Por Carlos Alberto Fernandes, para o Blog de Jamildo Eduardo Gianetti, André Lara Resende e Neca Setúbal, sempre foram tucanos de carteirinha.

Amigos de Pedro Malan, os dois primeiros foram grandes colaboradores do Plano Real.

A participação deles como conselheiros econômicos de Marina, somam, de fato, para uma candidata de discurso messiânico que tragicamente, o destino colocou no colo sua candidatura a Presidente da República.

A herdeira do Banco Itaú, com grande trânsito no ninho tucano, é de grande utilidade para garantir a confiabilidade do setor financeiro, no sentido da eliminação de qualquer ameaça ao sistema e à quebra de contratos.

Essas figuras, apresentados como fiadores do Plano de Governo de Marina, realmente robustecem a sua candidatura com a credibilidade do mercado e a confiança das classes A e B, no equilíbrio de propósitos do seu governo.

Por outro lado, a apresentação explícita dos sócios do Banco de Investimentos Gávea, Armínio Fraga e Gustavo Franco, como virtuais candidatos ao Ministério da Fazenda e ao Banco Central do candidato Aécio Neves, em nada acrescentam ao escopo da campanha do candidato Aécio Neves.

Todos já conhecem que eles são tucanos históricos colaboradores do Plano Real e que já tiveram passagens destacadas no Governo Fernando Henrique Cardoso. Ícones do Plano Real e destacados defensores do controle da inflação, da responsabilidade fiscal e, das privatizações no Governo FHC, suas propostas pouco repercutem nas aspirações das classes C, D e E, definidoras das preferências eleitorais sobre a eleição presidencial.

O agravante é que o candidato Aécio Neves, ainda teima em apresentar em seu discurso estes três eixos como fundamentais de seu programa de governo, esquecendo-se que a classe C, representada por 54 por cento do eleitorado, beneficiada com seus novos níveis de consumo, jamais irá votar num candidato que ameace a sua escalada de conquistas.

No programa de Governo de Aécio, aqueles assessores econômicos tucanos já sinalizaram para a implementação de medidas para conter o consumo, os gastos públicos e as conquistas de aumento do salário mínimo.

Tudo isso em nome da premente necessidade de manter a estabilidade econômica.

Enfim, coisas que não atendem às demandas dos jovens insatisfeitos; nem tampouco, a classe “C” assimila com facilidade essas propostas, pois temem e sentem que vão para o sacrifício com a perspectiva dessas novas medidas tecnocráticas.

De outra parte, é bom destacar que o candidato Aécio Neves, diferentemente de Marina - que o mercado vê com desconfiança-, não precisa vender ao eleitor este tipo de credibilidade.

Afinal, ele é tucano histórico e, inadvertidamente, já incorporou como discurso de campanha a iniciativa de defender o legado de Fernando Henrique Cardoso.

Creio que, apesar de sincero, é um discurso que não aglutina votos nas classes sociais afluentes.

Aécio tem que compreender que os tempos são outros, e ele não consolidará sua vitória recorrendo ao legado do passado.

A disputa dialética entre os governos Lula e FHC está vencida.

A grande massa de jovens brasileiros mantém-se ávida por mais conquistas e certamente, investirá na perspectiva de nova esperança, seja messiânica ou não.

Nesse sentido, certamente o discurso de Marina será melhor digerido.

Apesar de sua equipe “sustentável” internalizar as mesmas bases do discurso econômico, o simbolismo das mudanças que apresenta parece ser maior do que sua figura de candidata.

Com efeito, de fato, ela apresenta, dialeticamente, algo novo dentro da perspectiva de mudança que a sociedade deseja.

Defende, com novos simbolismos emocionais, a incorporação de novos sonhos coletivos.

Por sua vez, Aécio e seus interlocutores econômicos, estes tucanos de extrema racionalidade, ao se fixarem no legado que eles mesmos construíram, cada vez mais assassinam o próprio discurso do candidato.

Afinal, os tucanos da sustentabilidade agora estão com Marina.

Carlos Alberto Fernandes é economista e professor da UFRPE.