Reforma política é urgente Por Moreira Franco, no Globo Vi na imprensa a foto do jovem líder do DEM, Mendonça Filho, com sobrancelhas crispadas e as cerdas bravas do javali, para tomar emprestada a expressão de espanto do nosso grande Nelson Rodrigues.
Bradava ele contra a mudança na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
A força extraordinária da imagem captou minha atenção instantaneamente.
Sobreveio-me um ângulo capaz de orientar um bom debate sobre o grande e maior dos nossos problemas: a política.
Apesar da ferocidade e da tentativa de fazer do tema o núcleo da disputa ideológica entre direita e esquerda no Brasil, a presidente Dilma solucionou o dilema com coragem ao escolher Joaquim Levy para administrar a política econômica.
Levy foi o cérebro por trás do ajuste fiscal nos primeiros dois anos do governo Lula.
Ao tomar essa decisão, Dilma reafirmou que a estabilidade da moeda é uma causa nacional, não pertence à direita nem à esquerda.
Se a escolha de Levy resolve a questão econômica, resta saber por que inflamou-se tão ferozmente o líder do DEM, e não só ele, também o senador Aécio Neves e seus apoiadores. É onde entra a política.
A eficiência das democracias modernas reside na possibilidade de o poder político ser exercido contabilmente.
Manda quem forma a maioria de 51% dos votos.
Dilma ganhou a eleição, liderando uma coalizão de partidos.
Assim como na oposição aglomeraram-se outros tantos, formando duas coalizões, uma para governar e outra para a ela se opor.
Há uma coluna vertebral, composta por partidos polares, densos e estruturados, que funcionam como ponto de equilíbrio e organização.
De um lado, PT e PMDB como linha-mestra da coalizão governista.
Do outro, o PSDB firma a oposição.
Esses três partidos somados detêm apenas 36,8% das cadeiras na Câmara dos Deputados eleita para a próxima legislatura.
As demais cadeiras são repartidas por outras siglas e a novidade é que os partidos menores, que eram 19 na última legislatura, agora já são 25.
Como as maiores bancadas somadas, PT e PMDB contam com somente 26,3% dos votos; para que se exerça o poder é preciso caminhar num imenso deserto até que se chegue nos 51% que representam a maioria.
Para a oposição, com seus 10,5% dos votos, o apoio parlamentar só é conquistado com a possibilidade de derrota do governo, ou seja, a conquista dos 51%.
Sejamos francos.
Com essa realidade, é muito difícil derrotar o governo.
O que levará a novas e futuras explosões coléricas dos que lideram a oposição, radicalizando o processo político.
Então, se o número excessivo de pequenos partidos se constitui num problema-chave da atualidade, qual a solução?
Começar a reforma política o quanto antes.
O movimento social, a política, tem leis próprias. É um erro brutal tentar controlá-lo.
Há pouco tempo, vimos surgir o PSD, o Pros e o Solidariedade.
Já está sendo estimulada a transfiguração do PSD num novo e maior PL, supostamente para minar a influência do PMDB.
Isso será tão somente mais uma agressão à formação da maioria, por artificial.
Por tudo isso, a reforma política é para já.
Precisa ser feita sem interesses menores, sem espertezas.
Fiquemos em três únicos dispositivos: fim das coligações proporcionais, a cláusula de desempenho e o financiamento de campanha.
Eles bastam para começar a eliminar os obstáculos políticos ao desenvolvimento do país.