O ex-secretário de Educação de Eduardo Campos, Anderson Gomes, mesmo diante da tragédia, produziu um artigo sobre Eduardo, Educação e Ensino Integral. “Uma espécie de homenagem sobre parte do meu tempo com ele, no qual aprendi muito”.

Professor da UFPE, Gomes esteve na última terça-feira dia 5 de agosto na apresentação que Eduardo Campos fez para a Academia Brasileira de Ciências no Rio de Janeiro. “Foi a última vez que o vi e falei com ele. 8 dias depois, ele nos deixa”.

Veja abaixo.

Por Anderson Gomes, especial para o Blog de Jamildo Perda irreparável.

Para a família, amigos, correligionários e para o País.

A repercussão global demonstrou claramente o impacto desta inesperada e trágica despedida.

Mas algumas das idéias do ex-Governador do nosso estado e ex-Ministro de C&T do Brasil, particularmente na tão debilitada educação básica, foram claramente expostas ao País nos últimos meses.

Idéias que ele introduziu ou ampliou no ensino médio no estado de Pernambuco desde 2007, com grande sucesso.

Uma delas, claramente colocada para a população brasileira nos últimos dias, é a ampliação do ensino integral, inclusive antecipando em 06 anos a meta prevista no atual Plano Nacional de Educação.

Quando participei de seu governo à frente da Secretaria de Educação em 2011 e 2012, Pernambuco já contava com 173 escolas de ensino médio com ensino integral ou semi-integral.

Agora tem cerca de 300.

Não trata-se somente de escolas nas quais os estudantes passam o dia.

Eles tem o que fazer além do número excessivo de disciplinas do currículo.

Programas de robótica educacional, inglês intensivo – associado ao exitoso Programa Ganhe o Mundo, que permite que cerca de 25 000 alunos por ano aprendam inglês ou espanhol, e que cerca de 1000 destes estudantes por ano, desde 2012, tenham a oportunidade de realizar intercâmbio com países de língua inglesa e espanhola.

Outro programa, chamado aluno conectado, concede a todos os cerca de 170mil estudantes do segundo e terceiro anos do ensino médio um laptop conversível em tablet, permitindo aos estudantes utilizarem tecnologias digitais como ferramentas educacionais.

Mais importante, no ensino integral e em tempo integral é a possibilidade dos professores interagirem com os estudantes durante todo o período escolar das 7:30 às 17h, ao tempo em que os estudantes tem os professores à disposição durante o mesmo período.

Também a interação entre os estudantes fica facilitada.

Os professores tem uma melhor qualidade de vida ao ficarem durante todo o dia em uma única escola, para isto tendo um salário diferenciado.

O resultado tangível aparece no IDEPE e IDEB.

Os alunos das escolas de tempo integral atingem indicadores mais de 50% acima daqueles que ainda estão em escolas consideradas “regulares”, pois nestas os alunos ficam apenas cerca de 4 horas por dia.

Imagine agora a implantação deste processo em todo o País!

Naturalmente os resultados não são imediatos, mas para cada grupo que passa os 03 anos do ensino médio em tempo integral, tudo muda.

Em quatro anos teríamos todo o País com esta modalidade de ensino, significando que em cerca de 06 anos os resultados começariam a aparecer.

Sem isso, os resultados NUNCA aparecerão.

Se tem alguma prioridade para a educação básica, é o ensino em tempo integral, e Eduardo tinha a mais clara consciência disso, e por esta razão anunciava a todo o País.

Recursos?

Existem, é que questão de prioridade.

Quando os colegas secretários de outros estados me perguntavam onde o estado conseguia recursos para fazer os programas – transformados em Lei – no estado, era simples: decisão política, prioridade para educaçãoo, planejamento, metas definidas e acompanhamento.

Aqueles dois anos, mais o ano de 2010 à frente da Secretaria de Ciência e Tecnologia muito acrescentaram ao meu aprendizado de vida, tendo à frente Eduardo Campos como exemplo de dedicação e ousadia.

Eduardo, não vamos desistir da Educação e não vamos desistir do Brasil.

Anderson Gomes foi Secretário de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente em 2010 e Secretário de Educação em 2011-2012. É Professor do Departamento de Física da UFPE