A presidente Dilma Rousseff disse hoje que não está “pretendendo alterar a diretoria da Petrobras”, apesar de considerar um “absurdo” o valor desviado da estatal pelo esquema de corrupção descoberto pela Operação Lava Jato.

Em café da manhã com jornalistas, Dilma defendeu mais uma vez a presidente da companhia, Graça Foster, e insinuou haver interesses por trás das acusações de Venina Velosa, ex-gerente da Petrobras que diz ter alertado Graça sobre irregularidades anos antes das investigações.

A presidente afirmou que consultará o Ministério Público antes de empossar ministros para seu próximo mandato.

O objetivo é saber se os nomes indicados por partidos estão fora da teia de investigações da Polícia Federal.

Dilma prometeu anunciar os novos integrantes do ministério dia 29 de dezembro.

Empreiteiras - Dilma afirmou que as empreiteiras acusadas de participação no esquema devem ser punidas, mas não “destruídas”. “Temos de investigar e punir, isso não significa acabar com a empresa.

Escutei inclusive que nós íamos chamar [estrangeiras].

Por que tem de chamar empresa estrangeira, empreiteira?”, perguntou. “Temos de parar com essa história de quebrar tudo.” Graça - A presidente indicou que desaprova a ideia de um nome do mercado financeiro para comandar a Petrobras. “Não é uma empresa simples, trivial”, disse.

Para ela, não se pode contratar ninguém que interrompa todo o “choque de governança” que ela diz que Graça promoveu na estatal. “Eu conheço a Graça.

Sei da seriedade e da lisura dela.

A Graça assumiu a direção da Petrobras e mudou toda a diretoria.

Abriu todas as investigações que estão em curso.” Pressão - Dilma reconheceu que a executiva, de quem é amiga, enfrenta pressões. “É um nível que poucas pessoas seguram.

Ela segura pelos compromissos que tem com a Petrobras e com o país.

Cria-se um clima sem apontar uma falha dela, um clima muito difícil para ela.

Agora, por isso vou tirá-la?

Penalizo ela por algo que não é responsabilidade dela?” Venina - A presidente exibiu irritação ao falar de Venina Velosa. “Como você tipifica alegação sem prova?”, indagou. “A quem interessa tirar Graça Foster?

O que está por trás?” Diretores ficam - “Eu vou alterar o Conselho [de Administração] da empresa.

Não estou pretendendo alterar a diretoria”, disse Dilma, sem dar detalhes.

Ela adiantou que o presidente do colegiado não necessariamente será o ministro da Fazenda, como hoje.

Apesar do indicativo de manutenção da atual diretoria, auxiliares da presidente garantem que a troca de comando é só uma questão de tempo.

Balanço - Dilma cobrou do Ministério Público acesso aos depoimentos dos delatores do esquema, associando a divulgação do balanço da estatal à necessidade de saber os montantes desviados.

Para o governo, as contas da Petrobras só terão o aval de uma auditoria independente se os valores desviados forem conhecidos. “[O Ministério Público] não pode demorar anos sob pena de comprometer o país”, disse.

Ministério Público - Dilma prometeu consultar o Ministério Público antes de definir nomes para seu futuro ministério. “Consultaremos o procurador [geral da República, Rodrigo Janot].

Eu vou perguntar o seguinte: há alguma coisa contra fulano que me impeça de nomeá-lo?

Só isso que vou perguntar.

Não quero saber o que ele não pode me dizer.” A presidente não explicou como fará a consulta, mas afirmou que não “demonizará” indicações políticas.

Rebaixamento - Dilma disse temer o rebaixamento da nota da Petrobras pelas agências internacionais de classificação de risco, o que poderia agravar suas dificuldades financeiras. “Trabalhamos com o seguinte fato: uma luta incansável para não rebaixarem a nota”, afirmou.

Ajuste fiscal - A presidente afirmou que o ajuste fiscal próximo a R$ 100 bilhões, cogitado por sua equipe econômica, não passa de “chute”, mas prometeu medidas mais “drásticas” para organizar as contas públicas, gesto crucial para retomar o crescimento do país.