Por Fernando Castilho, colunista de economia do Jornal do Commercio Katharine Graham era presidente do Washington Post quando, em setembro de 1973, recebeu num jantar no seu luxuoso apartamento na capital dos Estados Unidos, acompanhados do editor Bem Bradlee, os repórteres Bob Woodward e de Carl Bernstein.

Na varanda, Graham encetou uma conversa com Bernstein sobre a apuração do caso Watergate e que a levou fazer uma pergunta inquietante ao jornalista: ele poderia lhe dizer: afinal, quem era “Deep Throat” nome que a redação apelidara o informante dentro do governo que passava as informações ao repórter?

Bernstein estava pronto para responder quando a senhora Graham lhe interrompeu: Não quero ter que guardar para o resto de meus dias uma informação tão inquietante.

Deep Throat, como se sabe, era ninguém menos que W.

Mark Felt, vice-diretor do FBI e que abasteceu Bernstein por todo caso, mas que só se revelou em 2005 quando ele mesmo, disse isso a revista Vanity Fair.

Katharine Graham que morreu em junho de 2001 nunca soube quem era o informante de seu funcionário e Mark faleceu em dezembro de 2008, aos 94 anos.

A informação histórica acima se justifica para ilustrar o drama que a presidente reeleita Dilma Rousseff viveu quando, fora do país, e dentro de uma reunião com os presidentes das 20 maiores economias do mundo soube que dezenas de diretores de megaempresas com contratos de quase R$ 60 bilhões com a maior estatal do seu país estavam sendo presos acusados de corrupção contra o Estado que ela comanda, seja presidindo o Conselho de Administração da Petrobras, seja presidindo o país.

O que estarão pensando de mim?

Deve ter se perguntado Dilma Rousseff no silêncio de seu quarto sábado de manhã, em Brisbane, na Austrália.

Me tomarão por quem?

A chefe de um bando que assalta os cofres públicos de sua pátria?

Ou uma leniente total que, simplesmente, não sabe o que acontece durante anos numa área em que se especializou e a qual lhe deu credencias para assumir o poder presidencial?

Se fez as perguntas, às respostas que deu a si mesma só saberemos se Dilma as revelar daqui a alguns anos.

Mas diferentemente de Katharine Graham que pode se abster de saber quem era Deep Throat, Dilma Rousseff, pelas posições que ocupava não pode ser dar ao luxo de simplesmente ter ignorado o que acontecia na Petrobras.

Ela, melhor do que ninguém sabe que é isso que vão lhe cobrar.

Certo, nenhum cidadão honesto, por mais crítico que lhe seja, admite sequer que ela tenha se aproximado desse lixo.

Não é isso que se discute, pelo menos agora.

Mas, isso é o que menos importa.

O que preocupa a presidente é o que fazer daqui para frente no Brasil quando, oficialmente, tem que cuidar da formação de uma nova equipe com quem prometeu na campanha fazer um governo novo.

Não era para ser assim.

Mais da metade dos eleitores lhe deram um novo mandato apostando num governo melhor que o primeiro.

Deveria estar juntando as melhores cabeças do país e eliminando centenas de currículos de candidatos a cargos de primeiro escalão.

Mas, desde o dia que venceu as eleições nenhum nome, que foi especulado, ajudou a melhorar as expectativas do segundo mandato.

Dilma corre o risco de ter que escolher entre a “ninguensada” de ministros medíocres que passaram pelo governo, boa parte deles passiveis de estarem nas próximas listas de preso da Polícia Federal.

E é aí que a coisa se apresenta mais difícil para a presidente.

Da lista de candidatos, que garantias a presidente tem de que não estão envolvidos do escândalo?

E que sobre esse aspecto é emblemático o número do item que a Policia Federal deu à prisão dos corruptores: 7o.

Ora, se é o 7o, é possível que seja parte de uma lista de 10 onde o 8o item estaria reservado aos políticos (deputados e senadores), o 9o aos ministros e ex-ministros do atual governo e o 10o à própria presidência da República ainda que não, a senhora presidenta?

Quem pode garantir que não?

E aqui é interessante revelar uma história que pouca gente conhece narrado numas dessas inaugurações de empreendimento do PAC por um executivo gabando-se de como sua empresa tinha virado grande fornecedora do governo Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Segundo ele, foi assim: Em janeiro de 2003, quando Lula ainda era curiosidade internacional e todos os chefes de Estado queriam posar com ele, o então ministro José Dirceu chamou presidentes das principais empreiteiras e começou uma conversa quee todos os que conheceram José Dirceu, Ministro da Casa Civil, podem avaliar o tom: Vocês querem obras?

Não vai ter obras.

Vai ter empreendimento.

Muito novo negócio.

A Petrobras fará o maior volume de compras da história, vamos precisar de empresas para fazer navios, refinarias e vamos ter muitas obras de infraestrutura em forma de PPP e o BNDES vai estimular que tenhamos grandes empresas em vários setores.

Os senhores podem ficar esperando obras ou virar empresários de novos negócios diversificando suas atividades.

Os interlocutores saíram com opiniões divergentes, mas se sabe hoje que mesmo entrando em dezenas de novos empreendimentos com ajuda do BNDES, a busca por obras não diminuiu.

Até porque as demandas dos novos projetos do governo os levou a atuar em setores que nunca tinham entrado.

O que só se sabe agora é que no meio daquela onda de construção de campeões de serviços de infraestrutura e novos negócios engendrou-se também (e até agora não se sabe comandando por quem), um esquema em que haveria um pedágio, pelo menos na principal contratante do Governo: a Petrobras.

O que o país está começando a saber, a palavra é essa mesmo: começando a saber, é que montou-se um esquema tão extraordinário que se não fosse o abandono a que os controladores do esquema tiveram com Paulo Roberto Costa e Albert Yussef, a Policia Federal, o Ministério Público e o juiz, Sérgio Moro, não teriam como chegar à fase 7 da investigação.

Esse é o diferencial.

Implodindo o esquema a pergunta é: qual será o comportamento do ex-diretor de serviços, Renato Duque?

O mesmo de Paulo Roberto Costa?

E o dos demais presos?

Talvez por isso é que hoje se fale tanto na solidão da vitória de Dilma Rousseff.

De volta para casa, ela sabe melhor do que ninguém que os investigadores seguiram, 30 anos depois, o conselho de Mark Felt, o velhinho FBI, a Bernstein: o rastro do dinheiro.

E é importante repetir: o país não pode sequer admitir, de alguma forma, esse rastro de lixo se aproxime do seu CPF.

Estamos falando da Presidente da República do Brasil.

Uma advertência que, como disse o ministro do TCU, José Mucio, é a única coisa com quem Dilma Rousseff tem total compromisso.

E é isso que, apesar dos mais de 53 milhões de votos, a faz se sentir tão só.