Com uma pilha de papéis nas mãos, Severino mostra que recorreu a todos os órgãos responsáveis para garantir o direito do neto.
Foto: Foto: BlogImagem Avô de um menino de 13 anos, estudante do 4º ano do ensino fundamental, portador de microencefalia e surdez, Severino Ramos luta há dois anos para conseguir um professor intérprete de Libras para acompanhar o neto na escola Rozemar de Macedo Lima, em Casa Amarela, Zona Norte do Recife. “No dia nacional do deficiente físico, eu não tenho o que comemorar”, lamenta Severino, apesar de fazer confusão com as datas, uma vez que o dia oficial é 11 de outubro.
Severino tem 53 anos, é líder comunitário no Alto Nossa Senhora de Fátima e reside no Morro da Conceição, também em Casa Amarela.
Leitor assíduo do Blog de Jamildo, na manhã desta quarta-feira (3), leu a matéria publicada sobre a reunião realizada entre o prefeito Geraldo Julio (PSB) e seu secretariado para fazer um balanço de sua gestão no ano de 2014.
A matéria trazia uma aspa em que o prefeito dizia que, na sua avaliação, “ganhamos 2014”. “Não ganhamos”, diz Severino em sua resposta enfática publicada via comentário.
Severino diz que já apelou a todos os órgãos competentes para garantir ao neto portador de necessidades especiais o direito que lhe é garantido constitucionalmente.
Com uma pilha de papéis nas mãos, o líder comunitário mostra três ofícios onde a escola solicita junto à secretaria de Educação o profissional habilitado para atender o neto.
Até a data de publicação desta matéria, nenhum deles foi atendido.
LEIA TAMBÉM: » “Ganhamos 2014?, diz Geraldo Julio em reunião com secretariado » Taxistas do Recife recusam corrida para pessoas com deficiência física O avô chegou a ir pessoalmente a várias secretarias da PCR e tentou inclusive falar com Geraldo Julio.
Como não obteve sucesso, escreveu uma carta endereçada diretamente ao prefeito onde questiona: “Senhor prefeito, gostaria de saber de V.S.ª se, caso o sr. tivesse um filho com necessidades especiais e na escola em que seu filho estudasse não tivesse professor para ensinar ao mesmo, quais providências o sr. tomaria?”.
Severino também chegou a escrever duas vezes para a PCR através do serviço “Recife Responde”.
Como resposta, a secretaria de Educação disse que “está finalizando o edital para concurso de intérprete de Libras, a fim de atender a demanda da rede municipal até o segundo semestre de 2014”.
No entanto, no mês de dezembro do referido ano, a situação de Severino e do neto continua a mesma.
Sem saber mais o que fazer e nem a quem recorrer, o avô chegou a cogitar usar o dinheiro da aposentadoria por invalidez recebida pelo neto para pagar o salário de um estagiário que o acompanhe nas aulas: “Nós recebemos R$ 724 da aposentadoria dele. É um dinheiro que usamos para comprar as coisinhas dele, um biscoito, essas coisas.
Eu já cheguei a propor tirar R$ 500 desse dinheiro para pagar o salário do estagiário.
Infelizmente a diretora disse que não é possível”.
O avô narra ainda que, mesmo sabendo que o neto não pode acompanhar as aulas da mesma forma que os seus colegas “normais”, leva-o todos os dias para a escola: “Ele vai com o caderno ’limpo’ e volta com o caderno ’limpo’, é muito triste ver que isso acontece com ele, pois eu acredito que a educação é a base de tudo na vida”.
Resposta da Prefeitura: Durante a conversa, Severino apresentou cópias dos textos da Declaração Universal dos Direitos da Criança e da Constituição Federal, onde o direito à educação do neto é assegurado.
Também tinha nas mãos um folheto da Prefeitura, onde era mostrada uma turma de crianças sorrindo, com lápis e cadernos numa sala de aula da rede municipal e conclui: “Eu queria que o meu neto estivesse sorrindo também”.
A secretaria de Educação da Prefeitura do Recife emitiu nota ao Blog de Jamildo no fim da tarde de quarta-feira, informando que um estagiário do curso de Pedagogia atendeu o neto de Severino entre os meses de abril a setembro de 2014, que o contrato teve fim e que, até o momento, não encontrou outro estagiário para preencher a vaga, pois se trata de um profissional com capacitação muito específica e difícil de encontrar.
Através da nota também é informado que, na unidade de ensino onde o garoto estuda, há três profissionais capacitados para acompanhar alunos que possuem algum tipo de deficiência, mas que todos eles atuam no turno da manhã.
Segundo a secretaria, a profissional que trabalha no turno da tarde emite licenças médicas consecutivas e em curtos intervalos de tempo, fato que impossibilita a PCR de contratar outro profissional, uma vez que o posto não fica ‘vago’.
Além disso, a secretaria informa também que a gestão do prefeito Geraldo Julio criou um cargo especial na rede municipal de educação do Recife para dar suporte aos alunos portadores de deficiência física e que, até o fim 2015, profissionais selecionados através de concurso devem começar a atuar nas escolas da cidade.