Por Fernando Castilho, da coluna JC Negócios, especial para o Blog Vamos deixar claro uma coisa: a credibilidade do IBGE está quilômetros de distância da ministra Miriam Belchior (Planejamento) e todo o governo de Dilma Rousseff juntos.
Quem diz isso são os gestores de todos os institutos de pesquisa internacionais.
O IBGE é referência na América Latina e na Europa.
Dito isto, é preciso esclarecer outra coisa: Wasmália Socorro Barata Bivar é do quadro.
Ela é a primeira mulher a presidir a instituição substituindo Eduardo Nunes na presidência do órgão que, aliás, foi também o primeiro funcionário de carreira do IBGE a ocupar o cargo e que ficou lá por 8 anos e meio.
São funcionários e vão ficar lá depois desse governo e dos outros.
Outra coisa: foi Nunes quem definiu uma coisa que pouca gente sabe.
Desde que ele assumiu em 2003, o IBGE só repassa os indicadores com duas horas de antecedência ao Ministério do Planejamento e este às outras autoridades, com o resultado das pesquisas sobre os indicadores conjunturais.
Ou seja, no máximo, dá para se preparar para contestar ou comemorar a pesquisa de conjuntura.
Poucos países no mundo têm esses processos de transparência.
Funciona como a Polícia Federal, não dar explicação ou satisfação de seu trabalho técnico ao ministro.
Essa explicação é importante para entender porque nos últimos dias, o Governo publicamente se diz tão “chocado” com o erro do IBGE na Pnad Continua.
Porque na quinta-feira a equipe do Planejamento só teve duas horas para construir uma defesa dos indicadores que apontavam e que constrangiam a administração Dilma Rousseff.
Peguemos o caso do índice de GINI do trabalho, que mede a distribuição de rendimentos do trabalho.
A taxa corrigida ficou em 0,495 em vez de 0,498, Como quanto mais perto de 1, maior é a desigualdade, o governo teve que inventar uma desculpa e explicar o péssimo desempenho.
Na verdade, ficou uma merreca.
Pois, em 2012 o índice foi 0,496.
Mas, 0,495 é melhor que 0,498.
Outro erro: o de estimativa de alta da renda do trabalho.
Na quinta-feira foi divulgado um aumento de 5,7% que quer dizer que a concentração de renda estava aumentando no governo Dilma.
O percentual, que agora caiu para 3,8%, não é nada extraordinário, mas é melhor do que dizer que estava havendo reconcentração de renda, um dos pilares do discurso dos Governos de Lula e de Dilma.
E tem ainda o caso do aumento de renda que não aconteceu.
O IBGE disse que o rendimento do trabalho subiu 5,7%.
Estava errado.
Foi de penas 3,8%.
No bolso do trabalhador, isso quer dizer que, na média, sua renda só subiu R$ 30,00 (de R$ 1.1651, para R$ 1.681), mas o governo perdeu um ponto bom no seu discurso de defesa.
Os outros índices foram menos importantes, mas ruins para o governo que teve que se justificar.
A taxa de analfabetismo caiu menos do que o estimado anteriormente.
Foi de 8,7% para 8,5% o que é bom para o Governo.
Outro índice, o do trabalho infantil também registrou uma queda menor.
Passou de -12,3% para -10,6%.
Outro ponto que o governo teve que se explicar.
A Pnad é realizada anualmente pelo IBGE e é o maior levantamento socioeconômico feito do país, depois do Censo, que é decenal.
A pesquisa investiga as condições do mercado de trabalho, como emprego, renda, desigualdade salarial, de educação, como taxa de analfabetismo e quantas crianças, jovens e adultos estão na escola e as condições dos lares, tanto no acesso a água e saneamento e a posse de bens como televisão, geladeira computador. É uma vitrine para o bem e para o mal do governo.
Então, o quadro pintando obrigou o governo a montar um discurso para um quadro que agora é menos ruim que o revelado na quinta-feira.
E isso explica a caça às bruxas da equipe do Governo.
Informada com duas horas de antecedência, Dilma precisou destacar que as coisas não estavam tão más.
E perdeu uma oportunidade de faturar com algum índice melhor como o Gini, por exemplo.
Até porque os números ruins deram força para Aécio e Marina.
Na cabeça dos ministros e da campanha, houve sabotagem.
Tem mais: lembra daquela pressão de Humberto Costa(PT-PE), Armando Neto (PTB-PE) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministra da Casa Civil, preocupados com a precisão das informações da Pnad a respeito da renda domiciliar per capita para as unidades da Federação, poderia interferir base para o rateio do Fundo de Participação dos Estados (FPE)?
Foi preciso uma negociação de um mês para a presidente do instituto, Wasmália Bivar, fechar com a casa (que fez greve e pediu demissão) e o Governo, um acordo e manter a divulgação.
Manteve o calendário, mas Dilma não gostou de ter que explicar um problema de um órgão subordinando com calendário próprio de ação.
Ficou o alerta.
Isso explica a sede dos ministros do Governo em punir alguém do IBGE e que pode sobrar para a presidente Wasmália Bivar.
Foi um erro grave?
Foi. É ruim para o Governo? É pior para o IBGE que tem um nome a zelar.
Mas, o Governo quer sangue.
E vai ficar nessa linha de dizer que é inadmissível e vai por aí.
Estão, é preciso ir com calma.
O IBGE tem tanta seriedade que identificou o erro em menos de 24 horas e foi à público botar a cara para a pancada.
Ninguém perdeu dinheiro, deixou de fazer um estudo mais preciso ou provocou um ato de Governo que causou prejuízo ao cidadão.
A queixa dos ministros é que o quadro ruim foi pintado com tintas mais escuras para a gestão Dilma Rousseff.
Levou a estresse de explicações que poderia ser menor e isso num período de campanha, politicamente, é muito chato.
Portanto, entre o “piti” do Governo e a história do IBGE, é melhor ficar com os servidores.
Até porque eles é quem tem o nome a zelar.