República dos coronéis, editoral do Jornal do Commercio desta segunda-feira (08).
Um Brasil que entristece, envergonha, mas não surpreende.
Este é o País revelado em reportagem publicada no domingo (31), sobre a disputa eleitoral para governador em Alagoas.
Um dos estados mais pobres, com índices sociais e econômicos escandalosos, continua refém de oligarquias que parecem repartir a terra de Graciliano Ramos em uma capitania hereditária.
Feito coronéis paralisados no tempo, os senadores Renan Calheiros e Fernando Collor perpetuam o que há de mais retrógrado. » Nova política não decola em Alagoas » Política em Alagoas é marcada pela violência e corrupção Renan Filho e Fernando Collor lideram eleição no estado.
Candidato do PSDB apoia Heloísa Helena.
Foto: reprodução do Facebook Para que nenhum dos dois saísse perdendo, um acordo de cúpula foi firmado garantindo o ganha-ganha: sob as bênçãos do PT, Collor ficou com a preferência para concorrer à reeleição para o Senado, enquanto o filho de Renan se apresentou para ocupar a cadeira de governador.
Ambos lideram com folga as pesquisas de intenção de voto.
Em metade da última década, o País viu Renan em estreita ligação com os governos petistas no Planalto, presidindo o Senado.
Antes, havia sido ministro da Justiça de Fernando Henrique.
E o ex-presidente Collor, que venceu Lula nas eleições de 1989, não demorou a virar aliado de primeira hora do PT, numa base larga onde ainda cabem José Sarney e Paulo Maluf.
Em Alagoas, a violência política é escancarada.
Em 1998, uma deputada federal foi assassinada após a posse.
Somente em 2012, o seu suplente à época, que assumiu o mandato em seu lugar, foi condenado como mandante do crime.
Em 2011, um deputado federal foi preso pela morte de um cabo, em 2006, que atuava, segundo a Polícia Federal, como pistoleiro.
Mas esse deputado voltou ao Congresso no ano passado.
A corrupção é notória.
Em 2007, um desvio de R$ 300 milhões na Assembleia Legislativa foi desvendado pela Polícia Federal, que prendeu um ex-governador suspeito de participar do esquema.
No ano seguinte, nove deputados estaduais foram afastados do cargo pelo Tribunal de Justiça do Estado, incluindo o presidente da Assembleia.
Mas já em 2009 retornaram ao parlamento.
O estarrecedor é que os alagoanos estejam inclinados a renovar a confiança em políticos que muito pouco contribuíram para baixar as taxas alarmantes de violência, mortalidade infantil e analfabetismo.
A de homicídios é a pior do Brasil, de 66 assassinatos para cada 100 mil habitantes.
A mortalidade infantil é de 30 óbitos para cada mil nascidos vivos.
E o analfabetismo chega a 25%, segundo o IBGE.
Além disso, é o penúltimo em expectativa de vida, e o terceiro menor PIB per capita - a miséria social e a vulnerabilidade econômica andam de mãos dadas.
Nos últimos oito anos, o partido que teve a chance de mudar esse quadro foi o PSDB, sob o mandato duplo de Teotônio Vilela Filho, que não emplacou um nome competitivo para sucedê-lo.
E abriu a porta para o triunfo da união entre Renan e Collor, numa aliança que passa por cima de mágoas passadas - Renan foi um dos articuladores do impeachment de Collor - e lança sobre Alagoas a continuidade de tempos sombrios.