Por Marconi Muzzio, especial para o Blog de Jamildo Secretario de Administração e Gestão de Pessoas da PCR As mortes trágicas e prematuras, muito mais fortemente que as naturais e ocorridas após ciclos de vida inteiros, trazem uma falsa sensação de que os entes queridos ainda estão entre nós; serão vistos no próximo encontro familiar, religioso, de trabalho ou de lazer; entrarão em casa brevemente com a mesma vivacidade de sempre; ligarão a qualquer momento.
Enfim, que estão “por aí” e circunstâncias cotidianas não permitem, temporariamente, o contato.
Aos poucos, vamos percebendo e aceitando.
Isso jamais voltará a acontecer, ao menos nessa dimensão.
Para mim não foi o mês de agosto, mas, infelizmente, o ano de 2014.
Primeiro meu primo-irmão Flávio Ramalho, 45 anos, esposa e três filhas lindas, foi vitimado tragicamente no domingo de Páscoa - o pior de minha vida, diga-se de passagem - por um inusitado atropelamento, em um acostamento, após ter descido do carro para urinar.
Era uma pessoa extraordinária, “abençoado por Deus e bonito por natureza”, como dizia o poeta.
Que tragédia familar!
Depois meu amigo e colega de trabalho Ricardo Maia, com quem fiz umas das minhas primeiras viagens de trabalho no Tribunal de Contas do Estado (TCE), nos idos de 1995.
Uma figura emblemática, carismática e, sobretudo, excêntrica, que tinha a necessidade de chamar a atenção por onde passava e, quando era relativamente repreendido por mim, quase vinte anos mais novo, retrucava: “qual o problema?” e ria.
No início deste mês foi encontrado morto em casa por conta de uma embolia pulmonar.
Partiu aos 59 anos, deixando três filhos já criados e adultos, além do pequeno Matheus, fruto do seu segundo casamento.
Agora, a tragédia que vitima Eduardo Campos e mais seis pessoas, todos engajados em um propósito de construir um Brasil mais justo e solidário, imperativo republicano previsto no artigo 3º da nossa Constituição Federal, como bem me ensinou o querido amigo e atual presidente do TCE, Valdecir Pascoal.
Entre eles, meu amigo, ex-colega de secretariado e parceiro das peladas da prefeitura, Carlos Percol.
Com sobrenome derivado de um apelido de colégio por conta da marca da calça jeans usada nessa época, era nosso “craque brahma”.
Jovem, 36 anos, recém-casado com a colega de profissão Cecília Ramos, estava tão entusiasmado quanto o chefe em poder colaborar com esse projeto de melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro, sobretudo daqueles mais desassistidos, como aconteceu aqui em nosso estado.
Não morre apenas um candidato a presidente ou um ex-governador, vai-se a esperança de um povo sofrido de ter no comando da nação um político competente, obstinado e abnegado, que mudou a realidade de um estado pobre do Nordeste, alinhando esses ingredientes a uma gestão moderna, profissional e eficiente, pautada pelo compromisso com os resultados, as famosas “entregas”, sempre em benefício da população.
Por conta disso, eu e outros colegas do TCE tivemos a feliz oportunidade de ser convidados a fazer parte do seu governo, de colaborar com a profissionalização do serviço público e com a construção desse premiado modelo de gestão.
Além de todos os ensinamentos e exemplos que esse grande homem público nos legou, terei uma grande lição de vida em particular, impossível de ser esquecida e de não ser incorporada à minha trajetória profissional.
Numa das reuniões de monitoramento, fui explicar que envidaríamos todos os esforços para a entrega de uma obra pela secretaria de turismo no prazo acordado, mas não seria fácil o feito.
Ele pronta e firmemente me interpela com aqueles grandes olhos azuis esverdeados que tudo veem e diz: “não tem nada fácil aqui não, companheiro, é para ser difícil mesmo, se fosse fácil não estaríamos aqui”.
Deixou também uma nobre missão aos que ficam, expressada e sintetizada numa pequena frase: “Não vamos desistir do Brasil!”.