Foto: AFP Por Fernando Castilho, do JC Negócios, especial para o Blog de Jamildo Um 7 x 1 (com o perdão do trocadilho fonético relacionado ao Código Penal Brasileiro) não se perdoa.
Se condena.
Por isso não é justo explicar a derrota do Brasil contra a Alemanha no Mineirão apenas com um apagão emocional que nos fez levar quatro gols em menos de sete minutos.
Na política, na natureza, na técnica e no futebol nada acontece por acaso.
Não funciona assim.
O 7 x1 é consequência de um pacote de erros que começou lá trás quando ao construirmos os estádios não reorganizamos a estrutura do nosso futebol como, aliás, fizeram os alemães depois de 2006.
O 7x1, que marcará todos os meninos e meninas que nasceram ontem para o resto de suas vidas, tem a ver com a palavra obsolescência.
Vai do modelo de gestão da CBF (O presidente da instituição é José Maria Marin, gente!), ao técnico Felipe Scolari (que para os novos na profissão está defasado pelo menos em quatro anos) passando pelo modelo de negócio do nosso futebol, organização dos clubes e até o formato de financiamento dos nossos modernos estádios.
Para entender porque a Alemanha joga do jeito que joga, é preciso recorrer à História.
Não a da potência industrial do técnico Joachim Low e, muito menos, a do período nazista.
Tomemos um espaço menor e marquemos 2006.
Foi depois da derrota para a Itália que eles fizeram aquilo que sempre fizeram (ai sim, recorramos à história dos séculos XX e XXI), estudaram o modelo, identificaram os defeitos, reescreveram o caderno técnico e produziram uma série de protótipos até chegar a uma solução avançada.
Dito de outra forma: revisaram o seu modelo de gestão do futebol, sanearam os seus clubes, estruturam um campeonato economicamente viável, montaram milhares de escolas de futebol pelo país e mantiveram jogando no campeonato nacional 56% de seus atletas, hoje na seleção nacional.
Ganharam como se viu quase todos os títulos da Europa, refletindo no futebol o que são na economia.
E nós?
Nós entramos na festa da Copa antes dos estádios ficarem prontos.
Resgatamos o Felipão e sua equipe que continua a ver o futebol no mesmo modelo que via quando fomos pentacampeões e achamos que, com o talento de Neymar Jr., e mais o apoio da torcida, ganharíamos o hexa com um pé nas costas.
Com o perdão do trocadilho infame perdemos o Neymar Jr. não com um pé, mas, com uma joelhada nas costas o que desestruturou o time que desde o primeiro jogo vinha mal.
Ou enganando os mais crédulos e otimistas.
E não treinamos. É impressionante como não treinamos.
Mas, é injusto afirmar que o time é curto.
Que só tem esses onze aí e que por terem saído dois, com a expulsão do capital Thiago Silva, entramos com o nove.
Não é só isso.
O time é curto, mas a perspectiva da comissão técnica é curta.
O modelo de gestão é obsoleto.
E, quando isso inclui um sistema de trabalho que não testa novas soluções, dá nisso.
E os alemães?
Os alemães vieram com seus canhões.
Ou melhor com um time que joga junto há muito tempo, tem experiência em Copa do Mundo e que chegou antes para se aclimatar na Bahia.
Marketing, planejamento estratégico, capacidade de gerenciamento e seriedade.
Mas, qual a lição?
Agora é fácil prescrever mudanças. É normal na indignação da derrota imaginar soluções radicais.
Não funciona assim. É preciso prantear os mortos.
Sepultar o corpo e guardar o luto.
E depois revisar todo o processo, revisitar os processos e identificar os erros.
Há pouca chance de isso acontecer com essa CBF que está ai.
Não temos a tradição de rever processos e mergulhar em revisões estruturais.
Vamos fazer o que sempre fizemos.
Demitir a comissão técnica, escolher um novo técnico e mudar parte do time na nova convocação.
A ferida é grande, mas cura.
Ficará na lembrança, mas a gente logo vai ter um surto de Alzheimer (que era Alemão) e esquecer.
Na esperança de que o antigo futebol de talentos resolva nossa angústia de mais uma conquista de Copa do Mundo.
E daqui há quatro anos vamos voltar a sonhar, certamente, com parte desses meninos com mais experiência e a lição de que entre o sonho e a realidade tem um tempo acordado que, às vezes, serve para um aprendizado.