Por Fernando Castilho, especial para o Blog de Jamildo Outro dia, na Coluna JC Negócios, do Jornal do Commercio, escrevi que se um eleitor tomasse por base o debate nas TVs, teria enorme dificuldade de escolher sobre uma base firme de informações apresentadas pelos dois candidatos.
Porque os dois principais concorrentes vistos da TV estavam a quilômetros de sua verdadeira capacidade intelectual.
Dito de outra forma: Armando Neto e Paulo Câmara eram muito melhor que os personagens que eles encarnavam na TV.
Porque, como atores de televisão, os dois foram apresentados ao eleitor como personagens ruins.
Até porque, se os personagens apresentados fossem governar Pernambuco, estariam em maus lençóis.
E que, pelo que mostrou na TV, José Gomes estaria muito mais capacitado a governar o estado.
Com todo respeito ao candidato do PSOL, falamos aqui do que se viu na TV.
Felizmente, nem Paulo Câmara e nem Armando Neto são aquilo que está nos debates.
O que nos leva a pergunta: o que diabos os levou a encenar os papéis que encararam perante o eleitor? É possível que tenham feito isso a partir de pesquisas de seus assessores.
Do estafe político e partidário que os orientou sobre o jeito de falar para a mídia, de vestir de andar nas ruas e de se comportar nos debates onde repetem e repetem um kit de frases.
Certo, o formato dos debates, mal copiado dos americanos não ajuda.
Até porque, no Brasil em nome da Democracia, todos os partidos com representação no Congresso são convidados a participar.
Nos Estados Unidos a emissora convida quem ela quer e os candidatos dizem se vão ou não.
Como apenas o Democratas e o Republicano têm chances, o debate só ocorre entre dois.
Não sei se a gente poderia chegar a isso, mas alguém acha que, em duas horas de TV, com um pacote de regras que faz dos convidados a fazer perguntas, belíssimo conjunto de figurantes, ajuda o eleitor?
Mas, a questão não é o formato debate. É o candidato desenhado para o horário da TV na campanha.
Em Pernambuco a gente pode fazer a pergunta: o senador Armando Neto é só aquilo que sua propaganda apresenta?
O senador tem uma respeitável presença nacional, um trabalho razoável no Congresso e dirigiu a CNI uma entidade que dá de 10 no Congresso em termos de articulação se o sujeito deseja se eleger presidente.
E teve oportunidade de desenhar uma série de ações em nível de interesse da indústria nacional. É interlocutor privilegiado de uma centena de empresários e é mostrado de um jeito que as pessoas percebem, no ato, que o figurino real não é o que veste.
Em nome de uma imagem de homem do povo que anda pelas ruas distribuindo sorrisos de eterno candidato, ele perdeu qualidade.
Não casa.
Não é real e não dá liga.
Não é o Armando.
O senador Armando Neto é um aristocrata, bem formado e nem nascido.
Nasceu rico e pronto.
Não precisava virar povão para se apresentar como candidato.
Mas, se colocou num figurino que a gente olha e diz: esse não é o senador que todos conhecem.
Até porque, se o personagem da campanha fosse governador de Pernambuco, estaríamos perdidos.
O mesmo vale para Paulo Câmara.
O ex-secretário é o protótipo do classe média bem-sucedida.
Funcionário público concursado, casado com uma juíza, jovem e com renda que faz o Leão do Imposto de Renda dar uma mordida grande no salário dos dois.
Tem carro comprado fiado, apartamento comprado fiado e faz feira no Bompreço todo mês.
Sim, viaja para fora do Brasil comprando passagem com seis meses de antecedência.
Foi secretário de três pastas, tem pós-graduação, fez canteiro em rua como militante para Eduardo Campos, passou quatro anos dentro do Confaz trocando texto técnico com a Secretaria do Tesouro, sempre com reconhecida seriedade.
Além de ser um sujeito que você olha e vê que não quer lhe enganar.
Aí, na campanha, veste um personagem que parece um robô do tempo da série Perdidos no Espaço.
Não tem Registro.
Paulo ficou repetindo um pacote de frase sem efeito, não usou o espetacular banco de dados que tem na cabeça e no governo e que ele mesmo ajudou a montar.
Não usou sua real capacidade intelectual.
Imagina se aquele Paulo Câmara espantando fosse governar o estado?
Seria um desastre.
Ainda bem que o eleitor não forma seu voto pela sucessão de perguntas entre os candidatos na TV. É verdade que tem muita gente que se impressiona, mas o eleitor vota depois de fazer a sua própria pesquisa e as suas contas.
Isso pode não valer para o deputado, mas para presidente e governador, o eleitor faz conta.
Procura se informar e ainda bem que não faz isso só pela TV.
Por isso, agora que a campanha quase acabou dá para a gente começar a falar sobre isso.
Porque na campanha a gente nunca tem um candidato melhor do que ele, de fato, é?
Por que é que a gente tem que assistir em 45 dias uma campanha que nos apresenta algo de tão baixa qualidade?
Talvez, seja por isso que faça tanto sucesso os chamados exóticos.
Aquele sujeito que a gente sabe que não vai ser eleito, mas nos alegra quando aparece pedindo um voto que você nunca vai lhe dar, mas que é muito engraçado.
Então, senhores eleitores, Paulo Câmara e Armando Neto não são só aquilo que eles mostraram na TV.
Intelectualmente são muito melhores.
Ainda bem.