Mais de cem mil pessoas passaram pelo velório de Eduardo Campos, segundo Polícia Militar.

Foto: Diego Nigro/JC Imagem Por Marcela Balbino, repórter do Blog O dia estava tranquilo, era uma quarta-feira de sol no Recife.

Minha maior expectativa, como repórter de política, era repercutir o desempenho do candidato à Presidência da República Eduardo Campos na entrevista ao Jornal Nacional, o mais importante do País, exibida no dia anterior. Às 10h30, toca o celular.

Meu chefe, em tom apreensivo, me pede para apurar uma matéria que torcíamos ser um grande boato.

Não era.

Confirmaríamos minutos depois.

Inevitavelmente, o choro veio à tona.

Pelos meus mortos, pelas famílias das vítimas e pela partida precoce.

Mas, em meio ao luto que se abateu sobre Pernambuco, engoli o choro para escrever na história uma despedida, pautada pelo respeito, ao homem e ao político que Eduardo e seus três assessores envolvidos no trágico acidente em Santos representaram para o Estado.

Independentemente da minha posição político-partidária, não cabia espaço para ideologias.

Foram quatro dias de muito trabalho, pouco sono e o sentimento à flor da pele.

O botão do automático estava ligado desde àquela quarta-feira 13.

Multidão que se avolumou para despedida com Eduardo.

Foto: Marcela Balbino/BlogImagem Porém, ver a fortaleza chamada Renata Campos ao lado dos filhos, fez esta repórter esmorecer.

Ouvir a história da mãe do fotógrafo Alexandre Severo dizer que irá se empenhar para tornar o menino albino Kauan um fotógrafo utilizando o legado deixado pelo filho fez o coração apertar.

O depoimento da esposa do jornalista Carlos Percol, Cecília Ramos, me desmontou.

Ao longo de pouco mais de dez meses cobrindo política, nunca imaginei que escreveria linhas como essas, pautadas por tanta tristeza.

Apesar de toda a cobertura, minuto a minuto, a ficha só caiu realmente com o cortejo rumo ao Cemitério de Santo Amaro, na área central do Recife.

Por mais que houvesse o esforço em me manter atenta, a voz calou e as lágrimas vieram.

Depois de conhecer Alexandre Severo, Kauan passou a amar tirar fotosCrédito: Luiz Pessoa/NE10 Conforme o pedido feito pelo advogado Antônio Campos, irmão do ex-governador, o povo “levou Eduardo nos braços”.

Do alto do carro dos bombeiros, o caixão do ex-governador repousava coberto por uma bandeira do Brasil.

A de Pernambuco havia ficado como lembrança para a chefe do cerimonial do Palácio, escudeira dedicada do ex-governador durante suas gestões.

Uma multidão silenciava durante a saída do cortejo.

Mas o grito de adeus estava preso na garganta. “Eduardo/ guerreiro/ do povo brasileiro”, entoavam as pessoas ao longo do trajeto.

Militantes do partido, políticos, crianças, idosos, homens e mulheres percorreram as ruas que desembocavam na necrópole.

Chuva de pétalas na passagem do caixão de Campos.

Foto: Marcela Balbino/BlogImagem Chuvas de pétalas de rosa, papel picado e bandeiras hasteadas nas janelas dos prédios marcaram a passagem do caixão.

De tão genuína, a emoção das pessoas era difícil de ser descrita.

Para quem acompanha a cobertura política, era o fim da existência de um dos políticos mais brilhantes e afiados, talvez o maior de Pernambuco.

Além da sirene do Corpo de Bombeiros, carros de som tocavam o jingle da campanha de Marina e Eduardo, relembrando músicas das antigas campanhas e o famoso frevo de Capiba, Madeira que cupim não rói.

Para algum desavisado, o clima não parecia de tristeza, mas de alegria.

E era exatamente esta lembrança que a viúva, Renata Campos, queria deixar na memória dos pernambucanos: “Força, alegria e coragem.” Renata e quatro dos cinco filhos - Maria Eduarda, João, Pedro e José.

Foto: JC Imagem.

Na entrada do cemitério, o carro dos bombeiros parou.

Era momento de dar o último adeus ao pai, ao político, ao líder do partido, ao marido, ao filho.

Neste instante, foi impossível conter a emoção, diante dos filhos de Campos, do mais velho ao mais novo, bradando o nome do pai.

Transformando o luto em luta.

A multidão clamava Renata como “vice” e Marina presidente. É o fim de um ciclo, que já começou sua nova fase.