Derrota para a Holanda mostrou que não foi só um apagão.
Na imagem, técnico holandês, Louis van Gaal, abraça Felipão (Foto: AFP) Por Fernando Castilho do JC Negócios, especial para o Blog de Jamildo Se a Copa do Mundo fosse uma reunião dos sete países mais desenvolvidos do futebol, o Brasil estaria no grupo do BRICs.
Explico melhor: se o campeonato mundial fosse um encontro entre os países que mais tem ativos e riqueza desportiva, o Brasil não estaria no grupo da França, Itália, Espanha, Holanda, Inglaterra e Alemanha.
Mas, no do resto.
E aí a gente pode colocar quem a gente quiser independentemente dos demais que formam os BRICs verdadeiro (Rússia, China, Índia e África do Sul) e não figuram num bloco de países com interesses comuns, mas um simples acrônimo que o economista Jim O’Neill criou em 2001 e virou uma marca internacional, mas que nunca se afirmou porque não tem identidade nem interesses comuns. É, como se sabe, um ajuntamento de novos ricos que não sabem como se organizar para ter mais força política global.
Mas, isso é papo de economia.
Do que se trata aqui é dos 10 gols que levamos em menos de cinco dias, exatamente para dois dos países que fariam parte do G7 do futebol.
A exclusão do G7 da bola tem a ver com organização e gestão do futebol e ai a derrota para a Holanda tem um certo sentido terapêutico.
Vai nos ajudar a excluir do debate aquela leseira do Felipão de que foi apenas um apagão.
Não foi.
E a derrota para a Holanda mostrou isso.
O time em campo foi o reflexo do que acontece hoje com o futebol brasileiro.
Aquela coisa que todo mundo está falando de ainda estarmos no século XX em termos de gestão de futebol.
Aquele tempo em que aprender fundamento em treino era coisa de time de rico e que todo jogador de várzea desdenhava quando técnico vinha falar.
O que vimos em campo nos jogos contra a Alemanha e a Holanda é o reflexo desse modelo de administração superado.
Quer um exemplo: olhemos quem dirige os nossos grandes clubes?
Olhemos quem são os nossos técnicos?
E acrescentemos ai a espetacular rotatividade deles nos campeonatos brasileiros das séries A e B.
E o presidente da CBF e a constelação de dirigentes estaduais?
Não dá para levar à sério um técnico que ainda fala de família, de guerreiros e que tem uma auxiliar como o Murtosa.
Gente, o que faz na seleção o Flávio Cunha Teixeira, mais conhecido como Murtosa?
Bigodes à parte, é isso o que preocupa.
A gente olha para um lado, para o outro e não vê saída.
Durante as próximas semanas vai haver uma tempestade de gente falando de mudança, de reestruturação, necessidade de formação de categorias de base e tudo mais.
Mas, as chances de se mudar algo são próximas de zero.
Porque como em todos os países dos BRICs, no futebol a gente está no chamado “Release” 1 enquanto os outros países já estão no “Release” 6, 7 e 8. É como na engenharia e na tecnologia.
Ou seja: os países do G7 fizeram as primeiras versões e foram reescrevendo e aperfeiçoando os métodos e modelos.
E chegaram a isso que vimos nesta Copa no Brasil.
Então, não devemos nos enganar.
Como esse formato, esse modelo e com esses dirigentes não temos condições de mudar o modelo ou mudar de “Release”.
E vamos continuar como estamos.
Semana que vem o Felipão sai, a CBF vai escolher um outro e ainda este ano vamos jogar contra mais seis ou sete seleções em jogos internacionais já contratados.
E assim a gente vai continuar no grupo dos BRICs do futebol.
Correndo o risco de que a China invente de escrever um modelo para em breve entrar no G7 do futebol.
Porque eles estão virando um país que já não está mais querendo apenas copiar modelos, mas, registrar suas patentes.
Resumindo: ou a gente mudar e reescreve o nosso modelo de futebol ou vai ficar lembrando do tempo em que bastava ter uma estrela para ser campeão do mundo.
Uma coisa tão velha que hoje cheira a mofo.
Como a gente sente quando olha para o presidente da CBF, José Maria Marin.
Dá para a gente sentir outro odor na CBF que não seja o de mofo?