Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula Por Fernando Castilho, especial para o Blog de Jamildo Acredite: o governador Paulo Câmara pensou que poderia se reunir com o ex-presidente Lula da Silva sem que ninguém soubesse.

Achou que, antes de aceitar recebe-lo, Lula já não tivesse espalhado para torcida do Corinthians que o sujeito que Eduardo Campos escolheu para derrotar o companheiro Armando Neto e que varreu seu partido no estado de Pernambuco desejava conversar com ele.

Tanto acreditou que mandou colocar na agenda que distribui para a imprensa, e que a partir de agora não tem mais credibilidade, a expressão “Visitas a lideranças empresariais” em São Paulo.

Como se sabe, a notícia “vasou” no Blog do jornalista Magno Martins, pegando o pessoal da Assessoria de Imprensa de surpresa que jamais imaginava que “o chefe” estava naquele momento sendo recebido por Lula.

Lideranças empresariais?

Lula?

Ficou feio para Câmara (e para o pessoal da Assessoria do governador), que no final da tarde, mandou um release meia boca, às 16h20, informando que Paulo e Lula conversam sobre “perspectivas para Pernambuco”.

Conversa.

A essa altura o Instituto Lula já distribuíra a foto dos dois deixando o governador numa situação altamente constrangedora.

Gato escondido com o rabo de fora.

Mas a ideia maluca de esconder uma conversa com Lula é o que menos importa.

Isso é coisa de novato que não ouve assessoria política.

O que interessa é saber o que diabos Paulo Câmara foi conversar com Lula?

Até porque não sendo Lula nada além de ex-presidente da República, não tendo nada o que fazer senão jogar conversa fora o dia todo no seu instituto como Paulo Câmara justificaria ter gasto o dinheiro do contribuinte com as passagens de avião e de assessores nessa conversa?

Lula pode fazer o que?

Ligar para Dilma e pedir para ela o receber?

Que Joaquim Levy abra a agenda para Pernambuco pedir empréstimo no BNDES ou em bancos internacionais?

Que retome as verbas da Geraldo Julio?

Sempre vai ficar a pergunta: de quem foi a “ideia” brilhante de mandar Paulo Câmara nesse momento conversar com Lula.

Quem foi o autor dessa coisa de gênio?

Novato em posto de comando, Paulo Câmara errou no momento, na estratégia e no mérito.

Se seria recebido no Instituto Lula deveria ter avisado a todo mundo.

Até para não acontecer o que aconteceu.

E deveria revelar também a agenda, pelo menos a agenda que ele desejaria ter com o ex-presidente.

Poderia até dizer que iria lá levar uma garrafa de Pitú Gold e um Bolo de Rolo.

Mas tinha que fazer isso um fato político público.

Mas ele insiste em ser discreto.

Lembra daquela ideia em visitar a viúva do sargento morto no Aníbal Bruno de madrugada?

Flagrado numa conversa que desejava esconder, o governador acabou mandando a assessoria dizer que eles conversaram sobre “temas nacionais, como as dificuldades econômicas que o Brasil enfrenta este ano ele e o ex-presidente também falaram sobre as perspectivas para o Estado”.

Lorota.

Lula só o recebeu porque queira saber é o que Paulo tinha para lhe dar em troca no PSB.

O problema disso é que, nesse momento, a última coisa que Lula e Dilma estão interessados em conversar sobre “temas nacionais e dificuldades econômicas”.

O buraco que ele olha é muito maior.

Lula e Dilma só pensam na crise da Petrobras.

E no que a operação Lava a Jato pode fazer com eles hoje e no futuro.

Nada mais tem importância.

O que só reforça o esquivo de pensar em conversar com Lula exatamente quando a atenção era em escolher um substituto para Graça Foster com Lula querendo o Henrique Meirelles e ela fixando-se no presidente do BB, Aldemir Bendine, aquele que liberou uma grana legal para a socialite Val Marchiori em condições favorecidas.

Agora com tudo que está ruim pode piorar a Oposição também não entendeu o erro estratégico de Paulo Câmara e achou que isso era bom para o quadro político.

E entendeu que seria uma coisa natural de convergência.

Uma “volta pro seu aconchego”.

Não é volta não.

Não dá para achar que o PSB de Pernambuco vai voltar para os braços do PT sem uma grande confusão aqui e a nível nacional.

Humberto Costa e toda sua turma sabem o que amargou com Eduardo, Paulo e Geraldo detonando deles e do PT.

Com Paulo Câmara e Geraldo Júlio inviabilizando o sonho de Armando Neto de ser governador.

A questão não é o que Geraldo Julio disse de Dilma Rousseff na campanha.

A questão é o que resultou disso em termos de mágoa política.

O PSB sem Eduardo Campos detonou o PT ao sair da base que tinha feito história e se juntou com o adversário histórico dele, o PSDB.

Tem mais: essa conversa com Lula, literalmente, deixou mal na foto o PSB com seus aliados.

O que pensa agora Mendonça Filho, do DEM; Jarbas Vasconcelos, do PMDB e Raul Jungmann do PPS sobre essa “conversinha”.

Esse pessoal só se juntou com o PSB de Eduardo Campos para implodir o PT.

Lembra da trava de Jarbas quando surgiu a conversa de mudar o candidato horas depois da morte de Eduardo Campos?

Jarbas cuidou de fechar a porta para que o PSB não voltasse do caminho da perdição para seus antigos pares pois ele iria sobrar na curva.

Alguém tem alguma dúvida que, antes do meio dia de quinta-feira, Aécio Neves já não sabia da conversa de Paulo com Lula.

Alguém acha que ele achou bom?

A primeira coisa que ele perguntar foi: Uai?

Qual é a desse pessoal de Pernambuco?

Deve ter dito: então é assim, o PSB fecha com a gente, votamos no Julio Delgado, e o principal governador do partido deles vai se abraçar com Lula?

Aqui para nós e o povo da rua: não tem isso que Lula ajudar Paulo Câmara.

Alguém acha que Lula gostou de ver Paulo Câmara “viabilizar” Raul Jungmann na Câmara.

Alguém acha que Dilma Rousseff já esqueceu o que Geraldo Julio disse dela na campanha?

E alguém acha que Armando Neto, Humberto Costa e todo o pessoal da Oposição vai querer essa conversinha afinação com o PT de Lula.

Mas isso não responde a pergunta principal: o que diabos Paulo Câmara tinha na cabeça quando aceitou a ideia de conversa com Lula em São Paulo?

Ou será que ele achou mesmo que Lula estava interessado nas obras em Pernambuco, muitas delas em parceria com o governo dele na Presidência?

O diabo é que Paulo pode ter acreditado nisso mesmo.

Político novato tem dessas coisas.