Por Elio Gaspari, na Folha de São Paulo Na sua entrevista à repórter Eliane Cantanhêde, a senadora Marta Suplicy anunciou um desejo de início de ano: “O PT muda ou acaba”.
O PT não mudará, porque já mudou, para pior.
Além disso, ela expôs algumas verdades: 1) Em meados de 2013 articulou-se o sequestro da candidatura de Dilma Rousseff, substituindo-a pela de Lula.
Nosso Guia deixou a manobra prosseguir, mas não pôs nela suas impressões digitais. 2) O chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, é “candidatíssimo” a presidente.
Um mau candidato, porque “as trapalhadas que ocorreram, que ocorrem agora, e que ocorrerão depois, terão a digital dele”.
Mesmo que a senadora estivesse errada em tudo o que disse, a reação do comissariado à sua entrevista mostrou que ela tem razão. “Um desastre total”, disse o deputado Jorge Bittar (PT-RJ).
A resposta mais esclarecedora veio do deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), um veterano sindicalista e, como Marta, fundador do partido: “Quem sai atirando tem que lembrar que pode ser alvejado”.
Nessa frase está a indicação de que o PT não vai mudar, porque já mudou.
Ribeiro repetiu o raciocínio de outro comissário, respondendo à sugestão do ex-governador gaúcho Olívio Dutra de que o deputado José Genoino renunciasse ao mandato: “Quando ele passou pelos problemas da CPI do Jogo do Bicho, teve a compreensão do conjunto do partido em um momento difícil.
Ele está sendo pouco compreensivo.” Muita compreensão e pouca vontade de mudar, os problemas do PT são.
O autor do ataque a Olívio foi o deputado André Vargas (PT-PR).
Era membro da executiva nacional, começara sua militância como voluntário num asilo de idosos de Londrina e viria a ser o primeiro vice-presidente da Câmara.
Fazia parte na turma do “partir pra cima”.
Dizia que o ministro Joaquim Barbosa não estava “à altura do cargo” e desafiou as boas maneiras quando, sentado ao lado do presidente do STF, ergueu o punho cerrado, repetindo o gesto dos comissários encaminhados à penitenciária da Papuda.
Vargas foi apanhado numa militância paralela, ligado ao operador financeiro Alberto Youssef.
Em dez anos, seu patrimônio saltara de R$ 9 mil para R$ 2,6 milhões.
Até dezembro do ano passado, quando seu mandato foi cassado pela Câmara, nenhum grão-petista disse de Vargas metade do que já se disse contra Marta Suplicy em poucos dias.
Todas as articulações para afastar o PT das operações de Vargas foi discreta.
Lula, mais audacioso, achou que ele precisava se explicar, para que o PT “não pague o pato”.
O próprio deputado Vicentinho (PT-SP), outro veterano sindicalista, dizia que a renúncia de Vargas era uma decisão que “cabe estritamente a ele”.
Falso, a decisão de expurgá-lo publicamente cabia ao PT, mas o partido não fizera isso com a bancada da Papuda.
Vargas informava que tinha o apoio de um terço da bancada de 88 deputados petistas.
Mesmo que tivesse só dez, o problema estaria aí.
Quando o deputado Devanir diz que “quem sai atirando tem que lembrar que pode ser alvejado” esquece-se de que há vida inteligente fora do PT.
O comissariado sabe que o juiz Sergio Moro está artilhado a montante das petrorroubalheiras e que as tentativas para alvejá-lo erraram a pontaria.