Por Manuela Modesto, especial para o Blog de Jamildo Aquela quarta-feira, 13/08/14, amanheceu cinzenta e chuvosa na capital paulista, o dia estava triste, como que prevendo a tragédia que estaria por vir.

Eu acordei desanimada, preparei-me sem entusiasmo para as atividades diárias, separei, burocraticamente, alguns exames que teria que apresentar a médica e parti para meu dever matinal.

Encontrei a médica, forjei um sorriso e me esforcei para parecer motivada com o futuro que se apresentava, mas algo não estava bem, eu julgava que poderia ser o mau tempo, afinal, como uma típica pernambucana, não gostava de dias nublados.

Retornei ao hotel e, para minha surpresa, encontrei minha mãe vidrada na televisão e chorando, quando, finalmente, acompanhei o noticiário, fiquei incrédula com o que via e ouvia e, imediatamente, descobri o motivo do meu mal estar: tínhamos perdido tragicamente Eduardo Campos.

Uma lágrima escorreu de meu olho esquerdo, enxuguei o rosto, baixei a cabeça e como milhões de brasileiros passei horas em frente a televisão e ao computador acompanhando cada noticia, cada nova informação, buscando uma explicação para o inexplicável.

Não conseguia entender…

Afinal, não era justo com o jovem e cheio de sonhos Eduardo, como também não era justo com sua bela família, não era justo com o Brasil em meio a escassez de lideres, em meio a carência de políticos confiáveis, em meio a avidez por reforma ética e por bons exemplos, que se perdesse um grande líder e uma das grandes esperanças para o País.

O Brasil precisava de Eduardo…

Lembrei imediatamente de outra tragédia que aconteceu há 4 anos e que vitimou o Cristiano, filho da dona Griselide e pai de 2 filhos, também no auge da sua missão, o mesmo acidente me deixou paraplégica e me afastou de um grande sonho: participar da construção da ferrovia Transnordestina.

Daquela grande tragédia, que se abateu repentinamente na minha vida, surgiu um novo sonho, o de construir um Centro de Reabilitação para pessoas adultas com deficiência em Pernambuco, que naquele momento (abril de 2010) não existia, apesar de o estado ter a quinta maior taxa de pessoas com deficiência do País.

O que pouca gente sabe é que foi um encontro ocasional em cerimonia de inauguração de uma fábrica em Paulista, sem dúvida agendado por Deus, que fez com que eu conseguisse expor ao então Governador de Pernambuco o Projeto Novos Horizontes, que acabou por criar o primeiro Centro de Reabilitação para adultos em Pernambuco, através de um convênio com o Governo de Pernambuco e o IMIP e que hoje atende mensalmente a mais de 500 pessoas com deficiência em Recife.

Eu, como todos que conheceram Eduardo, fiquei encantada com seu carisma, com sua atenção, ele escutou a minha explanação sobre o projeto, deu-me seu e-mail e telefone para que eu pudesse mandar o material exposto e articulou um encontro meu com seu secretario de saúde, que oficializou o convênio.

Ao final da minha entrevista com o Governador eu estava muito grata por ele ter me escutado e compreendido as necessidades das Pessoas com Deficiência, sentimento ao qual ele prontamente me surpreendeu com sua humildade ao revelar que estava, simplesmente, exercendo a sua função, que ele era um funcionário do povo e que tinha a obrigação de escutar as necessidades de sua gente.

Nunca irei esquecer aquelas palavras…

O fato é que Eduardo nunca usou politicamente do feito de ser o grande responsável por existir o Centro de Reabilitação para Pessoas com Deficiência do IMIP, ele simplesmente o fez porque percebeu que era necessário para Pernambuco, porque queria criar uma sociedade mais justa.

Eu, pessoalmente, serei sempre grata a Eduardo, não só porque sou uma das usuárias do Centro, mas porque vejo inúmeras pessoas que não teriam nenhuma outra alternativa se não existisse aquele centro em Pernambuco, como também porque acompanhei a superação de tantos amigos com deficiência, como a minha, que consegui, para a surpresa dos médicos, engatinhar, após 4 anos de lesão.

Agora a minha esperança será iniciar a dar os primeiros passos sem apoio de instrumentos de sustentação e esse primeiro passo será dedicado a Eduardo, que foi o responsável pela construção do sonho do Centro de Reabilitação e consolidação dessa esperança.

Aliás, assim era Eduardo um homem apaixonado pelas boas causas, motivado pelas necessidades de seu povo, que sonhava em contribuir na construção de um pais com mais justiça social e que representava a nossa esperança de um Brasil melhor.

Por fim, utilizo as palavras do próprio Eduardo Campos para encerrar esse artigo: " Não vamos desistir do Brasil. É aqui onde nós vamos criar nossos filhos, é aqui onde nós temos que criar uma sociedade mais justa".