Foto: Roberto Stuckert Filho/PR A presidente Dilma Rousseff acredita que a investigação dos casos de corrupção na Petrobras pode mudar o Brasil “para sempre”.
A afirmação foi feita em entrevista na Austrália na tarde deste domingo (madrugada no Brasil) antes de deixar a reunião de cúpula das 20 maiores economias do mundo, o G-20. “Eu acho que isso pode, de fato, mudar o País para sempre”.
Na entrevista antes do retorno ao Brasil, Dilma disse que o escândalo na maior empresa brasileira mudará o País porque mostra que não existe impunidade e há condenação entre os corruptos e também entre corruptores. “Pode mudar o País no sentido de que vai se acabar com a impunidade.
Essa é, para mim, a característica principal dessa investigação. É mostrar que ela não é algo ’engavetável’”, disse Dilma. “Isso eu acho que mudará para sempre as relações entre a sociedade brasileira, o Estado brasileiro e as empresas privadas”.
A presidente repetiu diversas vezes que o escândalo que culminou na nova rodada de prisões pela operação Polícia Federal na operação Lava Jato é “diferente” de casos anteriores. “Eu acredito que a grande diferença dessa questão é o fato de ela estar sendo colocada à luz do sol.
Por que?
Porque esse não é, eu tenho certeza disso, o primeiro escândalo.
Agora, ele é o primeiro escândalo investigado.
O que é diferente”, disse. “O fato de nós estarmos com isso de forma absolutamente aberta sendo investigado é um diferencial imenso”, reforçou.
CAUTELA - Apesar de reconhecer o alcance histórico dos desdobramentos do caso, Dilma afirmou aos jornalistas que é preciso ter “cuidado”. “A gente tem de ter cuidado porque nem todas as investigações podem ser dadas como concluídas.
Então, não pode sair por aí já condenando A, B, C ou D”, disse.
A presidente da República disse ainda que a estatal petrolífera “não tem o monopólio da corrupção”.
Dilma lembrou especificamente de um dos maiores casos de corrupção da história corporativa mundial: o da norte-americana Enron - empresa que apresentou receitas infladas no balanço e que chegou a ser a sétima maior companhia dos Estados Unidos.
LAVA JATO - Dilma disse ainda que não vai “colocar carimbos” e não vai “demonizar” as empreiteiras envolvidas no escândalo de corrupção na Petrobras descoberto pela Polícia Federal na operação Lava Jato.
Na primeira entrevista após a nova onda de prisões no caso, Dilma disse que são as pessoas que devem ser punidas.
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São grandes empresas e se A, B, C ou D praticaram malfeitos, atos de corrupção ou corromperam alguém eles pagarão por isso.
Isso não significa que a gente vai colocar um carimbo na empresa.
Não se faz isso”, disse em entrevista após participar da reunião das 20 maiores economias do mundo, o G-20.
Para a presidente da República, a reação do País à descoberta da corrupção na maior empresa brasileira servirá como “um teste”. “Tratar dentro da normalidade democrática um caso desses é o nosso teste também. É sabermos que nem todos são culpados e não dá para pegar e estender a culpa de uns para todos.
Não dá para fazer isso”, disse, ao defender que a culpa será “individualizada em todos os casos”. “Não vamos julgar a empresa X ou Z a não ser que ela esteja 100% indiciada, o que não é o caso”.
CORRUPÇÃO - A corrupção não é uma exclusividade da Petrobras.
A afirmação foi feita por Dilma.
Ao lembrar que há outros casos de corrupção no setor corporativo, a presidente citou como exemplo a norte-americana Enron que faliu após a maquiagem de balanço.
Em defesa da estatal, Dilma disse que “não se pode condenar a empresa”. “O que nós temos de condenar são as pessoas”, disse. “Não é um monopólio da Petrobras ter processos de corrupção.
Eu quero te lembrar que um dos grandes escândalos de corrupção investigados no mundo foi o da Enron.
E a Enron era uma empresa privada”, disse Dilma em entrevista coletiva no fim da reunião das 20 maiores economias do mundo, o G-20. “A maioria absoluta dos funcionários da Petrobras não é corrupta.
Há pessoas que praticaram atos de corrupção dentro da Petrobras”, disse.
Para a presidente, “não se pode condenar a empresa”. “O que nós temos de condenar são as pessoas.
E as pessoas dos dois lados.
Dos corruptos e dos corruptores”, disse, ao comentar que o fato de corruptos e corruptores estarem atrás das grades “é simbólico para o Brasil”.
Questionada sobre o impacto do caso na reforma política ou na possibilidade de perder apoio no Congresso, a presidente negou as duas hipóteses. “Dentro dos nomes cogitados, não há pessoas que podem estar envolvidas”, disse, ao comentar que o escândalo já era conhecido e o governo não conhecia apenas os nomes dos envolvidos. “Você há de convir que essa questão da Petrobras já tem certo tempo.
Então, nada disso é tão estranho para nós.
Nós não sabíamos as pessoas concretas, mas nós sabíamos da investigação”, completou.