Por Luciano Siqueira, vice-prefeito do Recife Sim, gente amiga, sinto-me tomado de um reprovável egoísmo na relação com as novas tecnologias, que em muito facilitam a minha vida, mas de mim recebem impaciência, incompreensão e mesmo desdém.

Explico: faço bom uso de tudo o que me agiliza a comunicação diária, mas me recuso a dominar mecanismos de funcionamento e orientações constantes de manuais de instrução ou mesmo páginas de ajuda na internet.

Sempre recorro a alguém que sabe tudo, como meus auxiliares Flávio e Zanzul que, quando não sabem, advinham ou descobrem.

O egoísmo está precisamente aí: recebo os benefícios do Facebook, Twitter, Wathsaap, Instagram e de alguns aplicativos que me interessam, e não lhes dou a atenção devida.

Parecido com o caso aqui do meu vizinho de assento num voo Recife-São Paulo, que insiste em falar do seu infortúnio amoroso, indiferente ao meu evidente enfado.

Meio que arrependido (assim me parece), reconhece ter recebido o melhor dos cuidados, o carinho mais envolvente, a solidariedade a flor da pele, a compreensão mesmo nos instantes mais tensos, porém foi incapaz de retribuir com o mais elementar gesto de solidariedade humana: ouvir a parceira.

Tudo havia recebeu e nada ofertou, confessa.

Efetivamente, reconheci, não tenho “escutado” alertas e dicas que aparecem diariamente na tela do meu iPhone, simplesmente ignoro.

Com o risco de pagar caro por siso.

Leio agora que 38 milhões de brasileiros usam o Wathsaap e que aquele ruído chato tem infernizado muita gente, a ponto de gerar crise nervosa, ataque agressivo a aparelhos celulares e coisas assim.

Isto porque a geringonça não para, tal a ânsia das pessoas em se falarem por ali.

E falam de tudo.

Como o integrante de um desses grupos em que me incluíram à revelia, que solenemente anunciou: “faz calor, tomarei um banho, dormirei nu…” - e eu, sem o menor interesse em saber como o dito cujo estaria na cama, se solitário ou acompanhado, se vestido ou como Adão, antes que outros entrassem naquele streep tease virtual, caí fora.

E para não copiar o gesto tresloucado da garçonete inglesa que espatifou seu celular sobre a mesa de um cliente, estressada sob o tiroteio de plimplins emitidos pelas redes sociais, pus no modo silencioso todos os aplicativos que manejo.

E antecipo meu pedido de desculpas se tenho demorado a responder mensagens que vocês me enviam: não é por desatenção; é porque a agenda é pesada e o meu juízo pouco para combinar o trabalho, a leitura, o lazer e o diálogo cibernético interativo.

Faço o que posso.

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