Por Vítor Diniz, Cientista Político(USP) e sócio-diretor da RVD Estratégia Com o fim das doações de campanha por empresas, o sistema político brasileiro passará por uma reestruturação.

A participação das empresas no processo eleitoral por meio das contribuições eleitorais passou a ser fator fundamental para a eleição de parlamentares.

A prática foi proibida durante muito tempo, inclusive nos primeiros anos da redemocratização pós ditadura militar.

Neste breve artigo, a análise recai sobre a eleição de 2014 para Deputado Federal, em Pernambuco.

Fica evidente a importância das contribuições de empresas para o caixa dos deputados que conseguiram se eleger. 68% dos deputados eleitos (17/25) receberam mais da metade dos recursos de campanha de empresas.

Este dado ilustra uma situação interessante, além de indicar que as doações partidárias podem estar perdendo a importância, pelo menos no caso de Pernambuco.

Dentre os eleitos, apenas um pode dizer que o partido realmente fez um esforço financeiro para elegê-lo. (O deputado reeleito Anderson Ferreira, do PR, obteve 69% dos seus recursos de campanha através da direção partidária). É valido fazer uma ressalva importante: ainda que não direcionem recursos para determinados candidatos diretamente, é possível que as cúpulas partidárias “orientem” os doadores para financiar campanhas importantes para o partido. É razoável supor que exista uma interação estratégica entre líderes partidários e empresas.

Quando se discutem mudanças nas regras de financiamento, a questão da imposição de um limite para a utilização de recursos próprios em campanhas eleitorais vem à tona.

Não há estudos específicos que busquem entender por que candidatos decidem “investir” tantos recursos para obtenção de um cargo legislativo.

Muito da desconfiança dos cidadãos com a lisura da atuação parlamentar vem desse questionamento “por que gastar tanto?”.

Na eleição pernambucana, 60% dos eleitos gastaram muito pouco do seu próprio bolso, cada um tendo contribuído com menos de 10% das suas receitas totais de campanha.

Por outro lado, três parlamentares adotaram a estratégia de depender quase que exclusivamente de seus próprios recursos.(Felipe Carreras, do PSB, com 84%, Adalberto Cavalcanti, do PTB, com 95,94% e Marinaldo Rosendo, também do PSB, com 96,65%).

Entender quais as razões que levam um candidato a gastar uma quantia considerável do seu próprio bolso parece ser um interessante objeto de pesquisa. É possível que as razões variem bastante, mas não deixa de ser importante para conhecer mais um traço característico do nosso sistema político.

Outro fator interessante da eleição em Pernambuco é que os não-incumbentes(aqueles concorrentes sem mandato) gastaram mais do seu próprio bolso.

Pode-se argumentar, aqui, que por não terem mandato, os challengers têm mais dificuldades em firmar contatos com empresas e possíveis doadores. É razoável supor que é mais complicado para os não-incumbentes construir pontes com empresas e sobretudo com a direção partidária.

Aparentemente, para “entrar no sistema”, vale a pena investir um pouco mais do próprio bolso.