Por Roberto Numeriano O uso abusivo e manipulatório da morte trágica do ex-governador Eduardo Campos, pelos políticos ensandecidos com o poder, é o traço mais irracional dessa campanha.

O cadáver continua insepulto, exibido em praça pública como um mártir, cultuado como um santo político.

Aécio já no guia de abertura do 2º turno ressuscitou esse engodo, esse ultraje.

Funcionou em Pernambuco, certamente vai funcionar, acredita o seu marketing, para outra boa parte do eleitorado brasileiro.

Não me surpreenderei se em breve, nos palanques, aquelas crianças órfãs de pai surgirem como peças de propaganda pedindo votos.

Mas o fato é que o luto não pode definir o voto.

O luto não pode servir, na esfera pública, como instrumento para convencer segundo a perspectiva da perda e da dor.

A viúva, sra.

Renata Campos, merece toda a natural consideração e respeito dos pernambucanos, em face do que ela e sua família sofrem com o trauma.

Mas nem por isso, a essa altura, devemos ver como natural algo que extrapolou, politica e moralmente, a esfera do privado e invadiu a esfera pública como o projeto de poder de grupos políticos (inclusive o PSB).

Começa a ficar caricato ver na mídia as notícias sobre o que a viúva pensa e/ou vai decidir sobre tal e qual questão.

Se ela silenciou ou divulgou uma nota.

O que o seu filho disse ou deixou de dizer.

E, seja qual for o resultado da eleição, em breve ninguém mais vai consultar a viúva.

Tudo será como deve ser: o luto começará a ser vivido de verdade pela família, e a política (livre dessa mistura apelativa e manipulatória dos corações e mentes) voltará a ser tocada pelo pragmatismo dos muitos e conflitantes interesses.

Roberto Numeriano é jornalista, professor, pós-doutor em Ciência Política e membro da Executiva Estadual do PSOL/PE.