Audiência pública do Novo Recife.
Foto: Guga Matos/JC Imagem.
Discussões acaloradas e gritos contra o prefeito Geraldo Julio (PSB) pontuaram a audiência pública realizada nesta quinta-feira (27) para apresentar o redesenho do Projeto Novo Recife, elaborado pelo consórcio homônimo e divulgado pelas construtoras à imprensa no último dia 6, um dia antes do que havia sido previsto para o ato, remarcado após decisão do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
A audiência começou por volta das 9h20, com a exposição do projeto reestruturado para o Cais José Estelita, área histórica do Centro da capital pernambucana.
Agora, o empreendimento deverá ter 13 prédios com alturas entre 42 e 137 metros de altura, o que equivale a 12 e 38 andares.
Segundo o projeto, deverá ser dez edifícios residenciais, um hotel, um empresarial e um flat, além de 65% da área para uso público.
Na mesa, mostrando o novo plano, estavam representantes da Prefeitura do Recife, como o secretário de Desenvolvimento e Planejamento Urbano, Antônio Alexandre, e do consórcio formado por quatro construtoras - Moura Dubeux, Queiroz Galvão, Ara e GL Empreendimentos.
Abaixo deles, uma faixa usada pelo Movimento Ocupe Estelita, com a frase: “A cidade é nossa.
Ocupe-a”.
OUÇA Audiência pública sobre Novo Recife acontece sob vaias de participantes Em mais de cinco horas de audiência, diversos integrantes do movimento retomaram os seus argumentos contra o projeto.
Uma das bandeiras dos manifestantes é que o plano diretor que definirá as diretrizes urbanísticas para a área deveria ter sido elaborado antes do redesenho. “O que faria sentido era que a audiência fosse para dar a devolução sobre as 277 diretrizes sugeridas.
Participação popular implica ouvida e devolutiva.
Essa audiência deveria ter outro objeto”, defendeu a advogada Liana Cirne Lins. “O patrimônio histórico não é respeitado por esse redesenho.
A paisagem não está sendo tratada como direito de todos, e sim como um produto de luxo”, acrescentou.
LEIA TAMBÉM Redesenho do Novo Recife atende aos pedidos da PCR e amplia em 20% a área pública do empreendimento A procuradora da República Mona Lisa Duarte Ismail questionou o redesenho, afirmando que ele não deixou de lado características ainda analisadas pelo Ministério Público Federal (MPF), como o valor histórico da região e o fato de estar em pátio ferroviário.
Ismail defendeu a preservação da área. “As diretrizes foram estabelecidas entre o consórcio e a prefeitura.
Então, a gente não pode considerar que houve um processo de discussão”, afirmou ainda.
Não faltaram críticas também ao prefeito Geraldo Julio, que não foi à audiência porque participava da reunião da Executiva Nacional do PSB, em Brasília. “Recife não pode mais organizar a cidade depois dos interesses econômicos”, afirmou candidato a governador de Pernambuco nas últimas eleições Zé Gomes (PSOL), que disse ainda que o socialista é “o funcionário do ano da Moura Dubeux”.
O prefeito ainda foi acusado pelos manifestantes de ser “laranja” de empreiteiras.
No entanto, as opiniões não foram apenas contra o Projeto Novo Recife.
Líderes comunitários que haviam se posicionado a favor do empreendimento também se manifestaram. “Vocês estão nessa situação e não estão apresentando nenhum projeto de moradia social para essas áreas”, disse Branquinho do Pina, que se retirou afirmando querer ser vaiado pelo Ocupe Estelita.
Renê Guedes, do Coque, era o mais exaltado, interrompendo algumas falas aos gritos.
Morador do bairro de São José há 54 anos, Albino Sérgio afirmou que o Novo Recife é importante para a área por tirar a sensação de abandono que ele sente no local. “A gente deveria ter brigado antes de ser vendido”, afirmou.
O arquiteto Sérgio Guedes, a favor do projeto, conclamou os participantes da audiência a se unir não contra o Novo Recife, mas pela revisão do plano diretor da cidade. “A construtora não faz o que quer, faz o que a sociedade quer comprar, o que o mercado pede”, disse.
Esperando um clima de tensão no ato sobre o projeto envolto em polêmicas, a Guarda Municipal e o Batalhão de Choque também aguardaram fora do Clube Internacional, onde foi realizada a audiência pública.
Em junho, a Polícia Militar foi criticada por grupos da sociedade, acusada de usar a força para retirar os manifestantes que ocupavam o Cais José Estelita em protesto contra o início da demolição dos galpões, nunca concluída.