Paulo Rubem Santiago, especial para o Blog de Jamildo Num sábado de manhã, com uma orquestra de frevo passando na avenida Conselheiro Aguiar, em Boa Viagem (eram as prévias de carnaval dos blocos de rua), acordei e fui tomar meus dois copos de água que a fonoaudióloga me recomendou anos atrás.

Na sala, antes mesmo de tomar o café, liguei o computador.

Na internet não olhei as notícias da Operação Lava Jato, mas um outro assunto: A falta de chuvas fez cair a produção de milho, café e laranja em São Paulo e Minas Gerais.

Só em Uberaba chegou a 30% a queda do milho, insumo em vários produtos alimentícios industrializados, como a massa de nosso querido cuscuz, imbatível com queijo de coalho assado, carne de charque ou de sol.

Pois bem, já vi, a partir daí, se desenhando, o roteiro das pressões sobre a política monetária.

Faltou chuva, a produção caiu, a oferta diminuiu, os preços vão subir, pressionando a inflação de alimentos no IPCA.

E tome aumento de juros para combatê-la.

E desde quando juro altos atingem choques de oferta?

Segundo o Economista Amir Khair, ex-Secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo, em matéria publicada em 19 de novembro de 2014 no site www.plataformapoliticasocial.com.br, “(…) há uma crença generalizada, inclusive dentro do próprio governo, de que a SELIC controla a inflação. (…) Mas ai vem a questão: “A SELIC controla a inflação”.

Não, não controla, e eu tenho repetido diversas vezes nos últimos artigos que 80% da composição do IPCA não tem nada a ver com a SELIC.

São serviços e serviços não respondem a SELIC, eles têm 35% do peso do IPCA.

Alimentos e bebidas também não tem nada a ver com a SELIC e representam 25% do peso do IPCA”.

Essa questão também foi tratada em artigo publicado no site https://www.politicasocial.net.br/index.php/opiniao/189-flavia-vinhaes113.html, de autoria dos economistas Flávia Vinhaes (Doutora em Economia pela UFRJ e professora da FGV) e Marlon Souza (Doutor em Economia aplicada pela ESALQ-USP), questionando o uso da SELIC no combate à inflação.

Os economistas destacam como se alteram os preços de alguns dos nove grupos de produtos que compõem o IPCA e a pouca influência dos juros sobre isso.

No caso dos “alimentos”, registram que no Relatório de Inflação de março de 2012, o Banco Central credita a falta desses produtos no mercado interno à escalada dos preços das commodities (da carne, açúcar, soja, milho e outros) nos mercados internacionais.

Por isso seus preços sobem internamente.

Problemas de safra no Brasil (como a seca dos últimos dois anos) podem reduzir ainda mais a oferta.

Segundo os autores, juros altos não teriam interferência sobre isso.

Então, faltou chuva?

Vamos bater os tambores.

Choveu demais?

Vamos desenhar o sol nas praças das cidades, como fazíamos quando éramos crianças.

Pelo menos era lúdico.

Agora, fala sério, subir juros para combater a alta de preços de alimentos cuja produção caiu por falta de chuvas é de um oportunismo incrível.

Já está mais do que na hora dessa arquitetura de política monetária mudar.

Com a palavra os professores André Modenesi (UFRJ), Luiz Fernando de Paula(UERJ) e Fernando Cardim de Carvalho (UFRJ).

Professor da UFPE, Presidente do PDT-Recife/PE, deputado federal de 2003 a 2014, quando foi Vice-Presidente das Comissões de Finanças Tributação e de Educação, titular da Comissão Mista de Orçamento, Planos e Fiscalização.