A Justiça não pode endossar outra farsa; Dirceu já está em casa; Kátia Rabello e Marcos Valério estão presos Na Folha de São Paulo desta sexta É hora de pôr os pingos nos is.

Deltan Dallagnol, procurador da República do Paraná, afirma que as empreiteiras “não são vítimas, mas protagonistas” do petrolão.

Contesta, assim, a linha de defesa de empresários que acusam então diretores da Petrobras de extorqui-los.

Antonio Figueiredo Basto, advogado de Alberto Youssef, por sua vez, diz que seu cliente não era chefe de nada e servia ao projeto de poder do PT.

Vamos ver.

Os diretores das empreiteiras e Youssef cometeram crimes, e isso é inequívoco.

Caso, no entanto, se perca de vista o principal, o rigor da Justiça acabará, mais uma vez, por endossar uma farsa.

Explico.

Para evidenciar o protagonismo das empreiteiras, Dallagnol afirma que “a corrupção é praticada há tanto tempo por essas empresas que se tornou um modelo de negócio que objetivava majorar lucros”.

Ok. É claro que a corrupção no Brasil e no mundo não começou com as gestões petistas.

Vem lá do tempo da serpente, da maçã e… da proibição de comer maçãs. É preciso distinguir, no entanto, a ilegalidade como desvio da norma –por obra de salafrários agindo sozinhos ou em bando– daquela outra, sistêmica, que se revela como forma de conquista do Estado, com a constituição de um governo paralelo, gerenciado por um ente de razão degenerado.

O emblema desse procedimento foi eternizado por reportagem de 2011 da “Veja”: câmeras flagraram autoridades da República se esgueirando nos corredores do hotel Naoum, em Brasília, para se encontrar com o “consultor” José Dirceu.

Lá estavam, nuas e oferecidas, as autoridades de programa.

De quanto terá sido o michê?

Um dos convivas era o então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.

A sociologia do patrimonialismo é fecunda no Brasil.

Gerou-se, por óbvio, uma linha de pesquisa e especulação compatível com a história, com os hábitos, com os costumes.

Mas estávamos despreparados para o neopatrimonialismo petista, de rapina, que se vende como estratégia de resistência “às elites” tradicionais, ainda que o partido tenha se ligado a tudo o que não presta no país –de velho ou de novo, de esquerda, de direita ou de centro.

Converse com qualquer empresário. É impossível, hoje, fazer negócio com o setor público sem pagar a “Taxa Projeto de Poder”.

E há uma unanimidade: nunca antes na “historiadestepaiz” –esse tempo político da vigarice mais asquerosa– houve tanta voracidade, ousadia e insensatez.

Mas deixei uma ponta solta no texto.

Afirmei que a Justiça não pode, uma vez mais, endossar uma farsa.

Explico.

Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares gozam já das regalias de seus respectivos lares.

A banqueira Kátia Rabello e o publicitário Marcos Valério, no entanto, estão em cana.

Até parece que poderiam ter feito sozinhos o mensalão e que aqueles crimes não eram parte da estratégia de tomada do Estado, liderada, como registrou Celso de Mello, por “marginais do poder”.

A exemplo do doutor Dallagnol, avalio que nem Kátia nem Valério eram vítimas.

Mas, definitivamente, não eram protagonistas.

E jamais deixarei de especular sobre uma obviedade: os crimes do mensalão e do petrolão envolveram muitos agentes e interesses.

Ocorriam no submundo.

Se há desentendimentos entre os que são santos, imaginem entre os que não são.

Quem dava o murro na mesa: “Vamos pôr ordem nesta orgia, companheiros!”?