Foto: Jornal do Commercio Por Fernando Castilho do JC Negócios A primeira vez que vi Seu Jorge Baptista da Silva, que faleceu nesta terça-feira 30 de setembro, foi no elevador do Edifício Antônio Barbosa, quando fui ali “fazer um bico” de redator para a assessoria de imprensa do Banorte, dirigida por Isaltino Bezerra.

Por um acaso subi no elevador logo com o presidente do banco.

Naquele tempo era comum o banco contratar redatores freelances para trabalhos específicos e fora indicado por Ivanildo Sampaio, hoje meu diretor de Redação no JC. » A morte de um visionário O curioso é que seu Jorge chegava e saia da sede do Banorte, na Avenida Dantas Barreto, sem seguranças, dando “bom dia” e “boa tarde”, normalmente acompanhado de um diretor da instituição.

Vim a saber depois que o seu acompanhante era Nelson da Matta, que mais tarde seria presidente do BNH, depois de ter sido presidente da Abecip.

Nessa época o Recife rodava seus bancos na Rua da Palma, da Concórdia, Marques do Recife e até na Nossa Senhora do Livramento.

E era fácil falar com o pessoal da diretoria e checar informação de mercado financeiro na fonte.

Sim, de vez em quando a gente “filava uma boia” no Restaurante Leite paga por um diretor do Banorte.

Escrevi, sob o comando de Isaltino Bezerra, a história dos 40 anos do Banorte e a história dos 50, dez anos depois, e acompanhei o drama da intervenção e da complicada negociação como Banco Bandeirantes que, a bem da verdade, era quem deveria ter sido incorporado pelo Banorte.

A diferença de tecnologia embarcada na década de 80 no Banorte e o nível intelectual de seus diretores era tão grande que certo dia perguntei a um diretor do banco porque estava acontecendo aquilo.

Não fazia sentido.

O Bandeirantes era um amontoado de computadores em São Paulo, tinha um time de gestores que estavam aquém do tipo de negócio que o Banorte praticava no Nordeste.

Deu no que deu e o Bandeirante também foi para o espaço.

Mas a história do Banorte e seu pessoal top de RH ficou e está espalhada pelo Brasil até hoje.

O que a gente encontra de diretor, presidente e empresário que foi “cria” do Banorte é impressionante.

O modelo de negócio e o nível de gestão do Banorte e o do Bompreço, na época de seu João Carlos Paes Mendonça, ainda hoje é referência do setor de gestão de pessoal.

Daí o choque com a intervenção.

E o que unia todo esse pessoal?

A figura de Seu Jorge.

Ele foi, certamente, o primeiro empresário de grande porte que usou a figura do Conselho de Administração para definir políticas e estratégia de negócios bancários.

Ele costumava dizer em tom de brincadeira que não era banqueiro era engenheiro.

Aliás, engenheiro têxtil formado na Inglaterra.

E que tinha virado dono de banco devido às circunstâncias, daí apostar sempre na competência dos seus executivos.

Ele estimulava seus gestores e a dirigentes de suas empresas a dirigirem entidades e associações.

Mas sempre era apresentado como “o presidente do Conselho de Administração”, ou seja, o acionista que definia estratégia.

O operacional era com a equipe que ele confiava e dava poder de mando.

Hoje isso é moderno, mas Seu Jorge praticou isso aqui na década de 80.

O que explica a vanguarda que o Banorte sempre teve.

O que explica também sua presença, por três mandatos, no Conselho Monetário Nacional, que na época era presidido por ninguém menos que Mário Henrique Simonsen.

Tem mais: na condição de uma dos Delaer’s, os 12 bancos que definiam as taxas de mercado, ele acabou interlocutor privilegiado com o pessoal do Banco Central.

Dezenas de dirigentes do BC vieram ao Recife fazer apresentações sobre o cenário macroeconômico para diretores do banco sem que nós da Imprensa soubéssemos que os caras estavam aqui.

Outra coisa que Seu Jorge gostava era que sua propaganda fosse a mais moderna possível.

Claro que Mario Leão Ramos, o mago que criou a Abaeté e inventou uma série de ações, ajudava.

Mas o que dizer do Banorte.

Um amigo na praça?

Certa vez, a agência criou um desses anúncios que ficam como o que marcou inauguração da agência do banco no Mercado de São José.

Numa página inteira de jornal, uma foto da agência ao lado do cinema Glória dizia apenas: Na praça do mercado, surge um novo amigo: BANORTE.

Se a gente for falar da contribuição do Banorte a publicidade dá um terabytes.

E vai ver gente como Luiz Gonzaga, Quinteto Violado, Banda de Pau Corda.

Assim como da contribuição do banco para as artes plásticas.

De Francisco Brennand a José Claudio passando por Abelardo da Hora e Cavani Rosas.

Seu Jorge também percebeu que na concentração de bancos que o governo estava fazendo com o Proer haveria pouco espaço para os chamados banco regionais.

Disse isso a seus diretores quando o banco fez 50 anos, em 1992, depois de uma festa de gala no Teatro Guararapes.

Mas aí veio a intervenção e depois a liquidação e, anos depois, a liberação de todos os ativos da instituição que estavam indisponíveis por força da intervenção e sem problemas com a Justiça.

O tempo passou, a marca Banorte saiu do mercado, mas a mística do banqueiro visionário ficou.

E a bem da verdade ficou a imagem do banco nordestino que financiava a produção e o negócio.

Que chegava junto com dinheiro.

Talvez porque a ordem do dono fosse fazer jus ao slogan que adotara como marketing: Um amigo na praça.