A Macrométrica, consultoria do ex-presidente do Banco Central, Chico Lopes, elaborou um modelo estatístico que faz projeções sobre resultados de eleições presidenciais.

O texto do economista pernambucano Maurício Romão aplica o referido modelo na eleição brasileira de 2014, já usando dados da pesquisa nacional do Datafolha dos dias 14 e 15 deste mês.

As projeções apontam que, se a eleição fosse hoje, Estudo da Macromética diz que Marina ganharia de Dilma por 53,1% contra 46,9%, em votos válidos, uma diferença de 6,2 pontos percentuais.

Veja abaixo.

Projeções de resultados eleitorais Por Maurício Costa Romão, especial para o Blog de Jamildo A Macrométrica, consultoria do ex-presidente do Banco Central, Chico Lopes, elaborou um modelo estatístico que faz projeções sobre resultados de eleições presidenciais.

Segundo matéria do jornal Valor Econômico, escrita por Sérgio Lamucci, em 12/08/2014, sob o título “Macrométrica projeta vitória do PSDB com modelo de estatístico americano”, para fazer projeções a consultoria: “… usou o esquema de análise de Nate Silver, o editor-chefe do site “FiveThirtyEight”.

Silver ficou famoso por ter acertado o resultado de todos os 50 Estados na eleição presidencial americana de 2012, quando Barack Obama se reelegeu, ao vencer Mitt Romney”.

O título da matéria refere-se aos resultados derivados da aplicação do modelo à pesquisa do Ibope do início de agosto, ainda com o saudoso ex-governador Eduardo Campos como candidato a presidente.

Observando-se a operacionalização do modelo da consultoria na atual eleição constata-se que, na verdade, não há necessidade de utilizar algo parecido com o sistema sofisticado de estatísticas que é empregado por Nate Silver, pelo menos enquanto mecanismo usado apenas em uma dada pesquisa eleitoral.

A versão da Macrométrica é bem mais simples e se utiliza de dados da própria pesquisa analisada, aventando apenas uma suposição, baseada em resultados das urnas em eleições pretéritas: a de que os votos brancos e nulos no segundo turno sejam fixados em um determinado percentual.

O presente texto emprega o referido modelo, fazendo uso da pesquisa nacional do Datafolha dos dias 14 e 15 de agosto do corrente ano, em que Marina Silva figura como substituta do ex-governador.

O modelo lança mão, inicialmente, da quantidade de votos do primeiro turno que não estavam comprometidos com as duas candidaturas que foram para o segundo turno.

Por exemplo, no Datafolha os resultados de intenção de votos foram os seguintes: Primeiro turno: Dilma Rousseff 36%, Marina Silva 21%, Aécio Neves 20%, outros candidatos 6%, brancos e nulos 8% e indecisos 9%.

Segundo turno – Cenário A (Dilma X Marina): Dilma 43% e Marina 47%, votos brancos e nulos 6% e indecisos 4%.

Assim, no primeiro turno, os votos não comprometidos (VNCa) com as duas candidaturas que foram para o segundo turno somam 43% (votos de: Aécio + outros candidatos + brancos + nulos + indecisos).

Note-se, ainda, que na passagem do primeiro para o segundo turno os VNCa diminuíram em 33 pontos (eram 43% e agora são 10%, adstritos a 6% de votos brancos e nulos e 4% de indecisos).

Isso significa que esses 33 pontos foram apropriados pelos dois candidatos que estão no segundo turno, Dilma e Marina.

E como esses pontos foram distribuídos entre os dois disputantes?

A pesquisa diz que Dilma recebe 7 pontos (passa de 36% de intenção de votos para 43% no segundo turno) e Marina fica com 26 pontos (passa de 21% para 47%).Em termos de proporção, portanto, Dilma ganha 21,2% e Marina 78,8% dos votos dos não comprometidos, os VNCa .

Estas proporções são chamadas de taxas ou fatores de conversão, parâmetros-chave para as Observe-se que até aqui os dados são diretamente extraídos da pesquisa sob análise.

Suponha-se, agora, que os não comprometidos sejam da ordem de 7%, no segundo turno, um percentual que é próximo dos 6,7% que as urnas registraram de votos brancos e nulos na eleição de 2010 (nos resultados oficiais, é claro, não há indecisos).

Ora, se só existem 7% de VNCa no segundo turno, então vão ser distribuídos 36 pontos entre os dois candidatos (43% menos 7%).

E como será feita esta partição?

Na mesma proporção anterior (a hipótese é que os fatores de conversão permanecem os mesmos): de novo Dilma fica com 21,2% e Marina com 78,8% dos VNCa.

Logo, Dilma obtém 7,6 pontos dos 36 e Marina, 28,4 pontos.

Ou seja, Dilma fica com 43,6% dos votos (os 36% do primeiro turno mais 7,6 pontos a que fez jus pela taxa de conversão), e sua concorrente com 49,4%, sendo que os brancos e nulos, por construção, somam 7%.

Mas como a apuração oficial do TSE é feita em votos válidos (sem os 7%), o resultado final da eleição no segundo turno, se a eleição fosse hoje, apontaria a vitória de Marina por 53,1% contra 46,9%, uma diferença de 6,2 pontos percentuais.

O raciocínio a ser empregado no cenário em que aparecem Dilma e Aécio no segundo turno é o mesmo deste em que figuram a presidente e Marina.

Na hipótese de o segundo turno acontecer hoje entre eles, Aécio ficaria com 46,7% dos votos válidos e Dilma asseguraria a vitória com 53,3%.

No texto “O modelo da Macrométrica e a pesquisa Datafolha”, publicado no blog https://mauricioromao.blog.br, o presente estudo é mais aprofundado e apresentado com as principais conclusões que podem ser extraídas da aplicação do modelo em apreço.

Uma delas, a propósito, ressalta que quanto maior o total de brancos e nulos no segundo turno, dadas as taxas de conversão, mais diminui a distância entre a presidente e Marina e mais a petista se afasta de Aécio.

Neste modelo, portanto, se estabelece um paradoxo: as inquietudes de junho de 2013, que ensejaram sentimentos apolíticos e antigovernos, tendo o executivo federal como alvo mais destacado, podem provocar aumentos nas taxas eleitorais de indiferença (votos em branco) e de protesto (voto nulo), beneficiado o próprio governo!

Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau.