Foto: Marcello Casal Jr/ABR Por Fernando Castilho, colunista de Economia do Jornal do Commercio A disparada de Marina Silva nas pesquisas tem dado a oportunidade de jornalistas, analistas e cientistas políticos se exercitarem no vernáculo para explicar com rebuscadas interpretações o fenômeno Marina Silva em 2014.
E a leitura dos textos tem sido o interessante momento de ver como a nossa impressa é rica em interpretações intelectuais de forte cunho sociológico e de enorme capacidade cognitiva ao relacionar afirmações de candidata no passado, o programa do PSB de Eduardo Campos que ela chancelou e o momento circunstancial em que ela se viu envolvida e que, efetivamente pode lhe levar a vencer as eleições, inclusive, no primeiro turno se a onda continuar em curva de ascensão.
Tudo, é claro, depende o voto no dia 5 de outubro.
Mas tudo isso esconde, ou há tentativa de esconder, uma enorme preocupação dos nossos analistas de como seria o Brasil no dia 1º de janeiro de 2015 com Marina subindo a rampa do palácio do Planalto com uma multidão vaiando sonoramente Dilma Rousseff.
Ou como será o dia 2 quando o governo tomar posse.
E é para se preocupar mesmo, mas quem pode decidir isso é o povo.
Porque eleição é o grande momento dele. É compreensível, mas com todo respeito a todos os analistas é preciso entender uma coisa simples: Se Marina for eleita, como parece ser a tendência, terá sido porque o povo brasileiro simplesmente decidiu substituir o PT e o PSDB de uma só vez no comando dos país.
Não existe muita explicação, embasamento teórico ou movimento político arquitetado.
Foi uma fatalidade com a morte do Eduardo Campos que abriu ao país essa perspectiva.
Lembra de junho de 2013? É uma resposta real do eleitor e pronto.
Será a maneira de dizer: chega estou de saco cheio.
Qualquer coisa é melhor do que Dilma Rousseff, Lula e sua gente.
E é melhor que esse discurso meia-boca do Aécio Neves, que tem medo de bater de frente com o PT, dizendo que pode fazer melhor.
Quero mudar.
E pode dar errado?
E pode ela não ser eleita?
Maria Silva garante essa passagem?
Eu não sei, Marina Silva não sabe e dona Irene não sabe.
E o cidadão contribuinte também não sabe.
Ninguém sabe!
Mas, ele quer apostar nela.
O eleitor faz uma conta simples: pior do que Dilma, Marina não pode ser.
E de Aécio?
Ele olha, olha e diz: esse sujeito não tem cara de quem bate de frente com ninguém.
Nunca bateu e não vai ser agora.
E Marina?
Ele acha que ela pode bater de frente.
Particularmente, acredito que vai ser uma zorra no começo do governo.
O PT vai usar todas, literalmente, todas a maneiras sujas para melar uma eventual “Gestão Marina”.
Gente, eles terão 20 mil militantes desempregados dos cargos de confiança!
E o PSDB? É mais complicado para eles que já estavam escolhendo a equipe de governo.
A bem da verdade Eduardo Campo era a passagem do PSDB para voltar ao governo.
Ele asseguraria o segundo turno e o PSDB derrotaria Dilma numa espécie de mudança meia-boca.
Era o terceiro candidato dos sonhos de Aécio.
Estava tudo calculado.
Vão querer se vingar no Congresso.
Mais uma vez: Marina pode murchar na reta final?
Pode!
E Marina garante mudanças radicais?
Ninguém sabe.
Mas, o cidadão parece ter um entendimento pragmático: droga, eu não quero Marina para sogra, pastora da minha igreja ou amiga de farra, que Dilma não faz.
Eu só quero dizer a esse pessoal daí que não quero mais eles no governo.
Claro que todo mundo não tem ideia de como será esse governo verde cana-de-açúcar com vermelho açaí, mas o cidadão também faz uma conta de padaria bem lógica.
Depois de 12 anos de PT e suas safadezas porque não apostar na irmã Marina?
Não adianta sofismar muito ou enrolar-se em entendimentos acadêmicos sobre o que vai ser o Governo Marina.
Vai ser complicado, muito complicado.
Mas, e daí?
O mesmo cidadão que avançou muito em 20 anos do PDSDB/PT quer mais.
Ele está de saco cheio em ver um país que virou potencial global ser gerido por um grupo de pessoas que estão sempre explicando, explicando, explicando fracasso.
O cidadão comum não perdoa fracasso.
Ele pensa assim: tudo que precisa explicar não foi bem feito.
E tanto o PT como o PSDB estão explicando muito.
Por isso é que, apesar da excelente produção literária e de embasamento intelectual de nossos analistas, a coisa parece ser mais simples e menos complicada.
O cidadão brasileiro quer mudar e priu!
E se o povo errar, ele é quem pode fazer isso. É soberano.
Marina é só o veículo.
Isso não quer dizer que ela já pode encomendar um terninho de linho com renda Renascença.
Como a eleição ainda tem um mês de campanha tudo pode acontecer, inclusive nada que mude o quadro atual.
Agora difícil é aguentar essas teses sacanas de ameaça de que Marina pode ser o Fernando Collor do século XXI.
Ou que é o Jânio de saias. É uma sacanagem intelectual.
Fernando Collor não foi deposto porque elegeu 50 deputados.
Caiu porque estava com um grupo que achava que as práticas de Alagoas poderiam ser feitas em nível nacional.
E não saiu porque peitou o Congresso.
Caiu porque seu irmão Pedro revelou as coisas de Alagoas no momento certo.
Quanto à Jânio Quadros a história mostra que ele quis dar um golpe.
Fez aquele movimento e achou que o povo iria buscar ele em casa.
Esqueceu que Brasileia não era o Rio de Janeiro e São Paulo.
Então, ficamos assim: O desejo de mudar é tão forte que sozinho explica o crescimento de Marina, que jamais pensou nisso quando foi bater na porta de Eduardo Campos.
Vai ser complicado?
Vai!
Muito!
Mas, como dizia um experiente observador dos seres humanos e em conchanbranças e maracutaias: Amigo, a gente só se arrepende do que não faz.
Então tá.