Por Roberto Numeriano, especial para o Blog de Jamildo Ontem à noite, durante o debate da TV Jornal, constatei, fazendo a análise do discurso dos três candidatos, que na prática só dois candidatos estavam ali, em termos políticos: Zé Gomes, do PSOL, e Armando Monteiro, do PTB.
Como assim?
De fato, o Paulo Câmara não entrou no debate.
Não por acaso, os candidatos Zé Gomes e Armando Monteiro enquadraram-no em todas as intervenções em que se dirigiram ao mesmo.
O candidato Paulo Câmara é um homem sem lastro político próprio, independência de opinião e capacidade para ser líder (pelo menos por enquanto).
De modo abusivo, não falava uma frase sem escorar-se no falecido Eduardo Campos.
Apenas quando Armando Monteiro, de modo educado e com fina ironia, aludiu a esse fato, é que Câmara deixou de citar o antigo mentor político.
Câmara não defendeu ali nenhuma política que possa se alicerçar, em termos político-ideológicos, numa agenda para romper paradigmas antigos e autoritários na discussão de políticas públicas e modos de intervenção da cidadania sobre temas como saúde, educação, transporte, segurança etc.
Nem podia, pois é usuário desse paradigma, como antigo burocrata de carreira.
O candidato Zé Gomes foi o único a fazê-lo.
Armando também não o fez, mas Armando é um candidato real, com todas as contradições e limites de sua agenda de poder.
A real polarização da disputa político-ideológica é entre Armando e Zé Gomes, para além das intenções de voto.
Paulo Câmara nem é candidato dele mesmo. É apenas uma voz órfã de um grupo político órfão e destroçado depois da morte do líder político que centralizava e decidia tudo de modo politicamente imperial.
Temo muito por Pernambuco, se Câmara vencer esta eleição.
E isso independentemente de minha condição de eleitor do PSOL.
E temo porque vamos ter uma disputa intestina eterna pelo espólio do poder político de Campos.
Todos apenas aguardam a poeira da disputa assentar.
As belas palavras de “legado político” os ventos levam.
Há pelo menos três sub-grupos no PSB de Pernambuco, e nenhum deles vai se submeter a um neófito que foi “sagrado” pelo grupo hegemônico de Campos, e que era, na essência, ele próprio.
Roberto Numeriano é jornalista, professor e doutor em Ciência Política.