Uma maré humana de mais de um milhão de pessoas, entre elas líderes de 50 países, invadiu Paris neste domingo, que se transformou na capital do mundo em uma histórica manifestação em homenagem às vítimas dos jihadistas e em repúdio aos ataques que abalaram a França.
Com expressão grave e de braços dados com o presidente francês, François Hollande, dirigentes mundiais lideraram a marcha, iniciada na Praça da República, pouco antes das 15h30 locais (12h30 de Brasília).
Entre eles, estavam o premiê israelense, Benjamin Netanyahu; o presidente palestino, Mahmud Abbas; a chanceler alemã, Angela Merkel; os reis da Jordânia, Abdullah e Rania; o premiê britânico; David Cameron; e o colega espanhol, Mariano Rajoy.
Foi sentida a ausência do ministro marroquino das Relações Exteriores, Salaheddine Mezouar, que enviou suas condolências à França, mas não compareceu à marcha “em razão da presença de charges blasfematórias” do profeta no evento, segundo comunicado oficial divulgado pela embaixada marroquina.
Os Estados Unidos foram representados pela nova embaixadora americana em Paris, Jane Hartley.
O procurador-geral dos EUA, Eric Holder, que viajou a Paris para participar de uma reunião internacional contra o terrorismo, não compareceu à manifestação - confirmou a embaixada.
O secretário de Estado americano, John Kerry expressou solidariedade à França em mensagem enviada da Índia, afirmando que “nenhum ato terrorista deterá o avanço da liberdade”.
Ao longo da passeata, alguns dirigentes saudaram os moradores de imóveis próximos e foram aplaudidos pela multidão.
Meia hora depois do início da marcha, líderes mundiais e personalidades políticas francesas fizeram um minuto de silêncio em homenagem aos 17 mortos.
Logo depois, os dirigentes começaram a se retirar, enquanto o presidente francês permaneceu no local, entre os manifestantes, saudou e abraçou familiares das vítimas dos terroristas. “Paris é, hoje, a capital do mundo.
Todo o país se erguerá com o melhor que tem”, declarou Hollande pouco antes da marcha, falando a seu gabinete. “Essa manifestação deve demonstrar o poderio e a dignidade do povo francês, que vai gritar seu amor pela liberdade e a tolerância”, completou.
Em paralelo, dez mil pessoas se concentraram na pequena cidade francesa de Dammartin-en-Goele, onde os irmãos Said e Chérif Kouachi, autores do ataque contra o Charlie Hebdo, morreram em um confronto com as forças de segurança.
Neste domingo, pelo menos 3,7 milhões de pessoas participaram das manifestações de repúdio ao terror em toda a França, na maior mobilização já registrada no país, informou à AFP o Ministério francês do Interior.
Em Paris, a praça da República, imensa esplanada com capacidade para abrigar milhares de pessoas, já estava lotada horas antes do início da marcha deste domingo, constatou a AFP.
Os manifestantes exibiam cartazes com palavras de ordem de resistência, como “Empunhem suas canetas”, “Liberdade, igualdade, desenhem e escrevam!” e a já célebre “Eu sou Charlie”.
A multidão também tomou ruas vizinhas e a praça da Bastilha.
A “marcha republicana” em Paris começou a se dispersar pouco depois das 21h locais (18h de Brasília), e “nenhum incidente” havia sido registrado até esse momento, informou a polícia à AFP.
Na capital, havia entre 1,2 milhão e 1,6 milhão de pessoas, afirmou o Ministério francês, acrescentando que a multitudinária presença tornou impossível uma contagem precisa.
Nas cidades fora de Paris, teria havido mais de 2,5 milhões de manifestantes.
Mais cedo, o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, já havia dito que o evento teve uma “amplitude sem precedentes”.
Sob um radiante sol de inverno, os manifestantes cantaram “A Marselhesa”, o hino nacional francês, e gritaram “Charlie, liberdade!” e “Viva a França!”.
Cameron, Merkel e Netanyahu, entre outros dirigentes, reuniram-se com Hollande no palácio presidencial do Eliseu, antes de participar da manifestação, e discutiram rapidamente a crise na Ucrânia.
Também antes da grande passeata, os ministros do Interior de 12 países europeus e o secretário americano da Justiça, Eric Holder, acertaram reforçar a luta contra o terrorismo e marcaram uma reunião com este objetivo para 18 de fevereiro, nos Estados Unidos.