Jairo Santiago, coordenador da Pesquisa de Emprego e Desemprego da Condepe/Fidem e Dieese.

Foto: divulgação Nos últimos 16 anos, apesar de todas as mudanças ocorridas em Pernambuco, a diferença entre os índices de desemprego para negros e pardos na Região Metropolitana do Recife (RMR) em relação aos brancos e amarelos é relativamente a mesma.

O dado, apresentado na semana do Dia da Consciência Negra, volta a levantar o alerta sobre a desigualdade que envolve essa parcela da população.

A informação é do Boletim sobre Mercado de Trabalho para Negros, divulgado nesta terça-feira (18) pela Agência Condepe/Fidem, em parceria com o Dieese.

Entre os negros e pardos, grupo que compreende a “população negra”, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o índice de desemprego é de 13,5%.

Para os não-negros, o desemprego é de 11,6%.

A diferença é expressiva quando o levantamento mostra que mais de 74% da População Economicamente Ativa da Grande Recife se encaixa na classificação de população negra.

Os números divulgados são de um balanço feito nos dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego do ano de 2013.

Eles mostram que a taxa de desocupação dessa parcela da população era de 12,6% no ano anterior.

Segundo o coordenador dos levantamentos, Jairo Santiago, o desemprego entre negros e pardos está sempre em torno de 1% desde 1998.

Veja os dados: A pesquisa mostra que mais negros têm entrado no mercado de trabalho, mas a proporção é a mesma que a de não negros.

Entre 2012 e 2013, mais 43 negros foram contratados.

Outros 21 mil tentaram entrar no mercado e não conseguiram.

Se somaram aos 165 mil negros desempregados que já haviam na Grande Recife.

O levantamento mostra que os negros estão mais colocados em empregos sem carteira assinada, trabalhando como autônomos ou como empregados domésticos.

Os não-negros são maioria no setor público e nos papeis de empregadores ou de profissionais autônomos. “Se nós fizéssemos a estratificação, os amarelos ocupam as posições mais prestigiadas.

Os brancos vêm em seguida.

Depois os pardos.

E os negros ocupam os cargos mais desprestigiados”, afirmou Jairo Santiago. “Quanto mais você se afasta desses traços europeus, desse ‘pedigree’, mais essas pessoas são descriminadas”, disse o coordenador.

Os resultados têm efeito sobre o rendimento das pessoas.

A renda média dos negros e pardos é de R$ 1.129.

Esse valor representa apenas 68,8% dos R$ 1.640 da renda média dos brancos.

Por hora trabalhada, os brancos recebem, em média, R$ 8,71.

Negros e pardos recebem apenas R$ 6 para trabalhar o mesmo período de tempo.

Marta Almeida, coordenadora do Movimento Negro Unificado de Pernambuco.

Foto: divulgação E a diferença é maior entre as mulheres negras, cujo rendimento médio por hora é de apenas R$ 5,28.

Um homem branco ganha quase duas vezes por hora o que recebe uma mulher negra, aponta a pesquisa.

O dado positivo é que a formação dos empregados negros melhorou nos últimos 10 anos.

Em 2004, 35,5% desse grupo tinha ensino médio completo e outros 6,1% possuía ensino superior completo.

Em 2013, esses índices são, respectivamente, 45,5% e 9,8%.

Para Marta Almeida, coordenadora do Movimento Negro Unificado, os ganhos são resultado de uma luta do movimento negro em busca de políticas afirmativas. “Ainda não é o satisfatório.

O que nós questionamos é a qualidade desses empregos”, afirma.

Ela também defende que o mercado precisa se abrir para as possibilidades de trabalho da cultura negra, como a confeção de artesanato e vestuário. “Pernambuco precisa ter um olhar mais atento para seu turismo étnico”, disse ainda.