Elio Gaspari, na Folha de São Paulo Em seu conhecido artigo intitulado “Considerações sobre a Operação Mani Pulite”, que está na rede, o juiz Sergio Moro disse que a prisão da teia de corrupção que permeava da vida italiana desde o fim da 2ª Guerra “levou à deslegitimação de um sistema político corrupto”.

A “Operação Mãos Limpas” começou em 1992.

Dois anos depois os partidos Democrata Cristão e Socialista, que controlavam a maioria parlamentar desde 1945, ficaram com 11% e 2% dos votos e dissolveram-se.

A política brasileira corre o risco de entrar num processo semelhante.

A credibilidade do PT ficou do tamanho das promessas de campanha da doutora Dilma.

A do PMDB, do tamanho que sempre teve. (Quem souber qual é ganha uma viagem só de ida a um paraíso fiscal.) A do PSDB pode ser medida pela confiança que os cidadãos de São Paulo têm pelas declarações do governador Geraldo Alckmin sobre a crise da água.

Isso no que se poderia chamar de estrutura administrativa.

Olhando-se para os costumes, desde que o PT se viu diante da crise do mensalão, mostrou-se incapaz de lidar com o tema da moralidade.

O mesmo vale para a maneira sonsa como o tucanato lida com o cartel dos fornecedores de equipamentos pesados em São Paulo.

O PMDB tem como abre-alas o deputado Eduardo Cunha, candidato à presidência da Câmara.

Pode-se argumentar que as coisas nunca foram diferentes.

Esse conformismo omite dois fatos essenciais.

Em 2013 o Supremo Tribunal Federal formou a bancada da Papuda, mandando empresários e políticos para a cadeia.

Desde o ano passado o Ministério Público e a Polícia Federal conduzem a Operação Lava Jato, que colocou o instituto da colaboração premiada no instrumental da República para combater a corrupção.

Essa novidade decorre da primeira, pois se parte da turma do colchonete da carceragem da Polícia Federal de Curitiba não temesse o efeito Papuda jamais contaria o que já contou.

A ruína moral das grandes empreiteiras já aconteceu.

Dentro de pouco tempo virão as prisões de novas celebridades e a abertura de processos contra parlamentares, ou mesmo governadores.

Isso num ano de recessão econômica, com racionamento de água em diversas metrópoles e a ameaça de novos apagões.

Para complicar a situação a doutora Dilma apropriou-se da agenda econômica de Aécio Neves, cuja demonização foi decisiva para reelegê-la.

Sempre que se fala na faxina da Operação Mãos Limpas italiana vem o argumento misteriosamente fatalista: depois dela Silvio Berlusconi tomou conta da política italiana.

Ou seja: deixe-se tudo como está porque do contrário a choldra elegerá um Berlusconi.

Em primeiro lugar, o Brasil já teve dois (Fernando Collor e Jânio Quadros). É difícil que compre um terceiro.

Ademais, Berlusconi está solto, porém condenado a sete anos de cadeia e afastado da vida política.

Essa porta abriu-se no Brasil.

A deslegitimação que vem por aí abalará primeiro o PT.

Na mesa do juiz Moro há denúncias que abalarão também o PMDB e o PSDB, isso para se falar só dos três maiores partidos.

A Operação Mãos Limpas italiana varreu partidos políticos minados pela corrupção e fortaleceu o regime democrático.

Até onde a vista alcança, no Brasil acontecerá a mesma coisa.