Dois dentes e um fogão Fernando Rodrigues, na Folha de São Paulo É possível que Dilma Rousseff não tenha sido consultada quando alguém decidiu dar dois dentes novos a Marinalva Gomes.
Moradora de Batatinha, na Bahia, dona Nalvinha ganhou a prótese um dia antes de a petista passar em sua casa para gravar um comercial.
Não concebo um assessor levando o assunto a Dilma: “Presidenta, encontramos uma sertaneja na Bahia.
Ela vai recebê-la e gravar imagens para a campanha. É a dona Nalvinha, que é banguela.
Mas vamos dar a ela os dois dentes da frente antes de a sra. chegar.
Tudo bem?” Parece evidente que ninguém teria coragem de vocalizar tal ideia de jerico para a presidente.
Só que esse não é o ponto.
A atitude errada prosperou porque o ambiente a favorece. Áulicos sentiram-se à vontade.
Colocaram o plano em execução.
A equipe de TV dilmista talvez tenha chegado a Batatinha com antecedência.
A maquiagem estava em curso.
Além dos dois dentes, como relatou o jornalista João Pedro Pitombo, dona Dalvinha também ganhou um fogão à lenha ampliado.
Imagem é tudo.
O assistencialismo é um dos traços mais retrógrados da rudimentar democracia brasileira.
Evoca o pior do país.
Os dois dentes e o fogão de dona Dalvinha carimbam em Dilma a marca do atraso que um dia o PT combateu.
Até ontem à tarde, o fogão à lenha de Batatinha era exibido num vídeo no site Dilma Muda Mais.
Cabe perguntar: muda mais o quê?
O governador da Bahia, o petista Jaques Wagner, produziu a melhor frase sobre o episódio: “Todo mundo bota roupa bonita para receber a presidenta”. É verdade.
Quem não tem dentes ganha alguns na véspera.
Com avanço da tecnologia, as imagens das propagandas de candidatos governistas mostram um mundo idílico.
O céu de São Paulo nunca é tão azul como no horário eleitoral.
As rodovias de Dilma parecem estar na Alemanha, de tão lindas e perfeitas.
Pena que seja impossível morar dentro da propaganda do governo.
PS do Blog: vale a pena acrescentar parte do editorial do mesmo jornal, neste sábado. “A campanha do PSB, aliás, também já havia sido vítima de efeito semelhante ao ilustrado pela trabalhadora rural.
Edivaldo Manoel Sevino, dono de uma casa em Osasco que serviria como “comitê voluntário” da coligação, surpreendeu ao explicar os motivos que o levaram a oferecer sua residência.
Questionado durante uma gravação, foi ao ponto: “Me prometeram ‘unzinho’”, disse, enquanto fazia com a mão um gesto que indicava a expectativa argentária.
O vídeo, claro, foi engavetado”.