Por Adriano Oliveira, cientista político Crises são previsíveis.
Porém, o exercício da previsão não faz parte da conduta de diversos atores políticos.
A busca pelo sucesso eleitoral e a miopia são incentivos para a não construção de previsões.
A arrogância administrativa é outra causa.
Neste caso, governos bem avaliados acreditam piamente que sempre serão bem avaliados.
Porém, tal premissa é falsa, pois eleitores mudam de opiniões, pois têm sentimentos.
Era previsível a crise da água?
A opinião de diversos especialistas sugere que sim.
Portanto, qual é a surpresa com a ausência de água nas torneiras?
A crise energética era previsível?
Sim, pois a ausência de chuvas frequentes e o atraso na entrega de novas hidrelétricas mostravam e mostram que é possível o racionamento de energia.
Conflitos no sistema penitenciário são previsíveis?
Sim, em razão de que a maior eficiência das polícias possibilita mais prisões.
Dai surge a necessidade de mais presídios e de maior celeridade da Justiça.
Greves de polícia são previsíveis?
Sim, pois greves de polícia são corriqueiras em qualquer estado.
Se crises são previsíveis, por que gestores silenciam diante das crises?
O silêncio é necessário, pois enquanto não existir solução concreta para a crise, gestores não devem se pronunciar.
Porém, as crises não podem ser corriqueiras no governo.
Portanto, a busca de soluções para as crises deve conter instrumentos que evitem novas crises em um mesmo governo e até a solução por completa do problema que motivou a crise.
Crises requerem sabedoria estratégica, a qual não combina com arrogância administrativa.
Reconhecer a crise perante os eleitores é estratégia adequada, pois insere na imagem do gestor a característica da humildade.
E mais do que isto: eleitores passam a crer na solução da crise, em virtude da sinceridade do governante.
O reconhecimento da crise precisa estar associado à solução.
Não adianta reconhecer a crise e não apresentar solução.
Gestores sábios devem se preocupar constantemente com os eleitores.
Estes são voláteis.
Em dado instante aprovam, admiram, acreditam e confiam nos governantes.
Porém, crises têm o poder de mudar a opinião dos eleitores para com o gestor.
Neste sentido, eleitores têm expectativas positivas para um dado governante.
Contudo, crises têm condições de inverter tais expectativas.
Com isto, o gestor adquire a antipatia e a reprovação de parte dos eleitores.
Antipatia e reprovação são sentimentos não adequados para gestores.
Lembro que a cada dois anos ocorrem eleições.
O governador reprovado pode, por exemplo, contaminar a reeleição do seu candidato a prefeito.
O prefeito, candidato à reeleição, pode optar por se distanciar politicamente e eleitoralmente do governador reprovado.
Em razões destes fatos, crises partidárias surgem.
Presidente da República mal avaliado em virtude das crises diminui a sua força para manter ou construir coalizões partidárias.
Crises, portanto, são eventos previsíveis e não desejados.
O desafio dos gestores é único: como lidar com a crise sem perder popularidade.
A contemplação de tal desafio requer sabedoria estratégica, a qual, como já dito, caracteriza-se por reconhecer a crise e, por consequência, agir para debelá-la com eficiência.