Foto: BlogImagem O escândalo de corrupção que se abate sobre a Petrobras não se restringe apenas aos campos político e econômico.

Na área social, os ex-trabalhadores que ajudaram a erguer a Refinaria Abreu e Lima, em Suape, no Cabo de Santo Agostinho, vivem dramas pessoais com os salários atrasados e a negação dos direitos trabalhistas.

O cenário atual em nada se assemelha ao passado glorioso e festivo vivenciado pela Rnest, sigla pela qual se refere à refinaria.

No lugar de festa e cerimônia, os ex-trabalhadores vivem momentos de pesadelo com o calote dado por empresas subcontratadas para realizar as obras da refinaria.

Alojamento.

Foto: BlogImagem Sem receber salário desde setembro, os funcionários da Alumini Engenharia (antiga Alusa) - uma das empresas que presta serviço na refinaria - estão sem dinheiro sequer para fazer as refeições ou comprar água mineral.

Como não tem condições financeiras para retornar à cidade natal, os homens vivem nos alojamentos - pagos pela empresa - e dependem da generosidade de terceiros para sobreviver.

O aluguel dos espaços, no entanto, está pago até o dia 14 deste mês.

Sem perspectiva, os funcionários esperam que a Justiça do Trabalho libere o pagamento até o dia 12 ou 15 deste mês.

AUDIÊNCIA PÚBLICA - Nesta terça-feira (9), a Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) visitou um dos alojamentos, localizado em Gaibu.

Os deputados - Betinho Gomes (PSDB) e Zé Maurício (PP) conversaram os ex-trabalhadores e prometeram organizar uma audiência pública para discutir a situação. “Vamos levar isso para o debate e cobrar o papel da prefeitura nessa questão também.

O mais problemático aqui é a questão humana”, disse o deputado Betinho Gomes.

Betinho Gomes e Samuel.

Foto: BlogImagem Os ex-funcionários brigam para obter os direitos previstos na legislação trabalhista, como o pagamento dos salários atrasados, das férias e do FGTS.

Os ex-trabalhadores que restaram nos alojamentos são de várias regiões do país: São Paulo, Belém e Rio de Janeiro são algumas das cidades de onde vieram os trabalhadores.

São histórias de pessoas que viram o sonho do emprego se transformar em pesadelo. “É revoltante essa situação.

Tenho uma filha de 1 ano e 9 meses com deficiência que perdeu o plano de saúde.

Não tenho como andar de cabeça erguida nessa cidade.

Produzimos até o último momento e agora estamos em cárcere privado sem ter como sair daqui, porque não tenho dinheiro.

Que pai é esse que não pode sustentar a própria família?”, desabafa o mecânico montador Dimerson Rodrigues, 22 anos, que chegou em Suape no mês de março, vindo de Belém, no Pará.

Foto: BlogImagem Nesta quarta-feira (10), a juíza da 1ª Vara do Trabalho de Ipojuca, Josimar Mendes, se reúne com os empresários da Alusa para buscar uma solução para o caso.

CRONOLOGIA - Desde o dia 6 de novembro, a Alusa Engenharia saiu da obra da Petrobras, alegando falta de pagamento do contrato.

A empresa deixou uma dívida trabalhista calculada em R$ 116,4 milhões com 4.700 funcionários.

Ainda ficam pendentes para o pagamento em fevereiro e março de 2015 valores referentes a férias (R$ 414,6 mil) e multa (R$ 11,5 milhões).

A promessa era dar baixa nas carteiras de trabalho a partir desta segunda-feira (8), mas o ato resultou em confusão.

Os cálculos realizados pela empresa não estavam corretos, segundos os ex-trabalhadores.

Nesta terça-feira (9), os representantes da empresa sequer apareceram para continuar o processo.

Foto: BlogImagem O valor inclui salários, rescisões e repasses de FGTS e INSS.

Desse total, R$ 60 milhões foram depositados em juízo pela Petrobras, dentro de um processo movido pelo Sindicato dos Trabalhadores na Construção Pesada em Pernambuco (Sintepav).

No último dia 28, o juiz Hélio Galvão, do Tribunal Regional da 6ª Região (TRT/6ª), desbloqueou R$ 126,6 milhões que haviam sido retidos das contas da Petrobras por determinação da juíza Josimar Mendes, da 1ª Vara do Trabalho de Ipojuca.

ENGEVIX - Um grupo de 400 terceirizados que trabalharam na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), da Petrobras, na cidade de Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife (RMR), realizaram um protesto cobrando o pagamento de direitos trabalhistas, na manhã desta terça-feira (9), em frente à portaria leste da unidade, que começou a produzir combustíveis no último final de semana.

O grupo trabalhou para a empresa Engevix, responsável pela construção de edificações como alojamentos e refeitório dentro da Rnest.

Foto: BlogImagem No dia 14 de novembro, o diretor técnico da empresa, Nilton Prado Júnior, foi preso pela Polícia Federal (PF) no Aeroporto Internacional dos Guararapes, no Recife, na sétima fase da Operação Lava Jato.

O protesto não teve resultado e deve ser repetido nesta quarta (10).

De acordo com o Sindicato da Indústria Pesada de Pernambuco (Sintepav-PE), que coordena a luta trabalhista dos trabalhadores desligados de Suape, cerca de 720 pessoas foram desligadas da Engevix no final de novembro, entre eletricistas, encanadores e pedreiros.

Esses trabalhadores não não teriam recebido os salários do mês, o 13º ou o FGTS.

Alguns também não receberam o valor relativo às férias não gozadas.

Por meio de nota, a Engevix informou que a obra foi entregue e o contrato terminou no dia 30 de novembro e disse que todos os funcionários receberam ou estão recebendo as rescisões.