Por Paulo Veras, repórter do Blog de Jamildo Se depender da vontade do governo federal, a representação do negro na política deve ser inserida nas discussões sobre a realização de uma reforma política no Brasil.

A promessa é de Felipe Freitas, coordenador do Plano Juventude Viva, que concedeu entrevista ao Blog de Jamildo, por telefone, em nome da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Social da Presidência da República (Seppir). “Quando as pessoas negras percebem que ela são a maioria do povo, mas não são a maioria dos representantes do povo, isso contribui para deteriorar as nossas noções de representação.

Na medida em que aqueles que me representam não parecem comigo, a minha própria noção de representação, de auto-estima e de representatividade ficam alteradas”, afirmou.

Levantamento do Blog mostra que quase 80% dos novos deputados federais se declaram brancos.

Para Felipe Freitas dois aspectos contribuem para que os negros tenham menos espaço no Parlamento.

A primeira delas é que as eleições para esses cargos depende da influência dos políticos nos partidos e da capacidade de captar dinheiro para a campanha. “Considerando que a população negra tem menos acesso a essas fontes de financiamento, ela tem menos chances”, admite.

LEIA TAMBÉM: » Apenas 4,3% da nova Câmara Federal é de negros » Nenhum dos governadores e senadores eleitos em 2014 se declarou negro » Cota para negros no Legislativo está parada há mais de um ano no Congresso Federal Outro fator seria o preconceito que faria com que as pessoas não se vissem representadas em um candidato negro. “É difícil que se pense na possibilidade de ter pessoas negras assumindo cargos de poder no Brasil.

Na hora do voto, isso pesa na cabeça do eleitor”, avalia.

Questionado sobre as propostas de criação de cotas para políticos negros, o representante do ministério afirma que as políticas afirmativas já comprovaram a sua validade na correção de desigualdades em outras áreas. “A Seppir, assim como o governo federal, reconhece o valor de políticas afirmativas nas ações de igualdade.

Foi assim nas universidades brasileiras, foi assim no concurso público”, lembrou. “No debate da reforma política, certamente é importante que se considere a representação política das pessoas negras”, diz. “A gente precisa ver dentro desse debate quais os mecanismos que corrijam as desigualdades.

E precisa discutir quais são os melhores”, afirma.

Freitas deixa claro que a posição do Planalto não vai ser a determinante; mas o que vai pesar é a vontade da sociedade, expressa através do parlamento.

O representante do ministério, acredita, porém, que é possível estimular outras formas de participação institucional dos negros, como a lei que determinou a reserva de cotas para negros nos concursos públicos federais. “Esse é um mecanismo que deve ser decisivo na correção de desigualdades”, defende. “Sem sombra de dúvidas, os esforços feitos ainda são menores do que a demanda por inclusão nesse País.

O governo tem apostado, ao longo dos últimos anos, em medidas que formassem um marco legal para que a gente pudesse incindir para promover a igualdade.

Nesse sentido, o Estatuto da Igualdade Racial é uma medida importante porque assegura uma agenda para que a sociedade e os governos possam seguir”, lembra também.

Freitas admite também que a pouca presença de negros nos cargos de governo no Brasil acaba tornando menos visível as pautas da população negra dentro das administrações públicas, mas defende uma mudança nessa visão. “A questão dos negros não pode continuar a ser tratada como uma questão de responsabilidade das pessoas negras.

Ela tem que ser tratada como de responsabilidade de toda a população brasileira.

Então, a nossa expectativa é que eles se comprometam com a agenda da igualdade racial”, afirmou.