Por Marcela Balbino, repórter do Blog Sempre influente nos bastidores das campanhas políticas em Pernambuco, a família do ex-governador Eduardo Campos (PSB) transformou o luto em luta nas eleições deste ano e assumiu o protagonismo para ajudar a eleger os candidatos da Frente Popular: Paulo Câmara para o Governo do Estado e Fernando Bezerra Coelho para o Senado.

Demonstrando força e unidade, o papel que Renata de Andrade Lima Campos, viúva do ex-governador, e os filhos exerceria até o desfecho das eleições estava desenhado desde o momento em que ela participou de um ato político, um dia depois de enterrar o companheiro de mais de trinta anos e pedir para que tudo fosse mantido como Eduardo desejou, afirmando que iria participar “por dois na campanha.” Renata Campos promete ao marido morto: “Fica tranquilo, Dudu, teremos a coragem para mudar o Brasil!” “Paulo [Câmara], Raul [Henry] e Fernando [Bezerra Coelho] contem com a gente.

Pode parecer que o nosso maior guerreiro não está na luta, mas os seus sonhos estarão sempre vivos em nós.

Fica tranquilo, Dudu, teremos a sua coragem para mudar o Brasil”, discursou Renata, no dia 18 de agosto, lendo o pronunciamento na tela de um celular, ladeada pelos filhos Maria Eduarda, 22 anos, João Campos, 20, Pedro, 18, e José, 9.

Era dia 18 de agosto, cinco dias depois da trágica morte de Eduardo Campos, em Santos.

Na mesma data Renata completava 47 anos.

A influência da ex-primeira-dama ultrapassou os limites do Estado e atingiu a disputa nacional.

Ao corroborar a indicação da candidata Marina Silva (PSB) para assumir a vaga deixada pelo marido, a viúva tornou-se a principal fiadora da campanha da socialista para o Palácio do Planalto.

Renata chegou a ser cogitada para assumir a vice-presidência da chapa, mas recusou o convite em nome dos cinco filhos.

A indicação do vice Beto Albuquerque (PSB), deputado federal do Rio Grande do Sul, também passou pelo crivo de “Dona Renata”, como Eduardo a chamava.

Renata pediu voto de confiança para Paulo Câmara no guia eleitoral.

Foto: JC Imagem.

Auditora do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE), Renata gravou na reta final do período eleitoral vídeos de apoio a Paulo e Marina.

Com a coragem reconhecida por aliados e pela população de Pernambuco, a mulher de Campos ganhou tônica também no processo interno de escolha do novo presidente do PSB.

No último sábado (27), ela ligou pessoalmente para Roberto Amaral, presidente interino da sigla, para pedir o adiamento das eleições do partido, marcada para antes do dia 5 de outubro.

No dia em que completou um mês da morte do marido, Renata publicou uma carta em homenagem ao companheiro. “Está sendo belo, Dudu, ver que você se tornou aquilo que acreditava.

Você se transformou em seus ideais.

Sua vontade de melhorar a vida das pessoas, sua luta e sua resistência se transformaram em coragem pra mudar.

O homem se tornou ideia”, dizia o texto.

Considerada a principal conselheira político do marido, Renata experimenta agora um novo sentimento.

Com a morte prematura do ex-governador, o filho homem mais velho do casal, João Campos, tornou-se um dos principais cabos eleitorais da candidatura de Paulo Câmara nas duas últimas semanas da disputa.

Repetindo as palavras ditas por Marina Silva no evento que formalizou seu nome na chapa nacional, no Recife, João defendeu que a história deixada por Campos não é uma herança, mas um legado. “Meu pai não deixou uma herança, pois esta, quando dividida, pode se acabar.

Ele deixou um legado, que, quanto mais o dividirmos, mais crescerá, espalhando-se pelo Brasil todo”, disse João em Barreiros, na Mata Sul pernambucana, ao lado de Câmara, a quem tratou como “o capitão” do time de craques do qual o pai era o técnico. “Paulo Câmara era o jogador que assumia a responsabilidade em campo e resolvia quando o jogo ficava difícil”, comparou.

Em Passira, no Agreste, João Campos repetiu o discurso do pai e pediu que os eleitores confiassem sempre nele e na família.

João concluiu a fala da mesma forma que Eduardo fazia. “Contem comigo, vamos juntos, um grande abraço e até a vitória, se Deus quiser.” Namorados desde a adolescência, Renata e Eduardo se casaram em 1991.

O convívio deles não se resumia ao namoro, iniciado quando ele tinha 15 anos e ela, 13.

Os dois estudaram juntos na Universidade Federal de Pernambuco.

Lá começaram a militância política no movimento estudantil.

Casados durante 21 anos, faziam política juntos: um mandato de deputado estadual, três de federal e uma passagem pelo Ministério da Ciência e Tecnologia até chegar ao governo estadual, por duas gestões consecutivas.