Uma nova crise de comunicação ronda o comitê da campanha petista.
Insatisfeita com o “piloto” de seus programas de TV, a presidente Dilma Rousseff mandou o marqueteiro João Santana mudar, na última hora, a estratégia para a propaganda do horário eleitoral gratuito, que começa na próxima terça-feira.
As divergências ocorreram porque Dilma soube que, pelo cronograma fixado para os quatro primeiros programas, ela não iria pessoalmente às obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, no Pará, nem da Ferrovia Norte-Sul, ambas atrasadas.
A equipe de Santana já havia feito gravações de cenários em Belo Monte, mas sem Dilma, que depois visitou a obra.
O plano inicial era mostrar a candidata do PT à reeleição falando sobre “avanços” sociais nas áreas de saúde (Mais Médicos) e educação (Pronatec, ProUni) “in loco”, sempre tendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como garoto-propaganda do governo.
Nos primeiros programas, no entanto, a presidente discorreria sobre as obras de infraestrutura dentro de um gabinete, com fundo verde - as imagens externas seriam adicionadas na edição no lugar da cor verde, com a técnica chamada chroma Key.
O modelo “favela cenográfica”, utilizado sem sucesso pelo então candidato tucano José Serra ao Planalto em 2010, foi rejeitado pela presidente.
Desde que mandou Santana mudar tudo, há cerca de duas semanas, ela já visitou três canteiros de obras, onde gravou cenas para o programa de TV.
A ideia sempre foi a de “vender” a imagem de Dilma como gerente de grandes obras, mas ela não gostou do que viu e mandou Santana refazer o roteiro.
Disse que não poderia discorrer sobre os avanços da área de infraestrutura sem estar no local e deixou produtores de vídeo à beira de um ataque de nervos.
Motivo: a mudança atrasou o cronograma de gravações acertado para o começo do horário eleitoral.
Por causa da explosão da presidente, a estratégia foi alterada e a equipe - que antes gravava três vezes por semana - agora tem feito filmes diários, para acertar o ritmo de trabalho.
A partir de terça-feira, Dilma terá 11 minutos e 24 segundos na propaganda do rádio e da TV para expor suas propostas, um tempo bem maior do que os de seus adversários Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).
A tensão no comitê de Dilma registrou um primeiro abalo no mês passado, quando uma desavença entre Santana e o jornalista Franklin Martins - também integrante do comitê da reeleição - agitou a campanha.
Ex-ministro da Comunicação do governo Lula, Martins é adepto de um estilo de disputa política agressivo, na linha “bateu, levou”.
Diferentemente, João Santana tem preferência por uma estratégia mais “light”, que mostra a presidente como “rainha”, que não entra no “jogo rasteiro”.