, a Imperatriz da novela Império, da TV Globo.
Nos últimos 12 anos ele tem sido de uma fidelidade canina ao PT de Lula, mas nos últimos meses tem visto uma Maria Isis em tudo quanto é canto do Congresso.
De modo que, antes que o rompimento se confirme e tenha que deixar a mansão do poder, está fazendo de tudo para salvar o casamento de conveniências.
Ainda que brigue na rua e na empresa. É preciso deixar uma coisa bem clara: o PMDB não quer separar o seu CNPJ do PT.
O casamento é em comunhão total de bens.
Apartar o patrimônio seria uma perda de padrão de vida que ele não deseja.
O que ele quer é voltar a ter o prestígio da esposa.
O PMDB, é bom lembrar, sempre aceitou as puladas fora da cerca do PT.
Mas, sempre entendeu que toda a base aliada era uma espécie de ficante.
Sabia que o chefe da casa dava um voada aqui e ali, mas quando tinha que ir a uma festa de gala era ele quem iria de braços dados.
E as ficantes, só na plateia – morrendo de inveja.
O problema é que de uns tempos para cá o PT entendeu de começar a sair com uma tal de Maria Isis, que atende pelo nome de PSD, de Gilberto Kassab, além de flertar mais ostensivamente com outras moças.
O PMDB sabe que para o PT já não provoca o mesmo apetite sexual dos tempos de que era jovem, como no papel tão bem representado por Adriana Birolli, a Maria Marta na primeira fase da novela.
Mas, sabe que ainda dá um bom caldo.
Se não tem o frescor da juventude das Marias Isis tem a experiência de anos de convivência que só a junção das escovas de dente dá.
O problema é que, como na novela, o PT além das puladas fora da cerca introduziu uma filha fora do casamento para tomar conta do negócio da família.
O PMDB acha que diferente de Cristina (vivida por Leandra Leal) que pegou uma empresa de caixa zero, tornou-a socialmente correta ao passar a usar apenas pedras preciosas de uso conhecido e de desenvolver uma linha de anéis para o mercado chinês de formaturas, Dilma Rousseff estragou o que restava do negócio.
Diferentemente de Cristina, que tinha PhD em venda direta em camelódromo, ela chegou com a fama de gestora, deu um chega para lá nas opiniões do PMDB e saiu feito elefante em casa de louça, quebrando tudo com o argumento de melhorar a gestão.
O resultado, todos sabemos, mas assim como o comendador, o PT ainda dá a Dilma Rousseff o crédito de poder salvar a empresa.
O PMDB tem dúvidas.
O problema é que o partido acha que o PT foi quem chamou a polícia na hora que se descobriu que o caixa tinha sumido e levantou a suspeita de que ele estava metido na tramoia.
Acha que o PT quer lhe tirar do casamento com a fama de adúltera.
A lista de Eduardo Cunha e Renam Calheiros na relação da Lava a Jato foi demais.
Como em toda relação mal resolvida quem se sente traído quer sangue, ainda que, depois do desastre até chore de amor e de arrependimento.
E é isso que está fazendo.
Agora o ódio é maior que o amor.
O PMDB nunca foi santo em quarto de prostituta, que está dento da safadeza, vê e ouve tudo, mas não se compromete com nada.
Nada disso.
O PMDB tem uma relação aberta.
Se era para se divertir, entrava no jogo.
Ainda que pela manhã saísse do quarto como se estivesse saindo de um batizado.
E é essa lembrança que mais magoa o partido.
O PT era como o garimpeiro José Alfredo.
O PMDB acha que lhe deu prestígio e reconhecimento social nas elites.
Esteve solidário em tudo que o PT pediu e agora o PT quer lhe trocar por outras?
Não vai deixar barato e a primeira vítima foi a filha fora do casamento.
Ele não vai ajudar em nada para melhorar a relação.
Ao contrário, vai para cima dela como os filhos do Imperador foram para cima de Cristina.
Resta saber se Dilma terá a mesma capacidade que a antiga comerciante informal.
Até agora parece que não.
O problema é que diferentemente da novela Império, não existe um Fabricio Malgácio, cuja morte vai pacificar a relação da Imperatriz, salvar a empresa e fazer com que todos vivam felizes para sempre.
Nem a crise da Lava a Jato vai acabar na próxima sexta feira como a novela.
Talvez Cristina, ou melhor Dilma Rousseff, tenha mesmo que pagar um alto preço pela frustração da traição e do desprezo que o PT demonstra hoje com o PMDB.
Até porque, como diz a sabedoria popular, é possível resistir ao ódio, é possível resistir ao amor, mas ninguém resiste à indiferença.