Montagem: NE10 Por Jamildo Melo, editor do Blog Nunca antes na história do País, Minas Gerais foi tão discutida nas eleições presidenciais.

Não apenas pelo fato de os dois adversários terem nascido lá.

A campanha do PT apostou em desconstruir o senador tucano Aécio Neves no tempo em que governou o estado, mais ou menos como fez com a ex-senadora acriana Marina Silva.

Minas ainda é o segundo maior colégio eleitoral do Brasil.

Desde a redemocratização, nenhum candidato à Presidência triunfou sem vencer no Estado.

E não foi diferente agora.

Dilma levou a melhor em seu estado de origem com 52,41% dos votos.

Aécio, governador do Estado em dois mandatos, ficou com 47,59%.

Até a fábrica da Fiat, em Pernambuco, entrou na campanha local, conforme informou o Blog de Jamildo.

Com seu aliado em queda nas pesquisas, o tucano tentou jogar no colo do adversário Fernando Pimentel, ex-ministro do Desenvolvimento de Dilma, a culpa pela perda da expansão para Pernambuco.

No segundo turno, Lula e Dilma, interessados em fragiliza-lo no Nordeste, deram o troco e vieram até a cidade de Goiana, para comemorar a descentralização da indústria automobilística nacional.

Para se vacinar dos ataques, Aécio afirmou que seria o grande parceiro de Pernambuco e condenou a falta de repasses federais ao Estado.

Escolheu o radialista Geraldo Freire para dar o recado, depois da passagem de Lula e Dilma. “Eu tenho um Nordeste no território mineiro.

Meu pai é da região mais pobre do Vale do Jequitinhonha.

O que eu posso garantir aqui é que, a quatro dias desta eleição, eu serei o grande parceiro do prefeito Geraldo Julio e do governador Paulo Câmara”, disse Aécio.

No Recife, Lula chegou a comparar os tucanos com “nazistas na Segunda Guerra”, em mais uma incitação ao ódio e às agressões, prática que o PT vem se especializando.

Aécio afirmou que a atitude não é própria de uma campanha que está “tranquila”.

Ao contrário. “É próprio daqueles que acham que o poder é eterno”, destacou. “Não é uma campanha de quem está se sentindo vitorioso”, afirmou Aécio, lembrando que sempre teve “respeito pessoal” por Lula e que teve com ele uma “relação republicana”, quando foi governador de Minas Gerais e o petista, presidente da República. “O que eu não acho apropriado - e aqui fico apenas nessa crítica - é um ex-presidente da República numa campanha eleitoral ofender adversários apenas porque são seus adversários.

Acho que a figura presidencial deve de alguma forma ser preservada”, concluiu Aécio.

Pela sua configuração sócio-econômica, o Estado de Minas Gerais também se dividiu.

As áreas mais desenvolvidas economicamente ficaram com Aécio.

A região mais pobre, dependente de programas governamentais, não por acaso incluídos na Sudene, ficou com Dilma.

Falou-se da saúde dos mineiros, da educação dos mineiros, do emprego dos mineiros, com estatísticas para todas as torcidas.

De acordo com a contabilidade petista, depois do primeiro turno, dos cerca de 800 municípios mineiros, 200 estavam fechados com Dilma para o que der e vier.

Outros 200 se alinhavam com Aécio.

E cerca de 400 estavam esperando para ver para onde o vento soprava.

No primeiro turno, o PT, com Fernando Pimentel, venceu, batendo o tucano Pimenta da Veiga.

Nos debates, Dilma dizia que a perda era uma derrota de Aécio, que não estava disputando o governo.

Aécio retrucava sempre afirmando que se elegeu e reelegeu-se governador, saindo com uma aprovação elevada.

O amplo interesse no Estado também se explica pelo futuro.

Depois de eleito governador logo no primeiro turno, Fernando Pimentel transformou-se automaticamente em uma aposta do PT para concorrer à Presidência da República em breve.

Seus trunfos são comandar um estado de porte e, na política, ser ligadíssimo a Dilma.

Foi ministro do Desenvolvimento dela, inclusive.

Tem como concorrente de peso, se Lula não disputar novamente as eleições futuras, o baiano Jaques Wagner, que elegeu seu aliado também em primeiro turno na Bahia.

Como é mais ligado ao ex-presidente do que Pimentel, terá o apoio da ala do partido mais fiel a Lula.

VACINA PARA CAVALO - O conselheiro aposentado do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG) Sylo Costa, citado pela candidata do PT, Dilma Rousseff, durante debate na Rede Record, no último domingo (19/10), desmentiu a versão.

Em artigo publicado pelo jornal O Tempo, Sylo destaca que a candidata do PT tentou manipular os fatos relativos a gastos em saúde feitos pelo governo estadual na gestão Aécio Neves.

O então relator atestou os investimentos e reiterou que as contas do então governador Aécio Neves foram aprovadas por unanimidade pelo TCE-MG. “Bem, quase caí da poltrona durante o debate do último domingo, quando ouvi Dona Dilma, com ar triunfal, declarar que eu teria dito, na qualidade de relator das contas do então governador Aécio Neves, que vacina para cavalo foi contabilizada como despesa de saúde.

O que ela pretendeu fazer - como de hábito, aliás - foi manipular os fatos, numa tentativa de atacar seu adversário.

Explico: como relator, orientado por minha assessoria, mandei retirar da conta da Secretaria de Saúde uma fatura de compra de vacinas sem especificação e lançá-la na conta da Secretaria de Agricultura, erro material que não afetava o cumprimento do índice constitucional da saúde.

Tanto que me posicionei pela aprovação das contas.

O parecer prévio sobre as contas do governador foi aprovado por unanimidade.

Posteriormente, recebi da Secretaria de Agricultura a informação de que a compra das vacinas era mesmo para a saúde, já que se tratava de vacinas contra aftosa para experimentos da Fundação Ezequiel Dias”, diz trecho do texto.

AÇÃO DO MP - No último dia 20, o corregedor-geral do Ministério Público de Minas Gerais, Luiz Antônio Sasdelli Prudente, abriu procedimento administrativo disciplinar, visando apurar eventuais desvios funcionais por parte dos promotores de justiça que ajuizaram ação civil pública contra o governo de Minas Gerais.

Os tucanos protestaram que a iniciativa dos promotores causou estranheza por ter sido utilizada documentação que já havia sido invalidada pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, e que, portanto, não poderia ser utilizada em outros processos. “Chamou também a atenção o fato de a ação ter sido ajuizada após pretensa investigação que se arrastou por 853 dias e foi finalizada na última sexta-feira, a nove dias das eleições presidenciais, além de a imprensa ter sido informada antes mesmo que o governo.

O fato de a ação ter sido utilizada 48 horas depois pela presidente da República e candidata à reeleição impõe ainda maior gravidade, denotando a sua utilização indevida para fins meramente eleitorais”, reclamaram.