Por Adriana Guarda, no Jornal do Commercio deste domingo (31) No dia 4 de novembro a Petrobras promete começar a processar, oficialmente, os primeiros barris de petróleo na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco.
Na próxima quarta-feira atraca no Porto de Suape o navio nº 1 trazendo óleo bruto para iniciar os testes de refino na unidade.
Maior e mais caro empreendimento da história pernambucana (orçado em US$ 20 bilhões), a Rnest era um sonho acalentado desde a década de 50, quando o padre francês Louis Lebret esteve por aqui para elaborar um plano de desenvolvimento para o Estado.
Ao longo de 8 anos de construção, a megaobra enfrentou um turbilhão de problemas.
Ao entrar em operação, a unidade vai contribuir para o aumento da capacidade de refino do País.
A Abreu e Lima é a 14ª refinaria construída pela Petrobras no Brasil e a primeira depois de um longo intervalo de 34 anos sem inaugurar uma nova planta.
Hoje o País tem capacidade de refinar 2,1 milhões de barris por dia e faz projeção de alcançar 3,3 milhões em 2020 para atender ao ritmo de crescimento da demanda.
A expansão do refino vai permitir um melhor suprimento do mercado brasileiro de derivados.
As regiões Norte e Nordeste, por exemplo, dependem da importação.
A refinaria pernambucana terá capacidade para processar 230 mil barris de petróleo por dia.
Desse total, 70% será destinado à produção de diesel.
O restante vai se transformar em outros derivados como gasolina, gás liquefeito de petróleo/GLP (o gás de cozinha), nafta, querosene, coque e combustível marítimo (bunker).
A pedido do JC, o professor-doutor dos cursos de Engenharia Química e Engenharia do Petróleo da Faculdade Boa Viagem/DeVry, Leonardo Maciel, explicou como se dá o processo de refino do petróleo.
O processo se divide em três etapas: destilação, conversão e tratamento Leia matéria completa no JC Online.
PROBLEMAS - A mais nova refinaria da Petrobras também é um dos empreendimentos mais controversos da história da companhia.
No centro de denúncias de corrupção, a unidade teve seu orçamento multiplicado por dez entre 2005 e 2014, com o valor inicial projetado saltando de US$ 2,3 bilhões para os atuais US$ 20 bilhões.
Na lista de problemas também aparece o atraso no cronograma, a ineficiência na execução, denúncias de superfaturamento pelo Tribunal de Contas da União, pedidos excessivos de aditivos pelas empreiteiras, calote de consórcios construtores a funcionários e indefinição da entrada da Petróleos de Venezuela (PDVSA) como sócia no empreendimento.
A Refinaria Abreu e Lima teve seu processo de construção iniciado em dezembro de 2005, com as presenças dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e de Hugo Chávez.
Os dois lançaram a pedra fundamental do empreendimento, colocando cimento num pedaço simbólico da obra.
A previsão era que o primeiro barril de petróleo fosse processado em dezembro de 2010.
Os problemas de licitações, aditivos e denúncias de irregularidade fizeram com que o cronograma se estendesse e ultrapasse o tempo de construção da última unidade de refino erguida no País.
A Refinaria Henrique Lage, em São Paulo, começou a ser construída em 1974 e foi concluída em 1980.
A Abreu e Lima vai demorar quase uma década para ficar pronta, levando em conta que a segunda parte só será finalizada em maio de 2015.
A demora tem obrigado a Petrobras a aumentar as importações de diesel para abastecer os mercados do Norte e Nordeste.
Preso no Paraná acusado de usar a Rnest para participar de um esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, chegou a bradar em Pernambuco que a refinaria não seria construída a qualquer custo.
Ele fazia referência às empreiteiras, que estariam apresentando contratos para disputar as licitações com valores acima da média do mercado internacional.
Chegou a dizer que abriria concorrência internacional para evitar custos excessivos.
Não foi isso o que aconteceu.
O TCU denunciou superfaturamento na obra de terraplenagem e apontou pedidos excessivos de aditivos pelos consórcios.
A entrada da PDVSA no projeto foi outro capítulo que se estendeu por uma década.
Em 2003, Hugo Chávez assinou protocolo de intenções para implantação da refinaria em Pernambuco, sugerindo batizar o empreendimento com o nome do general Abreu e Lima (que lutou ao lado de Simon Bolívar pela independência da Venezuela) e acenou com a possibilidade de se tornar sócio.
Pelo acordo, a estatal venezuelana teria que arcar com 40% do investimento no projeto.
Dentro da Petrobras as opiniões eram divididas.
A associação com a Venezuela faria da Rnest uma Sociedade Anônima (S.A).
Sem o sócio, o empreendimento se tornaria apenas uma unidade da Petrobras (como é atualmente).
A via-crucis da construção da Abreu e Lima também descambou em protestos trabalhistas violentos.
Além das greves, Suape também virou campo de guerra em função dos calotes aplicados por consórcios a funcionários, como foi o caso das empresas Jaraguá e Fidens-Milplan, que demitiram funcionários sem pagar rescisões e devendo salários.
Foi necessária a intervenção do Ministério Público do Trabalho para obrigar a Petrobras a arcar com os débitos trabalhistas do consórcio.
Em pleno ano eleitoral, a expectativa é pra saber se a inauguração será mesmo no dia 4 ou se vão antecipar a data.