Por Michael Zaidan Essa frase designa uma das mais pitorescas alegorias do carnaval popular de Pernambuco.
Como o grotesco e o alegórico fazem parte do modo de ser da nossa cultura, temos que convir que as eleições deste ano vão se realizar sob o signo da morte e da religião.
Aparentemente, essa alegoria carnavalesca parece não ter relação nenhuma com a política e a fé.
Mas aí é onde se enganam uns e outros.
O cristianismo é o legítimo herdeiro das tradições pagãs da Grécia arcaica (basta lembrar o culto de Dionísio e o banquete totêmico).
E a convivência harmônica e proveitosa entre vivos e mortos nas grandes casas nordestinas. 0 Culto (e o canibalismo) dos mortos é parte integrante da vida dos que estão vivíssimos e querendo tirar algum proveito da morte.
Estava eu no Maranhão, quando vejo aparecer no guia eleitoral do PSDB nada mais,nada menos do que a imagem do falecido,rindo,caminhando, abrindo os braços e mandando votar num tal de Pedro Rocha,para o senado federal.
Ainda no Maranhão, soube que a família campos (leia-se a viúva) tinha pedido à Justiça Eleitoral a proibição do uso da imagem de Eduardo Campos pelos partidos e candidatos,nestas eleições.
Qual não foi a minha surpresa em ver em cada esquina, ponte, viaduto, avenida, canal do Recife imensos posters e banners com o retrato do falecido!
O Recife transformou-se numa necrópoles, onde os vivos rendem homenagem aos mortos e invocam a sua presença permanentemente para garantir suas conquistas e vitórias.
Se estivéssemos em Roma, não haveria problema nenhum.
Segundo um conhecido historiador francês, era obrigação das famílias erigir altares dentro das casas para o culto dos ancestrais.
Entre nós, inaugurou-se ou reatualizou-se um antigo ritual, descrito por Gilberto Freyre, de manter os mortos convivendo com os vivos.
Antigamente, era sinal do respeito e veneração à memória dos falecidos.
Hoje, é uma deplorável exploração eleitoral, que deixa os eleitores em dúvida: quem vai ser eleito? - o morto ou os vivos ou os morto-vivos, como a candidata do PSB à Presidência da República Por falar nela, agora apareceram as declarações a favor do casamento gay, da laicidade do Estado brasileiro, da liberdade de expressão ou confissão religiosa etc.
Marina Silva está fazendo como aquele rei “hungenote” francês: “Paris vale uma missa”. É bem o que ela e seus assessores querem fazer nessa eleição.
Não custa fingir ou aparentar que é defensores dos direitos e garantias constitucionais das minorias e da secularização da política.
Não há como dar crédito a essas declarações de ocasião.
São puros atos retóricos destinados a enganar os indecisos, os que ainda não cristalizaram suas intenções de voto.
A mentira já começa pela própria candidatura, que não tem nada a ver com o PSB, com as alianças políticas do PSB, com os acordos do PSB e o programa “entrópico” do PSB.
Quem comprar essa falácia eleitoral, vai descobrir tarde demais que comprou uma adepta do fundamentalismo religioso por uma cidadã republicana.
O Estado de Marina Silva é teocrático e sua constituição é uma leitura dogmática, acrítica da Bíblia.